“Não autorizei”, diz prefeito sobre secretário imunizado em cidade de GO
Valdemar Costa, de Nova Veneza, afirma que aparece comemorando em vídeo divulgado pelo Metrópoles porque foi “acompanhar ato simbólico”
atualizado
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Goiânia – O prefeito de Nova Veneza, a 33 quilômetros de Goiânia, Valdemar Costa (DEM), de 58 anos, negou nesta segunda-feira (8/2) ter autorizado o secretário municipal de Saúde, Deijar José do Carmo, de 59, a tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19, mesmo sem estar no grupo de risco – apesar de o gestor aparecer em vídeo aplaudindo a situação revelada pelo Metrópoles.
“Não autorizei o secretário a tomar vacina. Não autorizei ninguém [fora do grupo de risco]”, afirmou ao portal, ressaltando que nem ele nem seu pai, um idoso de 81 anos, foram vacinados. No município, mil idosos, a partir de 60 anos, aguardam na fila da vacina – 264 deles têm mais de 80 anos –, diz a Vigilância Epidemiológica municipal.
O prefeito mudou o tom depois de o portal questionar se o governador Ronaldo Caiado (DEM), ambos do mesmo partido, estaria errado ao cobrar no domingo (7/2) bom senso, dizendo que furar fila é crime e deve ser denunciado à Polícia Civil e ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO).
“Ato simbólico”
“A minha autorização foi para fazer o que a lei manda”, ressaltou Costa, tentando amenizar a comemoração pela vacina do secretário. “Fui acompanhar um ato simbólico ali por causa do sucesso da vacinação nossa. Qualquer pessoa que estivesse ali é porque a coordenação [de Vigilância Epidemiológica] autorizou”, alegou.
De acordo com o prefeito, o próprio secretário de Saúde e a coordenadora municipal de Vigilância Epidemiológica, enfermeira Cássia Leão Ramos, são responsáveis por terem autorizado a vacinação dele. “Nunca li nem olhei também [sobre grupos prioritários]. Tenho auxiliares para saber o que deve ser feito”, disse.
O prefeito amenizou, novamente, ao ser questionado sobre a opinião dele sobre Deijar ter furado a fila. “Apesar de eu achar que o secretário tem direito de vacinar, a autorização partiu dele e da enfermeira Cássia, que é a chefe da vacinação. Está registrado no MP. Se fizerem algo errado, vão pagar”, afirmou.
Por telefone, a enfermeira foi questionada novamente nesta segunda-feira, mas se negou a dar explicações. “Não vou falar mais nada”, disse. A reportagem também ligou para o secretário municipal de Saúde, mas ele não atendeu as ligações.
‘Secretário fiscal’
Na sexta-feira (5/2), Cássia disse que o secretário de Saúde está atuando com grupos de fiscalização nos comércios, “fazendo orientação em relação ao aumento de casos da Covid-19 na cidade”.
“Foi por esse motivo que ele foi vacinado”, afirmou a enfermeira, sem esconder sinais de que Deijar continuava próximo a ela enquanto concedia entrevista. Fiscais da Vigilância Sanitária municipal rebateram a informação e disseram que “essa fala da coordenadora é apenas desculpa para o caso passar batido”.
A coordenadora atribuiu o caso de fura-fila a “muitas dúvidas” sobre como vacinar a população, apesar de os planos nacional e estadual de imunização terem definido os grupos prioritários. “A gente fica de pés e mãos atadas”, disse. “A gente fez [a vacina no secretário] com a maior segurança, sabendo que seria questionada”, acrescentou.
A promotora de Justiça Elaini Cristina Alves Pires pediu explicações para o secretário de Saúde pela informação de ele ter furado a fila. Deijar ainda não havia respondido ao MPGO até sexta-feira. Em nove estados, ao menos 20 autoridades são investigadas por furar a fila da vacinação.
Reação do governador
Em Goiás, o governador se manifestou primeiro contra casos de fura-filas envolvendo o prefeito de Iporá, a 226 quilômetros de Goiânia, Naçoitan Araújo Leite (PSDB), investigado pelo Ministério Público em um inquérito que apura suposto esquema de desvio de vacinas contra a Covid-19 no município.
Segundo denúncias de moradores, ao menos três familiares do tucano, adversário político de Caiado, teriam furado a fila de vacina sem que os nomes deles constassem de lista oficial inicialmente divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no Portal da Transparência. Ele nega as suspeitas.
No total, 15 municípios goianos são alvo de investigação em andamento do MPGO por supostos fura-filas ou outras irregularidades na vacinação.
