Moro sugeriu a procuradores vazar dados sigilosos sobre a Venezuela
“Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela”, disse o ex-juiz a Deltan Dallagnol
atualizado
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A força-tarefa da Lava Jato teria se empenhado em revelar informações sigilosas sobre atos de corrupção na Venezuela a fim de dar uma resposta política ao endurecimento do regime imposto por Nicolás Maduro ao país vizinho, mesmo que a ação não tivesse efeitos jurídicos. Novas conversas vazadas pelo site The Intercept Brasil e publicadas pela Folha de São Paulo neste domingo (08/07/2019) indicam que os procuradores tomaram tal decisão após receber sugestões do então juiz federal Sergio Moro.
De acordo com a Folha, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a força-tarefa em Curitiba mantinham diálogo constante com procuradores venezuelanos que acusavam Maduro de persegui-los.
Em 5 de agosto de 2017, Moro usou o aplicativo Telegram para sugerir ao coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol. “Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, diz trecho de um dos diálogos.
Um ano antes, diretores da Odebrecht admitiram o pagamento de suborno para fechar parcerias comerciais em 11 países, um deles seria a Venezuela. No entanto, todas as informações contidas na delação eram mantidas em sigilo por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em resposta a Moro, Dallagnol diz concordar, apesar de demonstrar certa preocupação com uma possível desaprovação de setores da sociedade. “Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos”, assinalou.
Receio da força-tarefa
Moro, então, reforça que o vazamento é a opção mais viável naquele momento, independentemente da possibilidade do ingresso de uma ação penal futura. “Tinha pensado inicialmente em tornar público. Acusação daí vcs têm que estudar viabilidade”.
O procurador retruca alertando sobre a inviabilidade de a força-tarefa divulgar a delação, mas indica um outro caminho: “Não dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá para enviar informação espontânea [à Venezuela] e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público”.
Nos dias seguintes, membros da força-tarefa se mostraram receosos com o assunto. Em um grupo no aplicativo de mensagens, Paulo Galgão ponderou: “Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes”. Na sequência, Athayde Ribeiro Costa emenda: “Imagina se ajuizamos e o maluco manda prender todos os brasileiros no território venezuelano”.
Dallagnol, então, tenta minimizar o medo dos colegas: “PG [Paulo Galvão], quanto ao risco, é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem. Eles têm o direito de se insurgirem”.