MPGO pede investigação conjunta de mortes e desaparecido após ação da PM
Adolescente sumiu há três anos, desde que amigos foram mortos por militares. Polícia criou inquérito só para apurar sumiço, mas MP discorda
atualizado
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Goiânia – O Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu que a Polícia Civil conclua a investigação, de forma conjunta, do desaparecimento de um estudante de 14 anos e da morte de três amigos dele em uma ação policial. O caso ocorreu na noite de 23 de abril de 2018, em Goiânia.
Policiais militares dizem que entraram em uma casa do bairro Solar Bouganville e mataram três jovens para se defender. No entanto, testemunhas contam que havia um quarto garoto na casa, João Vitor Mateus de Oliveira, de 14 anos, desaparecido desde então.
O delegado Ernane Cazer, da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), concluiu o inquérito que investiga o caso no dia 25 de agosto de 2021, três dias depois do Metrópoles revelar detalhes do caso e a espera da família por uma resposta.
Acontece que a DIH resolveu dividir a investigação. Foi criado um novo inquérito para apurar o desaparecimento de João Vitor. O inquérito original de 2018 foi remetido ao Judiciário dando um parecer apenas sobre as três mortes.
Operação fatiada
O Ministério Público emitiu um despacho nesta quarta-feira (15/9) discordando da decisão da Polícia Civil, pedindo um laudo que ficou faltando e a averiguação completa do caso, incluindo as mortes e o desaparecimento.
“É muito complicado, num primeiro momento, imaginar uma situação legítima que seja finalizada com o desaparecimento forçado de alguém. Carecendo de averiguação de forma completa e não fatiada da operação”, avalia a promotora Renata de Oliveira no despacho.
A promotora defende que não existe razão para a divisão das investigações em inquéritos distintos, já que as mortes e desaparecimento se deram na mesma ocasião, em um mesmo contexto. Para ela, distribuir os fatos em inquéritos diferentes torna difícil a produção de provas.
PMs não são indiciados
No relatório da investigação sobre as três mortes em ação policial, o delegado Ernane considera que dos três militares envolvidos na ocorrência, dois teriam tido legitimidade em ter matado as vítimas.
Já no caso do terceiro PM, a legítima defesa não teria ficado clara. No entanto, o delegado não chega a indiciar o investigado.
A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSPGO) foram procuradas pelo Metrópoles, mas não se manifestaram até a publicação desta matéria.