“Nada garante que temos hoje uma Petrobras limpa”, diz procurador
Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou também que a força-tarefa da Operação Lava Jato tem convicção de que há corrupção na estatal
atualizado
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O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse nesta quinta-feira (4/5) que a força-tarefa da Operação Lava Jato trabalha com a convicção que ainda há corrupção e desvios na Petrobras. Pela manhã, a Polícia Federal prendeu três ex-gerentes da área de Gás e Energia da estatal, suspeitos de receberem de mais de R$ 100 milhões em propinas de empreiteiras que eram contratadas pela estatal.
“Fica claro que há muito trabalho ainda a ser feito na própria Petrobras”, disse o procurador em meio à entrevista em Curitiba sobre a fase 40 da Lava Jato, que prendeu ex-gerentes da estatal petrolífera. “Nada garante que nós tenhamos hoje, realmente, uma empresa limpa de toda a corrupção do seu passado”, afirmou Carlos Lima.
A Lava Jato 40, deflagrada nesta quinta, mira contratos e propinas no âmbito de outra área, a Diretoria de Gás e Energia. Os investigadores constataram que os pagamentos de propinas a ex-gerentes da Diretoria de Gás se estenderam até 2016 — ou seja, até dois anos depois do estouro da Lava Jato.
Carlos Lima revelou perplexidade com o que chamou de ‘ousadia dos criminosos’, ao observar que ‘essa conduta criminosa’ se prolongou até o ano passado. “Além da ambição de manter patrimônio a salvo usaram a legislação da repatriação para lavar dinheiro.”
“Mesmo hoje, trabalhando em cima de casos com ex-gerentes, certamente ainda vamos descobrir muitas pessoas na ativa (na estrutura da Petrobrás) que também tiveram participação em fatos criminosos”, destacou o procurador.
Asfixia
A 40ª fase da Lava Jato investiga os crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, em mais de uma dezena de licitações de grande porte da Petrobras, que foram fraudadas pelo grupo criminoso.
De acordo com as investigações, mediante o pagamento de vantagem indevida, os ex-gerentes da pasta agiam para beneficiar empreiteiras em contratos com a Petrobras, direcionando as licitações para as empresas que integravam o esquema.
Os pagamentos eram intermediados por duas empresas de fachada que simulavam prestação de serviços de consultoria com as empreiteiras e repassavam as vantagens indevidas para os agentes públicos corruptos por três formas: pagamentos em espécie; transferências para contas na Suíça; e pagamento de despesas pessoais dos ex-gerentes.
As apurações se basearam em provas obtidas por meio de quebras de sigilo telemático, bancário e fiscal dos envolvidos, como também pelos depoimentos de outros ex-gerentes da Petrobras e empreiteiros que firmaram colaboração premiada com o Ministério Público Federal. Os criminosos colaboradores relataram ainda que os pagamentos de propina prosseguiram até junho de 2016, mesmo após a deflagração da Operação Lava Jato e a saída dos empregados de seus cargos na Petrobras.
A reportagem procurou a Petrobras, mas não houve resposta. O espaço está aberto para manifestação.