Mulher sentiu dor após cirurgia no bumbum e biomédico disse: “É manha”
Ronilza Johnson morreu em Anápolis no sábado (1º/5), em decorrência de complicações geradas por um preenchimento feito no bumbum
atualizado
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Goiânia – A mulher de 45 anos que morreu em Anápolis (GO) no sábado (1º/5), em decorrência de complicações geradas por um preenchimento feito no bumbum, chegou a reclamar de dores e mal-estar, dias após o procedimento, e ouviu do biomédico responsável que era “manha” e “frescura”.
Ronilza Johnson, que morava na Inglaterra e estava na cidade visitando o pai, ficou mais de um mês internada no Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), cidade que fica a 55 quilômetros de Goiânia. Ela teve lesões pelo corpo e sofreu fasciíte necrosante, que é uma infecção bacteriana que atinge tecidos da pele.
Segundo a delegada que apura o caso, Cynthia Alves Costa, a própria Ronilza registrou a ocorrência. Ela foi ouvida por telefone e, em seguida, foi feita a gravação do relato dela, quando ela já estava no hospital. A mulher contou que fez o procedimento por indicação de amigos e acreditou na seriedade da clínica e do profissional.
“Ela disse que reclamou de dores e mal-estar, (dias) depois para o biomédico e parece que ele falou que ela estava com manha, com frescura. Isso foi registrado na oitiva dela e tem também essa citação em outros depoimentos (de testemunhas)”, conta a delegada ao Metrópoles.
O biomédico investigado é Lucas Santana. A clínica que ele mantinha em Anápolis foi fechada pela Vigilância Sanitária. O assistente dele seria um estudante de Medicina na Bolívia, Thierry Cardoso, também investigado. Ambos seguem em liberdade, após negativa da Justiça do primeiro pedido de prisão.
A delegada adianta que eles devem ser indiciados por lesão corporal seguida de morte, homicídio por dolo eventual, já que assumiram o risco do procedimento e da substância que eles utilizaram, e existe ainda a suspeita de falsidade ideológica e exercício ilegal da medicina.
Pagamento a mais
O preenchimento foi feito em fevereiro e teria custado a Ronilza um total de R$ 9 mil, valor que ela já tinha pago ao biomédico. No dias seguintes em casa, começou a sentir os sintomas de dores e inflamações pelo corpo.
Com a continuidade e aumento das infecções, a delegada apurou que o assistente do biomédico, o estudante Thierry, chegou a ir até a casa dela para aplicar uma injeção para amenizar as dores. Por essa aplicação, Ronilza precisou desembolsar um valor a mais do que tinha pago pelo procedimento.
“Ela falou que fez o preenchimento estético no glúteo acreditando que era confiável e que o biomédico era sério. Eles falaram que iriam aplicar ácido hialurônico. O quadro dela evoluiu, semanas depois, para uma infecção muito forte”, relata a delegada.
Sem autorização
A substância utilizada, no entanto, teria sido polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA. A polícia aguarda o resultado dos laudos para confirmar a suspeita. Preenchimentos foram feitos não só no bumbum, mas no rosto e em outras partes do corpo.
A PMMA não é indicada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia para este procedimento específico. Além disso, o Conselho Regional de Biomedicina de Goiás informou que o biomédico realizou um procedimento não autorizado pelo Conselho Federal de Biomedicina (CFBM).
O inquérito deve ser concluído nos próximos dias, à medida que os laudos forem chegando. “Faltam laudos de perícia de local do crime, das substâncias encontradas, do material apreendido…”, relaciona a delegada. Ela diz que vai pedir novamente pela prisão dos suspeitos.
Covid no hospital
Na certidão de óbito de Ronilza, consta entre as causas da morte a Covid-19. Para a investigação, segundo a delegada, isso não muda o caráter da suspeita ou da morte da vítima, pois ela teria contraído a doença no período em que ficou internada no hospital.
Ronilza deu entrada no Huana no dia 27 de março. Segundo Cynthia Alves Costa, o resultado positivo para Covid saiu nos últimos dias dela no hospital. “Se ela não tivesse tido as complicações do procedimento estético, ela não teria morrido, possivelmente”, considera a delegada.