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Moradores fazem lista de desejos para Suzano se reerguer após chacina

Na última quarta-feira, 10 pessoas morreram após um brutal atentado, incluindo autores da matança. Em luto, comunidade tenta seguir adiante

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1 de 1 suzano desejos13 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Enviados especiais a Suzano (SP) – Há uma semana, Guilherme Taucci Medeiros, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, invadiram o local e realizaram uma matança que deixou 10 vítimas, incluindo ambos. Desde então, não houve um dia sequer sem que estudantes, parentes e moradores de Suzano, município a 50 km da capital paulista, não homenageassem as vítimas da chacina.

Aos poucos, as respostas para o massacre sangrento começam a aparecer. Um adolescente de 17 anos foi apreendido, acusado de ser um dos idealizadores do crime, embora não tenha participado da execução. Os investigadores começam a traçar o perfil dos responsáveis pela chacina, que agiram com frieza e planejaram o ataque durante um ano. De acordo com a polícia, o plano do trio era barbarizar ainda mais, violando e esfaqueando seus alvos.

Confira a linha do tempo do crime:

Passado o impacto inicial da tragédia, com a tristeza dos velórios e o amargor das despedidas, Suzano e seus moradores pesarosos começam a retomar lentamente a rotina. Os cartazes colocados nos muros da Escola Estadual Raul Brasil, onde sete vítimas tombaram, e a dupla executora cumpriu a promessa de não se deixar prender viva, mudaram de tom. Ainda são mensagens de luto, mas que agora revelam esperança no futuro.

Em memória aos 10 mortos de Suzano, o Metrópoles reuniu o mesmo número de depoimentos de habitantes. São reflexões sobre como a comunidade pode superar tamanha tragédia: antes da chacina, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo havia registrado apenas um homicídio em 2019 na pacata cidade, cuja prefeitura municipal contabiliza pouco mais de 285 mil moradores.

Veja a seguir o desejo de quem teve a vida transformada de forma irreversível pela chacina.

 

Força
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A aposentada Joenice Martins Pedreira, de 66 anos, recebeu um sem número de abraços desde a tragédia. Ela é avó de um dos sobreviventes. Lucas Pedreira, de 16 anos, escapou da morte pulando o muro da escola. “O Lucas viu o matador correndo na direção dele com arma apontada. Para esquecer um trauma desses, é preciso muita força. Quero força para ele, para mim e para todos que estão sofrendo com essa tragédia”, torce a mulher.

O menino quer ser jogador de futebol. A avó deseja que ele tenha energia para correr atrás de seus sonhos. “Tomara que o trauma provocado por essa desgraça não o impeça de realizar seus desejos, seus sonhos”, acrescenta a matriarca da família Pedreira.

 


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As filhas gêmeas da psicóloga Adriana Maria da Costa Trindade, de 44 anos, estudam na Raul Brasil. As meninas de 11 anos frequentam o colégio há dois anos. Nesta terça, a mãe visitava o local pela primeira vez. “Superar essa tragédia vai precisar de muita fé. Só Deus pode nos ajudar neste momento”, destaca.

Para Adriana, o crime foi alimentado pela incredulidade dos assassinos. “Não é possível que jovens como esses consigam maquinar o mal com tamanha crueldade. As pessoas estão descrentes, por isso uma tragédia como essa acontece”, avalia.

Mudança
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O olhar fixo na porta de entrada do Raul Brasil denuncia o pesar do ajudante-geral Alexandre Rodrigues Bento, de 43 anos. Muito emocionado, ele diz que a tragédia tem que deixar algum legado além da dor. “Essas mortes têm que servir para uma mudança de comportamento profunda na sociedade. Temos de observar o que estamos fazendo e avaliar o que precisa ser alterado”, pondera.

Apesar de a família dele ser do interior paulista, Alexandre reconhece Suzano como sua casa. “Tios, primos e amigos nasceram e se criaram aqui. É um lugar de boas lembranças, de acolhimento, de ternura. Nunca se imagina uma coisa dessas no lugar onde nos sentimos seguros”, encerra.

 

Responsabilidade social
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Morador de Suzano há 20 anos, o açougueiro Paulo Sérgio Santos, de 49 anos, espera que a tragédia sirva de alerta aos governantes. “É preciso melhorar a saúde, a estrutura dos órgãos públicos e a segurança. É preciso estar atento às necessidades da cidade, das pessoas”, cobra.

Para ele, a questão da saúde é a mais urgente. “Algumas cidades vizinhas têm várias unidades de atendimento básico. Nas daqui, as pessoas esperam por mais de três horas para serem atendidas. Tomara que a responsabilidade social dos governantes seja fortalecida após o massacre”, finaliza o morador do bairro Boa Vista.

 

Paz
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O menino corria em frente à placa com o nome da cidade. Brincando com ele, sua mãe, a auxiliar veterinária Francielly Lima Costa, de 26 anos, curtia momentos de folga. Quando perguntada sobre o que deseja para Suzano, não titubeou: “Quero paz. Quero paz para que meu filho Samuel, de 4 anos, possa correr e brincar assim como ele faz agora. Paz para que ele possa crescer e realizar seus sonhos, seus desejos”, diz, emocionada. “Espero que meu filho tenha essa oportunidade e jamais se torne vítima de uma tragédia como essa”, completa.

 

Segurança
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A baiana Helena Santos, de 46 anos, escolheu Suzano para ser sua casa em 1995. Desde então, as ruas da pacata cidade mudaram muito. “Temos muitos assaltos, roubos e, agora, essa tragédia. É muito triste. A insegurança, a violência cotidiana também nos afeta. Isso precisa mudar”, critica.

Para a dona de casa, a tragédia que se abateu sobre o município também é reflexo da falta de segurança pública. “Talvez, se tivesse mais policiamento, mais vigilância, isso não teria acontecido. Se não pudesse ser totalmente evitado, ao menos teria menos vítimas”, defende.

 

Policiamento
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O trauma causado pelos assassinatos em massa na escola Raul Brasil desencadeou uma permanente sensação de insegurança no estudante Alan Ramos Silva, de 18 anos. Frequentador da escola desde 2017, agora ele teme pela sua integridade.

“Assim como aqui na Raul Brasil, todas as escolas precisam de policiamento, de cuidado. Os alunos são assaltados ao saírem das aulas, são amedrontados ao chegar. Isso não pode continuar”, resume.

 

Futuro
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O morador da Vila Amorim, em Suzano, olha para o filho quando é perguntado sobre o que deseja. O microempresário Tadeu de Souza, 59 anos, sonha que o menino tenha a possibilidade de estudar, crescer e realizar seus sonhos. “Dói imaginar que meu filho poderia ser uma das vítimas, não estar aqui hoje, e seus desejos pessoais e profissionais não se realizarem”, lamenta.

Ele torce para que o menino de 12 anos tenha a mesma sensibilidade dos centenas de alunos da Raul Brasil que foram para a instituição nos últimos dias e distribuíram abraços a conhecidos e desconhecidos, irmanados na dor. “Tomara que cresça e continue uma pessoa de bem, de valores e que distribui amor”, conclui o pai.

 

Diálogo
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O menino tem medo de ir à escola. Desde o massacre, desenvolveu crises nervosas. Tadeu Júnior dos Reis Sousa, de 12 anos, é filho do microempresário Tadeu de Sousa, personagem que o leitor acabou de conhecer. O garoto acompanhou a entrevista do pai com olhar atento e também quis expor seu desejo para Suzano.

“Tomara que agora tenha mais diálogo entre os filhos e os pais, os amigos e entre todo mundo. Assim, os sofrimentos, as tristezas e as brigas são diminuídas”, pede o estudante, antes de se emocionar e abraçar o pai.

 

Amor

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Nascido e criado no bairro Monte Cristo, o auxiliar técnico de segurança Gabriel de Oliveira, de 19 anos, se emociona quando vai falar de sua cidade.

“Eu não trocaria Suzano por nada. Aqui é o melhor lugar do mundo para se viver. Sou muito feliz aqui, embora esteja muito triste pelo que aconteceu”, diz. “Por isso, desejo que as pessoas tenham amor, amor pela cidade e pelas pessoas que aqui vivem”, conclui.

 

Dia será de homenagens

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Cultos ecumênicos e missas de sétimo dia homenageiam a memória das vítimas da chacina em Suzano nesta quarta-feira (20/3). A escola Raul Brasil recebe a comunidade pela primeira vez para atendimentos psicológicos. Durante a semana, professores, funcionários, alunos e pais de vítimas já tiveram momentos de acolhimento na instituição de ensino. As aulas continuam sem data para serem retomadas.

A apuração do crime começa a ganhar musculatura. Nesta terça-feira (19), a Polícia Civil de São Paulo confirmou que o menor de 17 anos apreendido durante a manhã é um dos mentores intelectuais do crime e ajudou na compra do armamento usado pela dupla que executou o plano macabro. Agora, ele é acusado de participação em homicídios. Ficará apreendido preventivamente por 45 dias.

A polícia não sabe dizer ainda os motivos pelos quais o menor não foi para a rua, praticar os assassinatos. Os investigadores concluíram que ele não esteve no colégio no dia da chacina, mas Guilherme e Luiz Henrique foram os carrascos. “O motivo que o levou a não participar ainda está em apuração”, resumiu o promotor do Ministério Público de São Paulo, Rafael do Val.

Ao menos 10 novas provas foram apresentadas. No decorrer da investigação, mais de 30 pessoas já prestaram depoimentos. Entre as ações planejadas pelos dois adolescentes de 17 anos e o rapaz de 25 estavam a matança de namorados de meninas da escola, estupros coletivos e esfaqueamentos em massa. A juíza Erica Marcelina Cruz determinou a apreensão do único dos mentores ainda vivo para que se tenha “tranquilidade social”.

O advogado do adolescente, Marcelo Feller, nega a participação de seu cliente na matança. “A polícia fala que ele sabia o que aconteceria, mas não sabia quando. Se a pessoa sabe o que vai acontecer, sabe quem vai atirar, não avisaria quem estava praticando o que foi planejado”, disse, referindo-se à troca de mensagens entre o suspeito e o atirador Guilherme Taucci.

O adolescente teria mandado um recado a Taucci, dizendo que houve um ataque, e o assassino teria um machado igual ao do colega. Marcelo Feller chegou a pedir que o suspeito ficasse apreendido em casa e monitorado com uma tornozeleira eletrônica. Contudo, o pedido foi negado.

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