Mourão diz não haver dúvida sobre mudança climática: “Temos que lidar”
Vice-presidente do Brasil falou a jornalistas após encerramento da 6ª Reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal
atualizado
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O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou que “não há dúvida de que o mundo passa por uma mudança climática e há um esforço que tem que ser feito por todos nós no sentido de impedir”.
Mourão concedeu entrevista coletiva ao final da 6ª Reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal na tarde desta terça-feira (24/8) e respondeu a pergunta do Metrópoles sobre o discurso que o país levará para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 26), que acontece em novembro, em Glasgow, no Reino Unido.
“A gente sabe que de 100% de emissões de gás de efeito estufa, 23% são oriundas do desmatamento e do uso da terra, ou seja, agricultura, pecuária. E os outros 77% são das emissões oriundas de combustíveis fósseis, que é onde os países industrializados são os grandes responsáveis. Nós, Brasil, temos que lidar com a nossa parte, nisso aí”, disse o vice presidente.
“Então, nós temos os nossos compromissos, que são a redução de 37% das nossas emissões em relação ao ano de 2005 até 2025 e em 43% até 2030 e eliminar o desmatamento ilegal até o final desta década”, completou Mourão.
Ainda segundo o vice, a troca no Ministério do Meio Ambiente não significa o abandono do discurso do ex-ministro Ricardo Salles, de cobrar os países ricos a monetização dos créditos de carbono.
“O bioma amazônico está em 42% do nosso território e nós temos que manter esse bioma intocável. Então, nós temos que abrir mão de explorar 42% do território brasileiro. Tem que haver uma compensação por isso, é uma discussão tem que ser colocada. Todos os fóruns que eu tenho ido com entidades da iniciativa privada, todo mundo fala com número cabalístico de US$ 10 bilhões que a gente teria de receber anualmente. Eu aguardo para que esse número seja efetivado”, discursou ele.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, também participou da reunião, mas não deu entrevista.
Pau no lombo dos infratores
Há pouco mais de um mês, em 16 de julho, Mourão comemorou a apreensão de uma carga de madeira ilegal em Altamira, no Pará: “O pau canta no lombo dos infratores ambientais“, disse, no Twitter.
Os números, porém, não autorizam comemoração. Os alertas de desmatamento na Amazônia atingiram o segundo pior patamar em cinco anos. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados no início de agosto, 8.712 km² foram devastados no acumulado entre agosto de 2020 e 30 de julho deste ano.
Entre agosto de 2019 e julho de 2020, esse número tinha ficado em 9.216 km². Mesmo com a redução de 5% entre uma temporada e outra, o número continua alto.
“Os três recordes da série foram batidos no governo Bolsonaro, no qual os alertas são 69,8% maiores que a média dos anos anteriores. O resultado indica que o desmatamento anual deverá, pela terceira vez, ficar próximo de 10 mil km², o que não ocorria desde 2008”, indica o Observatório do Clima.
No último dia 18 de agosto, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou levantamento informando que a Amazônia Legal brasileira perdeu 10.476 km² de floresta entre agosto de 2020 e julho de 2021. É uma taxa é 57% maior que a da temporada passada e a pior dos últimos dez anos. Em julho deste ano, o desmatamento registrado foi 80% maior que o de julho de 2020.
COP 26
Os números do desmatamento não ajudam o discurso que o Brasil prepara para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 26). O país ainda precisa montar um pacote de medidas para alcançar as metas que assumiu em abril na Cúpula do Clima.
Ausência no Senado
Mourão era esperado em uma audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle (CTFC) do Senado nessa segunda (23/8) para tratar da questão amazônica, mas mandou apenas um representante. O ministro do Meio Ambiente, também convidado, não foi nem indicou ninguém.
A audiência foi convocada pelo senador Reguffe (Podemos-DF). “O Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento econômico sério, que leve em conta o meio ambiente e seja sustentável. É importante que as considerações daqueles que acompanham esse grave problema encontrem acolhida no governo”, cobrou o parlamentar.