Mulher sobre João de Deus: “Se o denunciasse, iam dizer que era doida”
Dona de casa de Valparaíso de Goiás diz que foi abusada pelo médium em 1999: “Achei que era só comigo. Quem ia acreditar numa doméstica?”
atualizado
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Quase 20 anos depois, uma moradora de Valparaíso (GO) convive com o terror transcorrido em um encontro com o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. Ela diz que, em 1999, durante uma visita à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), foi abusada pelo líder espiritual.
Em uma sala ampla, com sofá, mesa e um quadro pendurado na parede com a imagem do médium pintada a óleo, ela conta que teve a oportunidade de ficar diante do homem procurado por milhares de pessoas que vão a Abadiânia em busca de curas de doenças. “Estava passando em frente à sala e vi a porta aberta. Perguntei se podia entrar e logo os ajudantes me deixaram sozinha com ele”, contou.
A dona de casa, hoje aos 41 anos, estava com o marido, que ficou do lado de fora. A portas fechadas, João de Deus a atacou e pediu que a ela continuasse de pé. Em seguida, a puxou para perto do seu corpo e começou a gemer em seu ouvido.
“Com a voz asquerosa, ofegante, pediu para que eu fechasse os olhos. Começou a apalpar meu corpo, na frente, atrás, de repente botou minha mão dentro da calça dele. Fechei a mão e ele tentava abri-la. Empurrava a minha cabeça para baixo (em direção ao pênis). O afastei e disse: ‘Não, não, não’. Ele retrucava: ‘Minha filha, é oração. Para você ficar boa”, detalhou.
A mulher conseguiu se desvencilhar, abriu a porta e foi embora. Nunca mais voltou à Casa Dom Inácio. Contou o caso ao marido e a um amigo. Mas, em depressão, não denunciou João de Deus. “Quem ia acreditar em mim, uma empregada doméstica? Era minha palavra contra a dele. Iam alegar que eu era doida”, disse.
Ela contou ainda que, na ocasião, estava muito debilitada emocionalmente. Não teve forças e ficou com medo de denunciar. “Achei que isso só tinha acontecido comigo. Agora que vi todas essas denúncias, espero que a justiça seja feita. Esperei todos esses anos por isso. Ainda tenho medo de procurar o Ministério Público”, garantiu a mulher, que se emociona ao contar os detalhes do que viveu em 1999, na época aos 22 anos.
O advogado de João de Deus, Alberto Toron, em entrevista ao Fantástico nesse domingo (9), disse que o médium “nega e recebe com indignação a existência dessas declarações”. “O que quero esclarecer, que me parece importante que se esclareça ao grande público, é que ele tem um trabalho de mais de 40 anos naquela comunidade, atendendo a todos os brasileiros, atendendo gente de fora do país, sem nunca receber esse tipo de acusação”, destacou o defensor.