Motim de presos é controlado em Goiás
Três detentos ficaram feridos e dois precisaram ser encaminhados para atendimento médico. Eles se amotinaram após ação policial no presídio
atualizado
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Goiânia – O motim de presos que chegou a ser transmitido ao vivo nas redes sociais por presos da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), na região metropolitana da capital goiana, foi controlado por agentes da segurança prisional na tarde desta sexta-feira (19/2).
Três detentos ficaram feridos. Dois foram encaminhados para atendimento médico e um foi assistido no local. Os demais foram levados para o pátio da unidade e passaram por revista, antes de serem redirecionados para as celas. Parte da estrutura da unidade foi danificada e pode ser que seja necessária a transferência de alguns detentos para outros presídios do Estado.
A confusão aconteceu apenas um dia depois da morte de um vigilante penitenciário e de sua mulher nas proximidades da saída do complexo prisional.
Segundo o superintendente de Segurança Penitenciária da Polícia Penal, Jonathan Marques, os motivos que levaram à reação dos presos nesta sexta ainda estão sendo apurados. Ele conta que quando se aproximava o fim do banho de sol, os agentes adentraram o pátio para levarem os presos de volta às celas e houve recusa por parte dos detentos.
Familiares e advogados, que aguardavam por notícias do lado de fora do presídio, relataram uma série de questões que teriam motivado a revolta dos presos. De alimentação restrita a acesso limitado das famílias aos detentos, nos últimos meses, tudo teria se somado ao longo do tempo e gerado a revolta.
Jonathan Marques diz que, em razão da pandemia, o acesso, de fato, foi reduzido, assim como o envio e entrega de alimentos por parte das famílias nos dias de cobal, como é chamado a data de entrega de alimentos e objetos. Familiares reclamam que as senhas fornecidas pelo governo para o dia de cobal foram reduzidas significativamente. “Houve diminuição e não cancelamento”, rebate Jonathan.
Bala letal
Vídeos e fotos de dentro do presídio foram divulgados pelos presos, munidos de aparelhos celulares. Em uma delas, um detento aparece segurando o que seria uma munição letal que teria sido utilizada pelos policiais, durante a contenção do motim.
O superintendente de Segurança Penitenciária diz que o fato será investigado. “Tiveram vários policiais no local, mas pode ter sido utilizada também por presos, assim como também pode ser inverdade ou não ser uma munição. Vamos apurar fatos e circunstâncias, assim como as condutas de presos e servidores”, promete.
Os agentes, segundo ele, utilizaram balas de borracha para reaver a organização da penitenciária. Os presos chegaram a queimar colchões nas portas das celas e era possível ver a fumaça pelo lado de fora do Complexo Prisional.
Os presos feridos foram todos da Ala A: Alessandro de Oliveira Barros, Romário Rosa de Oliveira e Paulo Henrique do Carmo.
Primeira reforma da história
A POG é um dos presídios mais antigos de Goiás, fundado na década de 1960 e está passando pela primeira reforma da história. Estão detidos hoje na unidade 1.284 presos, mas esse total era quase o dobro até o final do ano passado.
No dia 5 de dezembro de 2020, 1.151 presos foram transferidos para outras unidades prisionais para liberar alas para o início da reforma. Os detentos que se amotinados hoje são da Ala A.
Jonathan Marques explica que, tecnicamente, não dá para chamar o que aconteceu de rebelião, pois não houve uma organização que envolveu todos os detentos, tampouco houve refém. As características do episódio remetem ao motim, pois só parte dos presos estava participando da revolta.
Duplo homicídio
O motim ocorreu um dia após a morte do vigilante penitenciário temporário de Goiás Elias de Souza Silva, de 38 anos, e de sua mulher. Segundo um boletim de ocorrência registrado por Silva e colegas, obtido pelo Metrópoles, ele teria sido alvo de uma tentativa de suborno em serviço e conteve princípio de motim, no dia 1º de fevereiro deste ano.
O duplo homicídio ocorreu logo após o vigilante sair do plantão de 24 horas e se encontrar com a mulher dele, na manhã de quinta (18/2). O crime foi a poucos metros da saída do complexo prisional.
Silva vivia aterrorizado por conta de revista que gerou conflito com presos por roubo, no início do mês. A juíza Lílian Margareth, do Juizado Especial Criminal de Aparecida de Goiânia, recebeu na quinta o processo referente ao motim de presos, que foi contido por ele e policiais.
Dois suspeitos de envolvimento no duplo homicídio foram mortos em confronto com policiais militares ainda na quinta-feira. Uma terceira pessoa foi presa. De acordo com a Polícia Civil, a morte de Elias Silva pode ter sido encomendada. A Secretaria de Segurança Pública afastou a relação de facções criminosas com o caso.