Mortes em incêndios florestais alertam para cuidados ao combater fogo
Especialistas defendem uso de equipamentos e treinamento para moradores de zona rural. Dois morreram em Goiás este mês combatendo fogo
atualizado
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Goiânia – Um dos resultados da temporada de queimadas, que está temporariamente acabando em Goiás com o início do período chuvoso, foi a triste morte de duas pessoas ao tentar apagar incêndios florestais em suas propriedades.
O fazendeiro e ex-guarda municipal Valdemar Azevedo, de 65 anos, tentava salvar animais em um incêndio em Cidade Ocidental, no Entorno do DF, no dia 12 de setembro.
Já Cleunice Pereira, de 51, foi encontrada desmaiada em uma área queimada, na qual ela mesmo tentava combater o fogo junto com o marido, no dia 18 de setembro.
Ambos morreram logo após serem socorridos. Além de queimaduras, o principal motivo, conforme os socorristas que os atenderam, foi principalmente a inalação de gases tóxicos.
Essas duas mortes trágicas levantam o alerta sobre os cuidados necessários para se combater incêndios, além da prevenção. A reportagem conversou com dois especialistas que repassaram orientações sobre esse tipo de situação.
Treinamento e equipamentos
O coordenador executivo da Rede Contrafogo, Amilton Sá, destacou a necessidade de que os proprietários rurais tenham treinamento qualificado e equipamento de proteção. Os cursos podem ser encontrados até na internet.
“Não posso aconselhar ninguém a combater um incêndio sem equipamento de proteção individual, isso é um risco extremo, tanto de queimadura, quanto de intoxicação”, explicou o brigadista.
O capitão Ailton Pinheiro de Araújo, do Corpo de Bombeiros de Goiás, explicou que quem vai combater o incêndio deve estar, no mínimo, com equipamentos como balaclava, óculos para proteger os olhos, luvas, roupa mais comprida e calçado fechado.
“Muitas vezes, no desespero de salvar seu patrimônio, a pessoa descuida totalmente e esquece de proteger o rosto e o corpo, não se dá conta da intoxicação pela fumaça e do risco de ser cercado pelo foco”, explicou o oficial dos bombeiros.
Combate direto
Amilton Sá, da Rede Contrafogo, foi enfático em orientar que o combate ao incêndio nunca se deve fazer sozinho. Ele explicou que isso deve ser feito com no mínimo três pessoas, que não devem ficar sozinhas em nenhum momento.
“A pessoa pode passar mal, machucar, qualquer acidente. É determinação clara de combate: Nunca ficar sozinho”, explicou.
Veja combate de fogo por brigadistas:
O capitão Araújo disse que existem vários equipamentos para o combate. Alguns proprietários rurais já possuem os abafadores e os sopradores. No entanto, é preciso saber como e quando usar esses itens, pois o uso errado pode ser perigoso e até aumentar o fogo.
Os abafadores, por exemplo, são hastes com uma espécie de placa de borracha na ponta e servem para um fogo mais baixo em vegetação rasteira. Já os borrifadores com água costumam ser usados para tentar diminuir as chamas, antes de um combate com abafadores, por exemplo.
Cursos sobre combate ensinam questões teóricas importantes sobre a direção do incêndio, tipo de vegetação e obstáculos naturais, elementos importantes para conseguir planejar a melhor forma de combate.
Prevenção e cuidado
O brigadista e o bombeiro ouvidos pela reportagem lembram que assim que perceber o fogo, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado, ou os órgãos responsáveis pela área, quando o fogo é em um parque estadual ou federal.
Além disso, se a pessoa não tem treinamento e experiência, não é adequado o combate direto ao fogo. Os bombeiros têm orientado os proprietários rurais a fazer aceiros na época certa, que são desmatamentos controlados que impedem o fogo de atravessar de um lado para o outro, além de proteger as áreas construídas.
Segundo Amilton Sá, a maioria dos proprietários não realiza os aceiros da forma correta. Também é possível realizar aceiros improvisados no momento do incêndio, em volta de propriedades e equipamentos, além de ligar irrigadores e mangueiras, para retardar o avanço das chamas.
O início das chuvas amenizou os incêndios este ano, mas ainda não é certeiro que a situação será essa até o final do ano. “A gente ainda se preocupa de manter o alerta de orientação. Pode ser que tenha tempo suficiente para secar a vegetação e ficar vulnerável a incêndios”, explicou o capitão dos bombeiros.