“Não consigo mais dormir”, diz voluntário que ajuda em Brumadinho
Warlem Luiz Pinto ajuda as equipes de resgate e tem a difícil função de transportar as vítimas da tragédia
atualizado
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Com macacões brancos, galochas e máscaras, homens e mulheres aguardam, embaixo da sombra de uma árvore, a chegada de mais um corpo em Brumadinho. De forma coordenada, o grupo de voluntários se aproxima da rede deixada pelo helicóptero, pega a maca e leva mais uma vítima para as tendas improvisadas no quintal da pequena igreja Nossa Senhora das Dores. Um rabecão fica de prontidão e só parte para Belo Horizonte com a lotação máxima de quatro corpos.
O árbitro de futebol Warlem Luiz Pinto, 38 anos, é um dos moradores que têm a difícil função de transportar as vítimas do helicóptero até a área onde é feita a perícia. Ele conta que apenas nessa terça-feira (29/1) carregou 26 corpos. Desses, ele reconheceu seis. “A cidade é pequena. Por ser árbitro, conhecia muitas pessoas que se reuniam para jogar. Hoje [quarta-feira] resolvi ajudar na cozinha porque é muito difícil ver tantos amigos assim”, explicou. Até o começo da tarde desta quarta-feira (30/1), cerca de 10 corpos foram removidos.
“Eu não consigo mais dormir. O que vemos aqui é forte. Fragmentos de corpos, pessoas que estão com o rosto irreconhecível. Mas sinto que em meio a essa tragédia posso, de alguma forma, ajudar a dar algum consolo para essas famílias. A nossa cidade se despedaçou”, emocionou-se ao falar com a reportagem.
Despedida
O funcionário da Vale Reinaldo Fernando Guimarães foi enterrado na tarde desta quarta-feira (30/1) no cemitério da região do Córrego do Feijão. Ele morava com a mulher, a filha e a mãe na rua do cemitério onde foi sepultado. Os amigos descrevem Reinaldo como uma pessoa alegre e muito religiosa.
“Foi um susto para todo mundo. Na sexta-feira (25/1), ele enviou uma mensagem para a mulher pedindo desculpas e dizendo que não ia conseguir almoçar em casa. Os amigos teriam pedido para comer com ele no refeitório da empresa. Prometeu para a família que voltaria mais cedo para casa. Hoje, recebemos o corpo”, lamentou o pastor Jorge Adalberto, amigo de Reinaldo.
Como o cemitério está localizado próximo ao centro de resgate, os bombeiros suspenderam os trabalhos até o encerramento do enterro.