Morte de idosa em hospital: morador de rua e vigilante são indiciados
Câmera flagrou segurança mexendo no celular, enquanto homem não autorizado entrava em ala de pacientes. Causa da morte ainda está indefinida
atualizado
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Goiânia – Duas pessoas foram indiciadas por homicídio (por dolo eventual e sem intenção de matar) pela morte da idosa Neuza Cândida, de 75 anos, dentro do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). O incidente foi no dia 7 de abril e o relatório final do inquérito é de domingo (17/4).
O morador de rua Ronaldo do Nascimento entrou no hospital sem autorização e teria manipulado a paciente em estado grave, o que provocou a morte dela, segundo a Polícia Civil. Ele foi indiciado por homicídio com dolo eventual.
Já o vigilante terceirizado do hospital Dione Gabriel Soares Martins, que não impediu a entrada de Ronaldo na unidade de saúde, foi indiciado por homicídio culposo.
Descuido
Ronaldo, que está preso, foi indiciado ter assumido o risco de causar a morte da idosa hospitalizada, ao manuseá-la sem conhecimento técnico.
Já o vigilante Dione Gabriel, da empresa 5 Estrelas Sistema de Segurança, foi indiciado por homicídio sem a intenção de matar. Um vídeo das câmeras de segurança do Hugo mostram quando Ronaldo consegue acessar a área dos pacientes, mesmo sem ter autorização.
“O segurança aparece nas imagens manuseando um aparelho celular, nota a presença do investigado, e não toma nenhuma atitude visando verificar se se tratava de pessoa autorizada ou não a acessar aquele local, permitindo assim, sua entrada”, relatou o delegado Rhaniel Almeida no relatório final da investigação.
Veja o vídeo:
Em seu depoimento na Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), o vigilante alegou que teria permitido Ronaldo entrar porque ele iria usar o banheiro, o que seria permitido pela direção do hospital, assim como mexer no celular do horário do expediente. Em ofício, o Hugo negou essas autorizações.
Sem autorização
De qualquer maneira, o delegado considerou que o vigilante deveria ter verificado se a pessoa autorizada voltou do banheiro. Segundo análise da Polícia Civil, Ronaldo andou por cerca de 4 horas dentro do hospital.
O morador de rua ficou 50 minutos dentro do quarto da paciente Neuza. Ele nega que tenha matado a idosa, mas admitiu ter manipulado ela em seu leito e que, ato contínuo, ela teria começado a passar mal.
Na conclusão do inquérito, o delegado sugere a realização de exame de sanidade mental em Ronaldo do Nascimento. Há indícios de que ele tenha alguma doença psiquiátrica. O objetivo do exame, é verificar se ele pode ser imputável.
Causa da morte
De acordo com relatório do médico legista Paulo Cezar Ribeiro Gomes Junior, “não há elementos para afirmar ou negar que possa ter ocorrido manipulação de vias aéreas”.
No entanto, ainda segundo o médico, “qualquer manipulação de vias aéreas, seja esta via natural ou cirúrgica, ou ainda mudança de posição no leito e manipulação exacerbada da paciente no leito, pode promover uma piora da hipoxemia (baixo nível de oxigênio) da doente”, podendo até provocar mal súbito.
O defensor público Luiz Henrique Silva Almeida, que fez a defesa inicial de Ronaldo, entende que a comprovação de que a morte da idosa não foi causada por asfixia com uso de violência vai ao encontro da versão do morador de rua. O caso agora vai ser passado para outro defensor. A Defensoria Pública do Estado de Goiás informou que “ainda não teve acesso ao inquérito e no momento oportuno, dentro do processo, adotará medidas pertinentes, garantindo ao acusado assistência integral e gratuita”.
A reportagem tenta localizar a defesa do vigilante Dione, o Hugo e a empresa terceirizada de segurança. Na época da morte, o hospital divulgou que colabora com as investigações e que está revisando todos os seus protocolos.