Mulheres fazem vaquinhas para se tornar mães por fertilização in vitro
Após campanha e fertilização, Mariah e Mariana vão comemorar o primeiro Dia das Mães. Gleyce e Elen estão no meio de seus processos
atualizado
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São Paulo – A fertilização in vitro (FIV) é uma opção para se realizar o sonho de virar mãe. Com pouca oferta na rede pública, mulheres e casais estão fazendo vaquinhas para ajudar a pagar os altos custos do tratamento particular.
Essas campanhas já arrecadaram mais de R$ 100 mil, desde 2009, segundo a plataforma brasileira Vakinha afirmou ao Metrópoles. Em 2020, o site registrou 102 iniciativas do tipo; em 2021, foram 121; em 2022, até agora são 44.
Quem vê as fotos felizes de Mariah Meirelles, 30 anos, e Mariana Gomberg, 29, aguardando a chegada dos gêmeos Liz e Noah para até 2/8, não imagina todo o caminho que elas percorreram para poder comemorar o Dia das Mães neste domingo (8/5).
“Poder viver isso, ver a barriga da Mariah crescendo a cada dia. Meus filhos estão ali, tem vida ali dentro. É o meu primeiro Dia das Mães. É uma sensação indescritível lembrar de tudo o que passamos para chegar até aqui”, disse Mariana ao Metrópoles.
Não queria ser mãe
Ela defendia que não queria ser mãe, mas sua esposa sempre teve esse sonho. “É a coisa mais louca do mundo, sempre bati na tecla que não queria ser mãe, e hoje até me emociono em falar. É a experiência mais linda e mais forte da minha vida”, afirmou Mariana.
As duas, que são servidoras públicas e moram no Rio de Janeiro, começaram a se relacionar em 2012 e moram juntas desde 2016.
“Em algum momento do nosso relacionamento, isso foi uma questão séria, pensávamos: ‘Um dia vamos ter que separar, é um sonho que não tem como conciliar'”, contou Mariana. Até que isso mudou. “Foi muito natural, uma dia eu falei: ‘Vamos'”.
Diagnósticos, tentativas e aborto
Em 2/12/20, dia do aniversário de Mariah, o casal foi para a primeira consulta médica para se tornarem mães.
No processo, descobriram que Mariah tinha as trompas obstruídas e, portanto, não engravidaria naturalmente nem mesmo em uma relação heterossexual. Mariana foi diagnosticada com ovários policísticos.
Fizeram a primeira tentativa, que tecnicamente é chamada de transferência, da fertilização in vitro e não obtiveram sucesso. Na segunda vez, Mariah ficou grávida de gêmeos, mas acabou sofrendo um aborto. “Foi aquela pancada de novo”, contou Mariana.
Vaquinha
“Alguns amigos sugeriram que fizéssemos a vaquinha, mas ficamos sem graça. Tínhamos medo de julgamentos como: ‘É uma vontade delas e ainda querem pedir dinheiro?’ Porque não era uma doença, era um sonho”, explicou Mariah.
Uma amiga as presenteou com R$ 1 mil e insistiu na ideia da vaquinha. “Não tínhamos mais dinheiro e estávamos com os óvulos guardados na clínica, pagamos também o descongelamento e todas as medicações”, disse Mariana.
Elas acabaram cedendo e passaram a ver a campanha de arrecadação como uma forma de também contarem sua história e compartilharem a jornada com amigos. “Era o nosso objetivo, cabia a cada um entender como quisesse”, destacou Mariana.
Após três transferências, uma vaquinha, desgaste emocional e físico, Mariah está grávida de sete meses de Liz e Noah. No processo, elas gastaram cerca de R$ 30 mil e, além do presente da amiga, arrecadaram uma parcela de R$ 2.850.
“Foi mais aquele incentivo para continuar”, avaliou Mariana, sobre a campanha de arrecadação de dinheiro.
Cirurgia
Gleyce Lima, 27, sempre sonhou em ser mãe. Em 2018, primeiro ano de seu casamento, começou a dar “umas vaciladas” com os métodos contraceptivos na esperança de engravidar naturalmente, mas isso não aconteceu.
Em 2020, descobriu que tinha ovários policísticos, duas trompas obstruídas, um cisto em cada ovário e endometriose. Em outubro de 2021, ela passou por uma cirurgia para retirar as duas trompas, dois cistos e focos de endometriose.
“Uma FIV custa entre R$ 25 e R$ 30 mil, o que é totalmente fora do meu orçamento. Como eu sempre sonhei em ser mãe, desde criança, quando eu descobri a obstrução, foi bem difícil”, contou a moradora de São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
Críticas
Assim, Gleyce começou a buscar meios para realizar o sonho de gerar o próprio filho e encontrou uma clínica que oferecia a fertilização in vitro com um custo reduzido para mulheres que aceitassem doar óvulos.
“O custo da FIV e das injeções é caro. Eu sou babá, ganho R$ 1,2 mil. Então para as pessoas poderem me ajudar, contribuírem com esse sonho, eu criei a campanha”, afirmou.
A babá fez sua vaquinha, apesar de ouvir críticas, inclusive de familiares. “Vai fazer vaquinha para fazer um filho?” e “vai adotar uma criança!” ouviu Gleyce.
“Não entendem que é um sonho gerar na sua barriga, sentir a gravidez. As pessoas se tornam mães e pais de muitas maneiras, inclusive pela adoção. Mas cada um tem um sonho, hoje eu quero sentir a gravidez, sentir a barriga mexer, eu quero gerar meu bebê”, contou.
Segunda tentativa
Com R$ 1.625 arrecadados na vaquinha, rifas e o saque de aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) do marido que trabalha na área administrativa de um escritório de advocacia, o casal juntou R$ 14 mil e fez a primeira tentativa da fertilização in vitro.
Mas a primeira transferência não deu certo e agora Gleyce e Daniel Santos, 30, voltaram a promover a campanha para ajudar a pagar R$ 4.350 da segunda tentativa.
Doadora de óvulo
Em paralelo a isso, a babá soube que, a partir de seu óvulo doado, uma outra mulher conseguiu ficar grávida.
“Minha receptora tem entre 48 a 50 anos. Saber que ajudei uma pessoa a engravidar na primeira tentativa dela é muito gratificante. Me sinto recompensada mesmo sabendo que minha primeira transferência deu negativo”, disse.
Gleyce acredita que esse Dia das Mães será difícil. Evangélica, ela pretende evitar ir à igreja no domingo para amenizar o desconforto com a data.
Recusada pelo SUS
A analista comercial Elen Conceição, 38, também faz parte do grupo de mulheres que sempre sonhou em ser mãe e, para realizar esse desejo, há seis anos, parou com os métodos contraceptivos.
O marido dela, Rodrigo Conceição, 38, foi diagnosticado em exames de rotina com baixa produção de espermatozoides. O engenheiro civil chegou a fazer uma cirurgia, mas não obteve sucesso para mudar a condição.
Assim, o médico do casal recomentou a fertilização in vitro. Elen, que mora em Cotia (SP), relatou que não foi aceita para fazer o procedimento no Sistema Único de Saúde (SUS) por ter mais de 35 anos.
Imprevistos
Em 2020, o casal, que está junto há 20 anos, começou a fazer o tratamento em uma clínica particular que cobraria R$ 14 mil. Entretanto, o médico recomendou que os dois emagrecessem antes de fazer a transferência para tentar ter o primeiro filho.
Elen emagreceu 20 quilos e Rodrigo, 40. Porém, não foi só o peso dos dois que mudou. “Nesse meio tempo peguei Covid, fiquei desempregada e a reserva financeira que tínhamos acabou sendo consumida. Resolvemos tentar a vaquinha”, explicou ela.
“Mais um ano que não é minha vez”
Em abril, Elen retomou o plano de se tornar mãe e, apesar da “vergonha por pedir dinheiro”, criou a sua vaquinha. Agora, a fertilização in vitro do casal está orçada em R$ 20 mil.
“Talvez não cheguemos ao valor total, porque é muito difícil. As pessoas ficam incrédulas porque tem tanto golpe. Mas vamos tentar arrecadar o máximo possível em seis meses e, se não conseguirmos, veremos o que mais podemos fazer”, disse a analista.
Sobre o Dia das Mães, ela pensa que é “mais um ano que não é minha vez”. “Teve um tempo em que não me incomodava, era só mais uma data, mas de um tempo para cá dói, machuca”, confessou Elen.
FIV no SUS
A oferta de fertilização in vitro pelo SUS é uma iniciativa dos estados e municípios, pois não há uma verba federal destinada especificamente para esse tipo de tratamento.
Veja abaixo os locais que oferecem FIV pelo SUS, de acordo com informações do Ministério da Saúde para o Metrópoles:
- Brasília – Hospital Materno Infantil de Brasília
- Belo Horizonte – Hospital das Clinicas da UFMG
- Porto Alegre – Hospital Nossa Senhora da Conceição SA – Fêmina
- Porto Alegre – Hospital das Clínicas de Porto Alegre
- São Paulo – HC da FMUSP Hospital das Clínicas São Paulo
- São Paulo – Centro de Referência da Saúde da Mulher São Paulo – Pérola Byington
- São Paulo – Hospital das Clínicas FAEPA Ribeirão Preto
- Recife – Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira- IMIP
- Natal – Maternidade Escola Januário Cicco
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