“Mudei meu cabelo, negro já é confundido com ladrão”, diz vítima de racismo
O confeiteiro estava procurando alguns ingredientes para fazer bolo comemorativo quando sofreu abordagens racistas em hipermercado
atualizado
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O estudante de gastronomia Bernardo Marins, de 20 anos, foi vítima de racismo na última terça-feira (18/8), dia que comemorava o seu aniversário, conta que após o episódio ocorrido no hipermercado Extra, em Alcântara, São Gonçalo (RJ), resolveu pintar o cabelo de preto.
“A primeira coisa que fiz foi pintar o cabelo de preto. Pensei que o fato de eu estar loiro pudesse ter incrementado o racismo”, desabafou em uma rede social.
Ao Metrópoles ele contou que passar o aniversário de cabelo descolorido era uma tradição. “Mas aí aconteceu o que aconteceu no mercado e eu queria tirar tudo de mim que poderia ter causado o racismo. Negro já é confundido com ladrão”, desabafou.
Na ocasião, o confeiteiro estava procurando alguns ingredientes para fazer o seu bolo comemorativo quando sofreu abordagens racistas ao ser perseguido e chamado de “ladrãozinho” por um segurança do hipermercado.
Em relato feito nas redes sociais, Bernardo também disse que o segurança o acompanhou pelo mercado, falando alto ao rádio, pedindo que a equipe conferisse se ele havia furtado algum produto. O homem ressaltava que o bolso dele estava cheio.
“Minha tia estourou o cofrinho dela e me deu muita moeda. Como estou desempregado, não faria bolo. Meu bolso realmente estava muito cheio de moeda”, afirmou.
Desconfortável com toda a situação ele relatou ainda que se dirigiu ao caixa, pagou pelos produtos e pediu para falar com o gerente, que negou que a abordagem tenha sido motivada por racismo e defendeu o segurança, dizendo que o funcionário poderia ter “marcado a cara” do jovem por outras passagens pelo mercado.
“Neste momento desabei. Pedi que me revistassem, mas não quiseram. Saí correndo e peguei um Uber chorando muito. Parece que todo racismo que já vivi em minha vida caiu sobre mim naquele momento. O bolo ficou pronto quase na hora dos parabéns. Não estava com ânimo de comemorar nada. Foi o pior aniversário da minha vida. Se não fosse o apoio da minha família, não sei como seria”, desabafou.
Bernardo registrou o boletim de ocorrência na segunda-feira (24/8) e tem depoimento marcado para a manhã de quarta-feira (26/8).
O que diz o Extra
O Extra informou que optou pelo afastamento temporário do funcionário citado pelo cliente. O supermercado afirma também que conseguiu contato com o cliente Bernardo no último dia 20 para se desculpar pela situação vivenciada por ele na loja e incluí-lo no processo de averiguação dos fatos.