Na Venezuela, brasileiros reclamam de falta de apoio do Itamaraty
Ao menos 46 pessoas tentam voltar ao Brasil há quase um mês. Governo brasileiro dá informações desencontradas sobre a repatriação deles
atualizado
Compartilhar notícia
Ao menos 46 brasileiros estão na Venezuela e tentam voltar ao país durante a pandemia do novo coronavírus. Com as fronteiras aéreas e terrestres fechadas, procuraram o Ministério das Relações Exteriores para auxiliar no processo de repatriação. Mas, ao Metrópoles, denunciaram informações desencontradas do governo sobre o apoio aos cidadãos no território venezuelano.
O analista de sistemas Thawler Andrade dos Santos, de 31 anos, conta que a primeira vez que procurou a embaixada brasileira em Caracas foi no último 15 de março. O consulado fechou as portas 12 dias depois e, desde então, segue sem respostas sobre como voltará ao Brasil.
Santos contou à reportagem que chegou à capital venezuelana em 8 de março para passar férias e visitar a família que o abrigou em um intercâmbio voluntário, em 2015. Diante das notícias sobre a crise do Covid-19, procurou, sete dias depois de sua chegada, a representação do governo brasileiro na cidade. Entretanto, não recebeu qualquer instrução ou data de previsão para a decolagem.
O voo de volta estava marcado para 3 de abril, mas foi cancelado. Ele deveria voltar ao trabalho na última segunda-feira (06/04), mas ainda não conseguiu. Com medo de perder o emprego, resolveu ir às redes sociais do Itamaraty para pedir ajuda.
“Já era para eu estar trabalhando. Aqui não dá nem para fazer trabalho remoto, porque a conexão não é segura o suficiente. Fico com medo de ficar desempregado, sei que deveria estar lá, mas até agora não consegui”, desabafa. Santos é morador de Ponte Nova, em Minas Gerais, e passa a quarentena ainda na casa da família venezuelana que foi visitar.
Segundo o analista de sistemas, quando a embaixada fechou, o Itamaraty pediu que ele procurasse a Divisão de Assistência Consular (DAC). Mas, em todos os contatos, ou foi respondido por uma mensagem automática ou com um pedido para preencher um formulário. “Eu já tinha respondido esse formulário ainda em março. Não dão mais nenhuma informação”, queixa-se.
Nas redes sociais
Santos decidiu questionar o Itamaraty no perfil oficial do Instagram. Como resposta, a equipe do governo afirmou que chegou a oferecer “alternativas de trânsito terrestre” para sete brasileiros retidos na Venezuela, mas que não haviam sido aceitas.
“O Itamaraty tem conhecimento de sete brasileiros retidos na Venezuela neste momento. Tendo em vista as medidas de isolamento decretadas naquele país o Itamaraty ofereceu alternativas de trânsito terrestre para esses nacionais, que não foram aceitas. Até o momento, caso não esteja nesse grupo, solicitamos que entre em contato com o grupo de crise”, respondeu o ministério.
“Ofereceu para quem? Posta o print ou contato realizado porque ninguém me ofereceu nada. Muito pelo contrário, perguntei se teria ajuda para ir à fronteira e responderam que não era para eu ‘desrespeitar as restrições impostas pelo governo venezuelano'”, rebateu Santos.
Informações desencontradas
Em uma conversa privada que a reportagem teve acesso, o Itamaraty reconheceu que há 46 brasileiros em território venezuelano e que estudava “a possibilidade de cooperação consular com outros países”. Os esclarecimentos foram dados na última quarta-feira (08/04).
“O Itamaraty buscou alternativas de transporte terrestre e aéreo para sete senhoras que se encontram em Valência, após a realização de procedimento cirúrgicos. Entretanto, com o fechamento do consulado brasileiro na Venezuela, essa negociação não prosperou”, completou.
Procurado pelo Metrópoles, o Itamaraty afirmou que só foi informado da presença de nove brasileiros não residentes na Venezuela e que aqueles que não tivessem informado de sua situação, ainda poderiam fazê-lo por meio do Grupo Especial de Crise para assuntos consulares e migratórios (G-CON).
A reportagem questionou os números desencontrados de brasileiros na Venezuela — se são 46 brasileiros, como informado pelo próprio ministério na quarta-feira, ou se são apenas nove. Veja a íntegra da resposta do Itamaraty:
“Desde o início da crise, o esforço do Itamaraty tem sido o de viabilizar o retorno de nacionais residentes no Brasil que se viram retidos no exterior, em decorrência de cancelamento de voos ou medidas de limitação de movimentação terrestre.
O levantamento inicial se concentrou nesses brasileiros, sem considerar pessoas com residência permanente no exterior. Com o transcorrer do tempo, e o aprofundamento da crise econômica em alguns países, estamos considerando pedidos de brasileiros, em situação de séria carência financeira, que pedem auxílio para retornar ao Brasil, embora não mais residam no país.
No caso da Venezuela, confirmamos serem 9 os brasileiros não residentes que lá se encontram. Há outros brasileiros, residentes permanentes no país, que procuraram o grupo especial de crise para inquirir sobre formas de auxílio governamental. Até o momento sabemos de 32 nacionais nessa categoria, cujas condições estão sendo estudadas para verificarmos que tipo de auxílio consular pode ser prestado.”