“Muitos morreram sem saber o que ocorria”, diz vítima da Boate Kiss
Cristiane Clavé contou que seu irmão foi buscá-la e ajudou a quebrar as paredes de madeira para tirar a fumaça tóxica da boate
atualizado
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A sobrevivente Cristiane dos Santos Clavé (foto em destaque), 34 anos, deu um depoimento emocionado, nesse sábado (4/12), ao contar como conseguiu sair da Boate Kiss logo após o início do incêndio. Seu irmão foi buscá-la e ajudou a quebrar as paredes de madeira do local para tirar a fumaça tóxica da boate.
“Quando meu irmão chegou, eu disse pra ele que aquilo era um filme de terror. Meu irmão foi tirar as madeiras que revestiam a parede. Ele veio até a mim dizendo que ia entrar. Eu disse pra ele não entrar”, relatou. De acordo com Cristiane, ninguém foi avisado do que ocorria na boate. “Muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo”, acrescentou. Ao todo, 242 pessoas perderam a vida em meio às chamas e mais de 600 ficaram feridas.
O julgamento da tragédia na Boate Kiss em 2013 entra no quinto dia neste domingo (5/12), no Foro Central de Porto Alegre (RS). A partir das 9h, serão ouvidos Tiago Mutti, testemunha de defesa do réu Mauro Hoffmann, sócio da casa noturna, e o sobrevivente Delvani Brondani Rosso, convocado pela acusação.
Confira quem são os quatro réus:
- Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
- Elissandro Callegaro Spohr, apelidado de Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
- Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, era integrante da banda Gurizada Fandangueira
- Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, produtor musical da banda
Nesse domingo (5/12), o julgamento terá dois intervalos. Um deles está previsto para as 12h30 e o outro para à tarde. Se necessário, o juiz Orlando Faccini Neto disse que estenderá até a noite os trabalhos e pode chegar até a convocar novos depoentes.
A tragédia
No dia 27 de janeiro de 2013, a Boate Kiss, casa noturna localizada na Rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria (RS), recebeu centenas de jovens para uma comemoração. No palco, havia dois shows ao vivo. O primeiro, de uma banda de rock. Depois, foi a vez da Gurizada Fandangueira, de sertanejo universitário. A casa estava lotada: entre 800 e mil pessoas. A boate tinha capacidade para 690 pessoas.
Segundo contou na época o guitarrista da banda Rodrigo Lemos, o fogo começou depois que um sinalizador foi aceso. Ele disse que os colegas de banda logo tentaram apagar o incêndio, mas o extintor não teria funcionado. Um dos componentes da bando, o gaiteiro Danilo Jaques, morreu no local.
Naquele dia, as faíscas atingiram o teto revestido de espuma. Em pouco tempo, o fogo se espalhou pela pista de dança e logo tomou todo o interior da boate. De acordo com os bombeiros, a fumaça altamente tóxica e de cheiro forte provocou pânico. Aí começou a tragédia.
Ainda sem saberem do que se tratava, seguranças tentaram impedir a saída antes do pagamento. Houve empurra-empurra. Alguns conseguiram deixar o local. Muitos que não conseguiram, desmaiaram, intoxicados pela fumaça. Outros procuraram os banheiros para escapar ou buscar uma entrada de ar e acabaram morrendo. Segundo peritos, o sistema de ar condicionado ajudou a espalhar a fumaça. Além disso, um curto-circuito provocado pelo incêndio causou uma explosão — 242 pessoas morreram.