Na gestão de Bendine, BB concedeu empréstimo polêmico a Val Marchiori
O banco emprestou R$ 2,7 milhões à empresária, que é amiga do ex-presidente da instituição. Ele foi preso nesta quinta (27/7) pela Lava Jato
atualizado
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Preso nesta quinta-feira (27/7) pela Operação Cobra — 42ª fase da Lava Jato —, o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine esteve envolvido em controverso empréstimo do Banco do Brasil, aprovado em sua gestão, à socialite Val Marchiori. A instituição concedeu R$ 2,7 milhões à empresária em outubro de 2014. Marchiori é amiga de Bendine. À época, o banco informou não haver ilegalidade na operação.
A socialite desejou boa sorte ao amigo quando ele assumiu a presidência da Petrobras, em fevereiro de 2015, e pediu que ele acabasse com corrupção na estatal. No mesmo mês, rumores deram conta da saída do ex-dirigente do cargo. O ministro da Fazenda, na época Guido Mantega, negou sua saída, afirmando que Bendine não estava “demissionário”.
Ainda no ano passado, o executivo pagou multa de R$ 122 mil à Receita Federal após ter sido autuado por não informar a procedência de R$ 280 mil em sua declaração do Imposto de Renda. Bendine afirmou ao fisco que guardou o dinheiro em sua casa.Em janeiro deste ano, Bendine pagou multa à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para escapar de um processo por ter violado o período de silêncio durante o IPO (oferta pública inicial de ações, em inglês) da BB Seguridade.
Em 2012, uma disputa de poder entre Bendine e Ricardo Flores, à época presidente da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) fez com que a então presidente da República Dilma Rousseff (PT) interferisse. Ela ameaçou demitir ambos os executivos: “Roupa suja se lava em casa”, afirmou a petista. A disputa de poder começou na Vale.
Defesa
Por meio de seus advogados, Val Marchiori alegou que o empréstimo obtido do Banco do Brasil “foi absolutamente regular e transparente”. Leia a íntegra da nota emitida pela defesa dela:
“A prisão de Aldemir Bendine fez com que diversos veículos de comunicação voltassem a divulgar que existiria suspeita sobre supostos benefícios que ele teria oferecido, na condição de Presidente do Banco do Brasil (BB), à empresa da apresentadora Val Marchiori.
Tais afirmações são falsas, uma vez que, como já informado à imprensa, o juízo da 10ª Vara Criminal Federal (VCF) de São Paulo apreciou esses fatos e rejeitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), por entender que a apresentadora Val Marchiori não praticou qualquer fraude com relação ao empréstimo concedido à empresa Torke pelo BB. Essa operação foi absolutamente regular e transparente, conforme a defesa elaborada pelo escritório Azevedo e Piccelli Advogados Associados já havia demonstrado durante a investigação policial.
Acrescente-se que a celebração do contrato de financiamento, que foi injustamente colocado sob suspeita, não causou qualquer prejuízo aos cofres públicos, já que, além de ter sido feita de acordo com os trâmites legais, se encontra com os respectivos pagamentos em dia.
O recurso apresentado pelo MPF contra a decisão da 10ª VCF foi rejeitado pelo Tribunal Regional Federal da Terceira Região (TRF3), que confirmou, assim, que não existe qualquer indício de prática de ilegalidade por parte de Val Marchiori ou da empresa Torke.
É verdade que o MPF continua a tentar reavivar o assunto — primeiro interpôs recurso especial, não admitido pelo TRF3, e agora busca rever o julgamento em agravo dirigido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Val Marchiori tem a convicção, contudo, de que a rejeição da denúncia será mantida, porque a acusação é absolutamente insubsistente. Ela não praticou ilegalidades, tampouco recebeu quaisquer espécies de benefícios indevidos do BB.”
Prisão
Bendine foi preso nesta quinta-feira pela Polícia Federal, em Sorocaba, no interior de São Paulo. Ele teria pedido, segundo o Ministério Público Federal (MPF), vantagens indevidas ao ex-presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht. O ex-executivo teria pagado R$ 3 milhões ao ex-dirigente da Petrobras. Antes disso, Bendine teria pedido a Odebrecht R$ 17 milhões em propina, enquanto presidia o Banco do Brasil