Na CPI, médicos da Prevent Senior negam experimentação com cloroquina
Médico que em abril do ano passado escreveu artigo sobre uso do medicamento sem autorização disse que cometeu “equívoco” na CPI da Câmara
atualizado
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São Paulo – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Prevent Senior na Câmara Municipal de São Paulo ouviu, nesta quinta (11/11), quatro médicos da rede sobre as acusações de fraude em estudo com hidroxicloroquina e outros medicamentos.
Em seu depoimento, o cardiologista Rodrigo Barbosa Ésper negou que tenha havia “experimentação com pacientes” na empresa. Ésper foi o autor do estudo de abril de 2020 que mostraria a suposta redução na internações de pacientes com Covid-19 após o uso de hidroxicloroquina e azitromicina.
Mas disse que cometeu um “equívoco” ao escrever a análise sem autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Segundo Ésper, os profissionais da companhia, por vontade própria, prescreveram os medicamentos, e que ele apenas realizou um “estudo de observação” sobre os efeitos.
Já Rafael de Souza Silva (diretor do departamento de telemedicina), Sergio Antonio Dias da Silveira Junior (consultor na área de auditoria médica) e Daniela Cabral de Freitas (diretora clínica) afirmaram que não havia pressão nem determinação para que médicos prescrevessem medicamentos do “kit Covid”, que se tratava apenas de uma sugestão.
Estava marcada para hoje também a oitiva de um representante do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde, mas o órgão pediu mais tempo para juntar documentos, e o depoimento acabou remarcado para 18 de novembro.
Rafael de Souza Silva, diretor do departamento de telemedicina, disse que era o coordenador de um estudo de avaliação, eficácia e segurança da hidroxicloroquina com 200 pacientes, submetido à Conep em abril de 2020 e aprovado. Entretanto, esta análise nunca foi iniciada. “Não foi incluído nenhum paciente. Ele avaliaria a eficácia do medicamento em pessoas com estágio leve da doença, não hospitalizados, de acompanhamento ambulatorial, por 28 dias”, disse.
Já Sergio Antonio Dias da Silveira Junior, consultor na área de auditoria médica da Prevent Senior, afirmou que os médicos que prescreveram os remédios sem eficácia comprovada para Covid não o fizeram por imposição da cúpula da rede. “Nesta condição de imposição não, sempre foi uma sugestão, não uma imposição. Eu nunca prescrevi o kit, particularmente”, falou.
“Equívoco” em estudo
Rodrigo Ésper afirmou que, em março, foi instalado o sistema de telemedicina na Prevent Senior, e cerca de 630 pacientes com sintomas de Covid-19 começaram a ser monitorados por 15 dias e que, em 5 de abril, ele analisou os dados operacionais desses atendimentos por telefone, que estavam em uma planilha de Excel.
“Eu observei que, de 26 de março a 4 de abril de 2020, os pacientes que optaram, em conjunto com o médico, por tomar o tratamento de hidroxicloroquina e azitromicina tinham menor necessidade de internação, uma alteração de 5% para 1,9%. Era pouca coisa, mas numa época em que nada se sabia, eu entendi que era um dever ético cívico e moral de comunicar o que foi observado”, falou.
No dia 14, Ésper disse ter ficado sabendo que existia uma aprovação de um estudo ambulatorial sobre a hidroxicloroquina e a azitromicina na Prevent Senior, e “por um equívoco” colocou aquela autorização em seu manuscrito, que seria encaminhado para publicação científica.
Em 17 de abril do ano passado, o estudo veio à tona, com a própria Prevent Senior e Ésper divulgando os resultados. O artigo chamou a atenção da Conep, que apontou fortes indícios de fraude no procedimento feito sem autorização.
De acordo com Ésper, a autorização que ele havia incluído em seu manuscrito seria para outro estudo, que ainda seria iniciado, que testaria a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina por 28 dias em pacientes da rede. Este outro estudo, de acordo com o depoimento de outros médicos da rede na CPI, não chegou a ser realizado.
“Neste momento, eu retirei imediatamente qualquer tipo de submissão para revista científica, portanto isso jamais foi publicado”, explicou Ésper, que alega que, depois disso, não teve mais informações sobre os pacientes tratados com hidroxicloroquina e azitromicina na Prevent Senior e não sabe se houve mortes ou internações.
“Não existiu nenhum tipo de experimentação. Foi uma pesquisa observacional, em que você apenas observa o acontecido, não existe nenhum tipo de intervenção. O estudo não foi publicado, eu cometi um equívoco numa situação de extremo cansaço, eu achei que a autorização era para um estudo observacional, não era”, acrescentou.
No dia 21 de outubro, em depoimento à CPI da Prevent Senior na Câmara, Jorge Venâncio, coordenador da Conep, reiterou que há indício de fraude científica no estudo.