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Moradores do Leblon tentam impedir projeto comercial em parque tombado

Jardim de Alah, no Rio de Janeiro, está no centro das discussões entre moradores da zona sul e a Prefeitura

atualizado

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Foto colorida do Jardim de Alha, no Rio de Janeiro - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do Jardim de Alha, no Rio de Janeiro - Metrópoles - Foto: AF Rodrigues/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images

O Jardim de Alah, espaço verde localizado entre os bairros de Ipanema e Leblon, na zona sul carioca, tem futuro incerto. A Prefeitura do Rio de Janeiro assinou, no final do ano passado, um contrato de concessão para a revitalização do local. Um movimento de moradores, no entanto, alega que a medida pode destruir a flora para a construção de uma espécie de shopping a céu aberto.

O prefeito Eduardo Paes (PSD) autorizou a concessão do Jardim de Alah ao Consórcio Rio + Verde. O vencedor da licitação ficará responsável por investir mais de R$ 110 milhões em melhorias no local e outros R$ 20 milhões por ano para manutenção e operação do espaço pelos próximos 35 anos.

O consórcio rebate as reclamações dos moradores e diz que o projeto não trará destruição, mas ampliação da área verde e outros benefícios para cariocas e turistas.

“É inaceitável ter, entre dois bairros tão cariocas, valorizados e democráticos, uma fratura como é o Jardim de Alah. Essa é uma mudança histórica para a cidade, vamos integrar ainda mais os dois bairros e criar mais um espaço público de qualidade na cidade. É uma concessão privada, mas um parque que vai manter sua dimensão pública”, afirmou o prefeito Eduardo Paes em novembro de 2023, época da assinatura do acordo.

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Projeto apresentado para o Jardim de Alah
A expectativa do governo municipal é de ampliar as oportunidades na região
Comércio da obra de revitalização do Jardim de Alah
Obra do Jardim de Alah
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Jardim de Alah atualmente

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Projeto apresentado para o Jardim de Alah

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A expectativa do governo municipal é de ampliar as oportunidades na região

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Comércio da obra de revitalização do Jardim de Alah

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Obra do Jardim de Alah

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As reclamações

O projeto prevê a construção de duas quadras poliesportivas, um ginásio multiuso, um espaço para crianças, uma área para a terceira idade com equipamentos de ginástica e mesas de jogos.

Karin Morton, presidente da Associação dos Moradores e Defensores do Jardim de Alah, argumenta que a prefeitura quer construir um shopping center no local, com lojas e restaurantes onde, atualmente, há árvores e espaços verdes.

“Como carioca apaixonada pela minha cidade, fico indignada e com vergonha da destruição sistemática das áreas verdes do Rio enquanto o mundo está buscando recuperar áreas verdes nos aqui concretando”, afirma Karin.

Karin destaca que a decisão de conceder o Jardim de Alah para iniciativa privada está em desacordo com o artigo 235 da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro.

“As áreas verdes, praças, parques, jardins e unidades de conservação são patrimônio público inalienável, sendo proibida sua concessão ou cessão, bem como qualquer atividade ou empreendimento público ou privado que danifique ou altere suas características originais”, diz trecho da Lei Orgânica carioca.

Para a presidente da associação de moradores, uma parceria Pública Privada Comunitária seria uma maneira de preservar o local histórico e gerar renda na região. Karin cita, por exemplo, o que acontece no Central Park, em Nova York, nos Estados Unidos.

“O Central Park não é uma concessão. É uma verdadeira parceria entre a prefeitura e a Central Park Conservancy (uma entidade sem fins lucrativos). A CPC trata da manutenção do parque. Existem pequenas concessões dentro do parque mas estes contratos são com a prefeitura e não com o CPC (zoológico, pista de patinação no gelo, restaurantes etc). Obviamente a CPC é envolvida e consultada nas determinações das regras de uso. Já que ela tem que manter a área”, explica a presidente da associação de moradores.

Outro ponto argumentado pela associação de moradores é de que o Jardim de Alah serve como um canal de escoamento da água da chuva e evitaria o alagamento do Leblon e de Ipanema. Com a revitalização, esse processo seria interrompido, segundo eles.

Antes de ser um jardim, o canal foi construído na década de 1920 com o intuito de ligar a Lagoa Rodrigo de Freitas a praia, uma medida para evitar enchentes em dois dos bairros mais conhecidos da capital fluminense.

Os jardins do local ficaram prontos na década de 1930. O projeto foi baseado no trabalho do arquiteto francês Alfredo Agache e a obra desenvolvida pelo brasileiro David Xavier de Azambuja.

Para tentar evitar a concessão do Jardim de Alah, os moradores procuraram a vereadora Luciana Boiteux (PSol-RJ). Em conversa com o Metrópoles, a vereadora argumentou que o prefeito Eduardo Paes está em desacordo com a Lei Orgânica do Município, além de não ouvir as reivindicações dos moradores.

“Esse projeto está sendo vendido como uma grande mudança, está sendo vendido como uma grande potencialidade de transformação, mas a prefeitura não está abrindo espaço para escutar os moradores”, declara a parlamentar.

“Está vendendo uma imagem que apenas a privatização resolveria os problemas, mas está vendendo uma ideia que poderia ser pensado de outra maneira. Não precisamos de mais lojas, não precisamos de restaurantes no Jardim de Alah”, completa a vereadora.

Os argumentos do consórcio

“O Rio de Janeiro terá uma nova área verde, rica em lazer e cultura”, alega, sobre o projeto, o consórcio Rio + Verde Empreendimentos, formado pelas empresas Accioly Participações, DC Set Group, Opy Soluções Urbanas e Pepira.

“O Parque Jardim de Alah, localizado no coração da Zona Sul da cidade, entre os bairros de Ipanema e Leblon, será revitalizado com a proposta de atrair novamente frequentadores para o espaço, que hoje se encontra abandonado. Alguns dos destaques do projeto são a ampliação da área verde em 30% e a criação de um plano de integração social que abriga os pilares ‘esporte’, ‘educação’ e ‘cultura’ como vetores de transformação, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida local”, segue a nota do consórcio.

Para Miguel Pinto Guimarães, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto, os jardins e parques da cidade são espaços públicos e de convivência, mas também cumprem um grande papel social e ambiental.

“A proposta do projeto é trabalhar em acordo com as paisagens tanto natural quanto construída, respeitando a escala dos bairros, a proximidade com as orlas da praia e da Lagoa e criando normas específicas de ordenamento e de melhorias que o Jardim de Alah merece. Estamos falando de uma peça fundamental para as paisagens cariocas. O parque reúne um conjunto rico em histórias e narrativas, tanto culturais quanto naturais. Pensando nisso, elaboramos uma proposta de reestruturação desse território que permita atualizar a relação da população com a natureza e a urbanidade, representando valores atuais de uma cidade contemporânea sempre em transformação”, afirma Miguel Pinto Guimarães.

Ainda segundo o arquiteto, a revitalização do parque prevê uma área verde mais ampla que, somando-se as árvores existentes às mais de 200 previstas no paisagismo. A superfície do parque será aumentada em 30% e a área permeável em 32%, diz o consórcio.

O Rio + Verde alega ainda que há um pilar social no projeto, que leva em conta a presença da Cruzada São Sebastião, comunidade com cinco mil habitantes ligada ao parque. “Além dos equipamentos sociais projetados como a creche para trezentos alunos e ginásio para as inúmeras atividades esportivas desenvolvidas por ONGs no conjunto habitacional, foram assinados convênios com diversas instituições de renome, como Tablado, CBF, NBA, Flamengo, Botafogo e Vasco, muitas delas com sedes vizinhas ao parque, que abrirão vagas em suas escolinhas culturais e esportivas para alunos da comunidade, além de patrocinar e fomentar ações nas áreas projetadas, criando um ecossistema ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas em torno de esporte e educação, oferecendo oportunidades para que os jovens da Cruzada usufruam de todos os espaços públicos a que têm direito como cidadãos”, diz o texto.

O que diz a Prefeitura do Rio

A Prefeitura do Rio de Janeiro informou ao Metrópoles, por meio de nota, que não há a possibilidade do Jardim de Alah virar um shopping a céu aberto e que os investimentos serão destinados para revitalização do local para que ele permaneça como um parque público de acesso gratuito a todos os cariocas

“Não há qualquer possibilidade de transformação do local em um shopping e nem na descaracterização do espaço como praça pública como sempre foi e sempre será. O projeto expande em 30% a área verde, aumentando a permeabilidade do solo e recuperando a flora original”, defende o governo municipal.

“O projeto também conta com uma reconfiguração do sistema de drenagem de águas pluviais no entorno – o que, aliado ao aumento de área verde, deverá diminuir ainda mais o risco de alagamentos nas ruas adjacentes”, enfatiza a prefeitura.

A Prefeitura do Rio complementa que o governo fará a fiscalização do contrato e do desempenho da obra, para garantir que a concessionária cumpra com os acordos previamente definidos.

“A Prefeitura continuará responsável pelo trabalho de desassoreamento desempenhado pela Rio Águas. O projeto das obras passará, ainda, pela análise do instituto para garantir que não haja novo impacto no canal”, salienta a nota.

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