MPRJ faz perícia no Complexo do Salgueiro onde nove foram mortos
Promotores vão fotografar região da favela em São Gonçalo e fazem estudo topográfico para confrontar com denúncias feitas pelos moradores
atualizado
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Rio de Janeiro – O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) faz uma perícia na manhã desta terça-feira (14/12) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região Metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo é fotografar e fazer um estudo topográfico da região onde aconteceu a ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), após nove pessoas serem mortas na comunidade.
Desta forma, o MPRJ vai confrontar o material recolhido com as informações recebidas através de denúncias feitas por moradores das comunidades. A operação aconteceu no dia 20 de novembro, após a morte de um sargento da Polícia Militar na localidade. Oito corpos foram encontrados em uma área de mangue por moradores da região no dia 22 de novembro, no bairro das Palmeiras.
Já um suspeito morreu no hospital no dia anterior à ação do grupo de elite da PM do Rio. Dos nove mortos, cinco tinham passagens pela polícia e pelo menos seis usavam roupas camufladas, segundo informações da Polícia Civil.
O Ministério Público, assim como a Polícia Civil e a Polícia Militar, abriram inquéritos sobre as mortes. As investigações apontam que pelo menos 1.500 tiros foram disparados pelos policiais durante a operação no Complexo do Salgueiro.
Abuso policial
Até o momento, a Promotoria de Justiça Militar já ouviu 10 policiais militares que declaram ter participado da operação no Complexo do Salgueiro, no dia 20 de novembro. Na tarde dessa segunda-feira (13/12), mais quatro PMs foram ouvidos, além de moradores da região.
O MPRJ ressaltou que no decorrer das investigações podem ser necessárias novas oitivas de testemunhas para esclarecimentos dos fatos ocorridos. O órgão apura as denúncias feitas pela Comissão de Direito Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) e moradores da região conhecida como Palmeira, em São Gonçalo.
Segundo a OAB, os agentes usaram um clube no domingo (21/11) para fazer churrasco e tomar cerveja, além de queimar roupas. No dia seguinte, moradores encontraram oito corpos a 500 metros do clube.
O promotor Paulo Roberto Mello Cunha vai investigar apenas as denúncias de abusos contra os militares. A princípio, ele vai ouvir os oito que confessaram ter atirado durante a operação e o comandante do Bope, Paulo Renato Aparecido Siloto. Não está descartada a hipótese de convocar para depor todos os policiais que participaram das operações, pelo menos 75.
Ações policiais
A operação da PM no Complexo do Salgueiro, formado por seis comunidades às margens da Rodovia Rio-Manilha (BR-101), começou na quinta-feira (18/11), para coibir roubos de cargas por policiais do 7ºBPM (São Gonçalo). Na manhã de sábado (20/11), o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, foi morto em confronto, e o Bope foi acionado.
Os militares da tropa de elite só deixaram a região no domingo (21/11), sem informar sobre os mortos, e ainda desejaram Feliz Natal aos moradores.
O Complexo do Salgueiro é uma área marcada por ações policiais, como a que resultou no assassinato do menino João Pedro, de 14 anos. Depois da morte do adolescente, em 18 de maio de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, restringiu as operações em favelas do Rio por causa da pandemia, em junho do ano passado. O plenário da Corte ainda vai decidir se chancela a decisão.