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MPF pede à Justiça para barrar invasores na Chapada dos Veadeiros

Ação judicial quer reintegração de posse de todas as áreas que integram o histórico território Kalunga em três municípios de Goiás

atualizado

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Na foto, a chapada dos Veadeiros (GO) - Metrópoles
1 de 1 Na foto, a chapada dos Veadeiros (GO) - Metrópoles - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Goiânia – O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública para pedir que a Justiça Federal determine, liminarmente, a imediata reintegração de posse de todas as áreas que compõem o território Kalunga e que estejam sendo invadidas ou esbulhadas, na região da Chapada dos Veadeiros. Elas ficam nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás.

De acordo com a ação, protocolada na última segunda-feira (16/8), as fronteiras do Território Quilombola Kalunga (TQK) já foram reconhecidas e devidamente delimitadas pelo poder público, por meio de lei. Depois, as atividades de delimitação, demarcação e titulação, antes pertencentes à Fundação Palmares, foram transferidas ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em 2004, o Incra deflagrou processo administrativo para a titulação definitiva das terras reivindicadas pelos kalungas. Entretanto, o processo administrativo tramitou lentamente e foi arquivado, em agosto de 2019, sem conclusão. Dos 262 mil hectares que integram o território, apenas cerca de 34 mil foram titulados definitivamente à comunidade.

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Região do sítio histórico kalunga, em Cavalcante
Vista de sítio histórico kalunga em Cavalcante
Região do sítio histórico kalunga, em Cavalcante
Desmatamento em territótio kalunga, Cavalcante (GO)
Búfalos enfileirados em fazenda de sítio histórico kalunga, em GO
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Vista aérea de Fazenda Choco, no território kalunga, em Cavalcante (GO)

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Região do sítio histórico kalunga, em Cavalcante

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Vista de sítio histórico kalunga em Cavalcante

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Região do sítio histórico kalunga, em Cavalcante

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Desmatamento em territótio kalunga, Cavalcante (GO)

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Búfalos enfileirados em fazenda de sítio histórico kalunga, em GO

Adriano Paulino/Associação Quilombola Kalunga
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Búfalos em sítio histórico de kalungas, em Cavalcante (GO)

Elder Miranda Jr/Associação Quilombola Kalunga
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Comunidade quilombola em Goiás

Valter Campanato/Agência Brasil
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Comunidade kalunga em Goiás

Egeziel Castro/LBV
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Quilombola em território kalunga, em Goiás

Egeziel Castro/LBV
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Morador da comunidade kalunga no nordeste de Goiás

Egeziel Castro/LBV
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Quilombola Sebastiana Silva

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Comunidade quilombola em Goiás

Egeziel Castro/LBV
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Comunidade quilombola em Goiás

Egeziel Castro/LBV
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Engenho 2 é o maior dos povoados kalungas do sítio histórico em Goiás

Daniel Ferreira/Metrópoles
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Mulher kalunga em comunidade de Cavalcante

Daniel Ferreira/Metrópoles
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Povoado quilombola, em Goiás

Daniel Ferreira/Metrópoles
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Cachoeira Candaru é uma das atrações da região do território kalunga

Divulgação/AQK
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A natureza bem preservada é um dos diferenciais do território Kalunga

Elder Miranda Jr/AQK
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Vista da Chapada dos Veadeiros, no território kalunga

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Povoado Kalunga do Engenho II em Cavalcante, na região da Chapada dos Veadeiros

Daniel Ferreira/Metrópoles
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Área no interior do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás

Ricardo Siqueira/Getty Images
Demora

Para o procurador da República Daniel César Azeredo Avelino, autor da ação, o Incra retarda seu dever de demarcar e titular os territórios quilombolas, mesmo quando há orçamento para depósito do valor das indenizações a proprietários particulares.

Segundo o procurador, os pedidos de algumas ações de desapropriação por ele ajuizadas estão sendo julgados improcedentes pela Justiça com fundamento na caducidade do decreto presidencial expropriatório.

 “Torna-se imperiosa e urgente a intervenção do Poder Judiciário a fim de que os kalungas sejam liminarmente reintegrados na posse das parcelas de seu território como medida necessária a garantir a dignidade, a integridade e a cultura quilombola”, afirmou o procurador.

Na ação, o MPF pede para que a JF determine à União, ao Estado de Goiás, ao Incra e à Fundação Palmares que adotem as medidas administrativas necessárias, dentro de suas respectivas atribuições, para que viabilize, execute e fiscalize, o mais brevemente possível, a reintegração de posse.

O Ministério Público Federal também pediu que se transfira à Associação Quilombo Kalunga a titularidade e a propriedade definitiva das terras devolutas localizadas no Território Quilombola Kalunga, sob pena de multa diária.

Com o objetivo de frear as invasões e esbulhos, o MPF solicitou ainda, que a Justiça Federal condene, assim que identificados, os atuais invasores para que interrompam imediatamente os atos de invasão praticados no interior do território quilombola e que os proíbam de repetir essa prática criminosa.

Processo complexo

O Incra informou ao Metrópoles que 262 mil hectares do Território Quilombola Kalunga já foram titulados e que já identificou áreas devolutas, que pertencem ao estado de Goiás e podem ser destinadas, assim como imóveis rurais particulares que devem ser desapropriados pelo órgão.

A autarquia também disse que o processo de regularização é complexo, já que, conforme acrescentou, envolve identificação de ocupantes, levantamentos de documentos e informações, vistorias, notificações, georreferenciamento e demarcação de áreas, para a regularização e a titulação para a comunidade.

Além disso, o órgão afirmou que a pandemia restringiu os trabalhos em campo e que a desapropriação de imóveis rurais situados no perímetro do território está sujeita à disponibilidade orçamentária, visto que não é possível ajuizar ações sem o depósito judicial prévio das indenizações.

O Metrópoles não obteve retorno da Procuradoria-Geral do Estado de Goiás (PGE-GO) até o momento em que publicou esta reportagem.

Origens

Localizado no nordeste de Goiás, já na divisa com Tocantins e Bahia, o quilombo Kalunga é uma terra de uso coletivo, reconhecida pelo estado e em ainda processo de regularização fundiária total. As terras que compõem a área foram ocupadas há centenas de anos por africanos ou afrodescendentes.

Uma das versões para a origem do território é que seus primeiros ocupantes foram fugitivos da escravidão de fazendas e garimpos da região.

Outra versão é a de que foram afrodescendentes que deixaram o trabalho em propriedades rurais (antes ou depois da Lei Áurea, assinada em 1888) e foram se embrenhando nos chamados vãos, que são áreas de difícil acesso entre serras.

Nestes locais, eles se misturaram à população indígena que já habitava ali. Os kalungas ficaram isolados do mundo externo até  a década de 1970, quando foram “descobertos” por funcionários do estado que faziam prevenção e combate a endemias na zona rural.

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