Moradores de Nova Lima cobram explicações da Vale após serem evacuados
Em menos de duas semanas, foi a terceira localidade mineira cuja população precisou deixar casas por risco de rompimento de barragem
atualizado
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Minas Gerais – Mais uma barragem corre o risco de se romper no território mineiro. Dessa vez, cerca de 110 pessoas tiveram que deixar suas casas no Distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos. O local fica a cerca de 40km do Córrego do Feijão, onde uma barragem da Vale se rompeu em 25 de janeiro, matando centenas de pessoas. A possibilidade de uma nova tragédia assusta os moradores e traz à tona, mais uma vez, a necessidade de uma mudança no manejo das barragens no estado.
Ainda não há uma expectativa de quando os moradores de Macacos poderão retornar para as suas casas. A saída às pressas, sem um plano de emergência, deixou o vilarejo em pânico. Na noite desta segunda-feira (18/2), os moradores se reúnem pela primeira vez desde que foram evacuados (foto em destaque), a fim de organizar o grupo a adotar providências conjuntamente.
A comunidade clama por mais atenção por parte da Vale, responsável pela barragem com risco de rompimento na localidade, e mais informações. “Ninguém sabia para onde sair, não foi apresentado um plano [de emergência] e isso é algo que exigimos desde o ano de 2014”, denunciou a atriz Tatiana Silva Mota, de 28 anos.
A sirene foi acionada devido a problemas na barragem B3/B4, da Mina Mata Atlântica, na noite do último sábado (16/2). Engarrafamentos se formaram nos acessos da cidade e ninguém sabia como proceder. Aos poucos, as pessoas foram sendo encaminhadas para hotéis em Belo Horizonte. Alguns puderam retornar para casa.
“Soube mais informações em um grupo de moradores no WhatsApp, porque a Vale estava com o cadastro totalmente desatualizado e avisou apenas algumas pessoas. No mapa, eles não sabiam da existência de muitas casas e muito menos de algumas mudanças de acesso”, disse Tatiana. “Fiquei muito apreensiva quando chegamos na associação de moradores para sermos orientados”, contou.
A reunião dos moradores conta também com a presença dos ministérios públicos estadual e federal, além de representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Para Tatiana, mesmo sem a estrutura na região ter rompido, a comunidade já deve ser considerada como atingida por problemas em barragens. Sair de casa, ter que deixar os animais de estimação com amigos, alimentar-se mal e não ter previsão de quando e como retomará a vida são as principais angústias.
“Permaneço o tempo todo com muito medo. A questão é maior do que a preservação da minha vida. Se a barragem romper, perderei tudo. Se não romper, ainda não sei quanto tempo isso [ficar fora de casa e em situação indefinida] vai demorar”, lamenta. “A casa faz parte da nossa identidade, da nossa história. O comércio local está fechado e tendo muitos prejuízos, e o acesso para a cidade é um só e ficará interrompido caso a lama chegue. São muitas pessoas afetadas”, acrescenta a atriz.
A barragem
A estrutura em risco no vilarejo de Macacos já estava fora de operação. Segundo a Vale, a emissão do alerta e evacuação dos moradores são medidas de segurança. A unidade tem cerca de 3 milhões de metros cúbicos de rejeito. Em caso de rompimento, 49 imóveis seriam atingidos.
A Vale informou, por meio de nota, que a simulação de emergência estava prevista para o mês de junho e que foram realizadas reuniões para apresentar o Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) em novembro do ano passado.
Nesta tarde, a Polícia Militar começou a flexibilizar o bloqueio montado no distrito, mas a passagem ainda está sendo monitorada por policiais e funcionários da mineradora, que ficam no local com rádios de comunicação e outros equipamentos. A barragem saiu do nível 1 para o nível 2 de segurança. Caso chegue ao nível 3, há rompimento. As famílias retiradas da região residem em uma zona chamada de autossalvamento e seriam atingidas diretamente pela lama.