Mortes na Chapada: deputados do PT pedem que MP investigue ação da PM
Representação enviada ao MPGO diz que ocorreu uma verdadeira chacina na ação da PM que resultou em quatro mortes de trabalhadores
atualizado
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Goiânia – Cinco deputados federais do Partido dos Trabalhadores (PT), incluindo o líder da bancada na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG), assinaram representação enviada ao Ministério Público de Goiás (MPGO), solicitando investigação sobre a ação da Polícia Militar que resultou na morte de quatro pessoas na Chapada dos Veadeiros.
O texto do documento, endereçado ao procurador-geral de Justiça do estado, Aylton Flávio Vechi, enfatiza os indícios de abuso e uso irregular da força, assim como possível conduta indevida dos policiais.
“Ocorreu de fato uma execução, uma verdadeira chacina de homens indefesos, rendidos, contidos, pelos policiais militares, numa ação odiosa e inconcebível”, diz o texto.
No último dia 20/1, homens do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) da PM de Niquelândia foram até uma propriedade rural entre Colinas do Sul e Cavalcante, municípios da região da Chapada, com o intuito de checar denúncia de que havia uma plantação de maconha no local. Relatos de testemunhas dão conta de que eles já chegaram atirando contra as pessoas que estavam na fazenda, incluindo trabalhadores rurais.
Policiais atiraram 58 vezes
Ao todo, foram feitos 58 disparos pelos policiais, sendo 40 de fuzil e 18 de pistola, conforme o relatado no boletim de ocorrência. Quatro homens morreram.
Os policiais militares alegaram que foram recebidos com tiros e reagiram. Além disso, afirmaram que os mortos seriam suspeitos de tráfico de drogas. Investigação da Polícia Civil do estado, no entanto, descobriu que as vítimas não tinham passagem pela polícia.
Manifestações e repúdio
Quando a polícia chegou ao local, haviam sete pessoas sob uma proteção de palha. Três conseguiram fugir e os demais foram mortos. O caso chocou a comunidade das cidades que compõem a região da Chapada, inclusive motivou manifestações e nota de repúdio assinada nessa quarta-feira (26/1) por mais de 100 entidades civis.
“São condutas que chocaram a sociedade goiana e brasileira e que devem ser investigadas com profundidade, de modo que as responsabilidades, se houver, sejam devidamente sindicadas”, defendem os deputados na representação enviada ao MPGO.
Além de Reginaldo Lopes, assinaram, também, o documentos os seguintes deputados: Paulo Teixeira (PT/SP), Rubens Otoni (PT/GO), Paulão (PT/AL) e Carlos Veras (PT/PE).
Os policiais envolvidos na ação foram afastados pela corporação. Familiares e amigos das vítimas contestam a versão de confronto apresentada pelos PMs. Os homens mortos não tinham histórico de violência e mantinham estilo de vida pacato, conforme as pessoas que os conheciam.
As vítimas
Dos quatro mortos na operação policial na Chapada, dois eram da vila São Jorge, um de uma comunidade quilombola kalunga e um de Colinas do Sul. Nenhum deles tinha antecedentes criminais.
Alan Pereira Soares, de 27 anos. Morava em Colinas. Tinha uma namorada, que foi uma das testemunhas da ação da polícia e estava grávida. Ela conseguiu fugir do local. Alan teria tido uma desavença com um dos policiais que participaram da operação, segundo amigos.
Antônio da Cunha dos Santos, de 35 anos, era de uma comunidade quilombola. Ele era conhecido como Chico. Gostava de jardinagem e conhecia plantas medicinais.
Ozanir Batista da Silva, de 46 anos, era de uma família pioneira em São Jorge. Era conhecido como Niro ou Jacaré. Costumava fazer pequenos bicos e já teria tido problemas com álcool. Ele e Chico seriam vizinhos da fazenda com a plantação de maconha.
Salviano Souza Conceição, de 63 anos, o mais velho entre os mortos na ação policial. Seria o dono da plantação. Era muito conhecido por moradores de São Jorge, de onde era. Tinha o comportamento pacato e tranquilo, segundo amigos.