Moraes: “Seria esquizofrênico eu, como presidente do TSE, me oficiar”
O ministro do STF comentou reportagem da Folha de S.Paulo que mostrou mensagens que questionam sua conduta diante dos ritos legais
atualizado
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ter agido dentro da legalidade, com todos os documentos protocolados em inquéritos de relatoria dele. Em sessão do STF, nesta quarta-feira (14/8), Moraes comentou reportagem do jornal Folha de S.Paulo que apontou possível postura dele em impor, de forma não oficial, a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões contra bolsonaristas no inquérito das fakes news no STF, durante e após as eleições de 2022.
Em sua fala, Moraes afirmou que “nenhuma das matérias preocupa o meu gabinete ou me preocupa, tampouco a lisura dos procedimentos”, analisou. Moraes ainda ressaltou que “não há nada a esconder” e que todos os documentos oficiais foram juntados a investigações nos inquéritos”.
Disse ainda que, “obviamente, o caminho mais eficiente era a solicitação ao TSE, uma vez que a PF pouco ajudava naquele momento. Seria esquizofrênico se eu, como presidente do TSE, me oficiasse, até porque como então presidente, eu tinha o poder de pedir os relatórios. Eu, como presidente, determinava à assessoria que fizesse o relatório. Feito, ele era enviado oficialmente ao STF e protocolado no inquérito”.
O ministro ainda chamou algumas imputações às suas condutas de “interpretações falsas”. “Lamento que interpretações falsas, errôneas, de boa ou má-fé acabem produzindo o que precisamos combater, que são notícias fraudulentas. O que vimos de ontem para hoje foi a produção massiva de notícias fraudulentas”, analisou.
Assista:
Defesa
Na sessão desta quarta-feira (14/8), o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que gostaria de esclarecer os fatos e defender Moraes. “Na vida, existem tempestades reais e tempestades fictícias. A meu ver, estamos diante de uma tempestade fictícia”, disse na abertura da sessão no Supremo.
Barroso ainda fez uma explicação rápida sobre como funcionam as solicitações judiciais e os ritos dentro de inquéritos já existentes e compartilhados entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o STF. “Todas as informações solicitadas pelo STF e por Moraes referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas e, portanto, em inquérito que já estava aberto. São informações voltadas à obtenção de dados diante das condutas de reiterados ataques à democracia”, ressaltou.
O presidente do STF continuou: “São informações para instruir inquéritos que já estavam em curso. Todas essas informações eram públicas, solicitadas ao órgão do TSE que fazia o acompanhamento das redes sociais. Não houve investigação de natureza policial ou que dependesse nem sequer de reserva. Era um acompanhamento de dados e informações de redes sociais para avaliar se ali havia conduta criminosa. É muito importante deixar claro: não houve pedido direcionado a qualquer pessoa”.
Quanto aos pedidos fora do processo, Barroso ressaltou que todas as informações que chegavam eram formalizadas. “Não houve circulação de dados ou informações que não estivessem documentadas no processo. Também houve a percepção equivocada de que existiram iniciativas de ofício. Muito importante observar que o TSE tem poder de polícia. Poder de fiscalizar e reprimir condutas irregulares. O poder de polícia é exercido de ofício. O TSE tem dever jurídico de atuar”, disse Barroso.
“Em defesa do ministro Alexandre de Moraes e dos ataques impróprios e injustos, gostaria de lembrar o contexto que essa situação está inserida, o que estávamos vivendo naquela conjuntura. O STF recebeu ataques graves no Dia da Independência do Brasil; víamos acampamentos de pessoas pedindo golpe de Estado; tivemos situação de ministros cercados por centenas de pessoas com ameaças de agressão; tivemos um homem que colocou uma bomba no aeroporto. Era o que vivíamos”, completou Barroso.
Veja fala:
O ministro Gilmar Mendes também se pronunciou. “É fundamental que defendamos quem enfrenta as ameaças. Relatórios de notícias públicas que circulavam nas redes sociais. Não houve invasão de privacidade. A ideia era registrar dados relevantes sobre possíveis publicações criminosas para não perder os dados, se eles fossem apagados. Além de relator do inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, Moraes também integrava o TSE, que tem poder de polícia”, lembrou Gilmar.
Conversas
Segundo a Folha, conversas mostram como o setor de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comandado na época por Moraes, foi usado como um braço investigativo do gabinete do ministro no STF.
As mensagens apontam um fluxo incomum entre os dois tribunais. O órgão de combate à desinformação do TSE foi empregado para investigar e fornecer informações relacionadas a um inquérito de outro tribunal, o STF, sobre questões que podem ou não estar relacionadas com a eleição daquele ano.
A reportagem da Folha teve acesso a diversas mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares do Alexandre de Moraes, no qual está o seu principal assessor no STF, que ocupa até hoje o posto de juiz instrutor, e outros componentes da sua equipe no TSE e no Supremo.
Nas mensagens, os assessores relataram irritação do ministro com a demora no atendimento às suas ordens. “Vocês querem que eu faça o laudo?”, questionou o ministro. “Ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”, comentou um dos assessores.