Compartilhar notícia
Porto Alegre – No Sarandi, região gravemente impactada pelas enchentes na zona norte de Porto Alegre (RS), o rompimento de um dique ainda não resolvido mantém 24 mil moradores fora de casa há 26 dias. Indignados, eles aguardam o escoamento da água. Ao todo, são 19 mil casas submersas, segundo a Associação de Moradores Vila Elisabeth e Parque (AMVEP).
Em uma bacia de contaminantes que mistura óleo de motor de carros, lixo, fezes, resíduos orgânicos, animais em decomposição e lixo de todo tipo, os moradores se arriscam em busca de notícias sobre suas moradias. Eles fazem fila para entrar em barcos que cruzam ruelas estreitas, com fios pendurados que quase encostam na água.
“Mesmo não havendo bombas, o cenário é de guerra”, diz um dos soldados que dirigem a embarcação. Diariamente, barcos militares e civis vão e voltam dezenas de vezes, levando moradores de uma área seca, onde a água já baixou, até os pontos alagados. Com receio de assalto, as pessoas querem ver se está tudo bem, se seus pertences estão lá, se alguém entrou.
A imagem é chocante: não está tudo bem, a água entrou e segue lá até agora, há 26 dias.
Considerado um dos bairros mais antigos e mais amplos da capital, o Sarandi tem 90 mil habitantes e fica próximo ao Rio Gravataí. Antes era até chamado Várzea do Gravataí, justamente por dar passagem ao curso d’água que leva o mesmo nome.
“Aqui nós estamos acostumados com alagamento, a água sempre quer voltar ao seu lugar de origem. Mas nunca foi tão impactante como agora, estamos horrorizados”, disse a videomaker Michele Lorena de Oliveira Cavalcante, de 25 anos. Ela era uma das pessoas que aguardavam na fila uma vaga para ir checar sua casa.
Com câmera a tiracolo, Michele queria registrar o estado da morada, para buscar auxílio financeiro na reconstrução. Sua família tem uma farmácia na região, que também ainda está submersa.
O marceneiro Thiago Ribeiro Fragoso, morador do Sarandi, também perdeu seu sustento. “A ficha vai começar a cair conforme formos voltando para casa. Ainda estamos lutando para sobreviver”, relata.
Fragoso e a filha Talita buscam retirar de casa alguns itens que restaram, como televisores, e pelas redes sociais tentam localizar o animal de estimação, o cachorro chamado Preto. Esta é a situação de muitos ali, empreendedores que perderam casa e trabalho ao mesmo tempo.
“Vamos ter de decidir se será possível ir para outro local ou nos reerguemos por aqui. Será preciso buscarmos anistia de juros, dívidas, senão vamos ter um esvaziamento geral do bairro”, diz o vice-presidente da associação de moradores, Jarcedi de Araújo.
Segundo Araújo, as três bombas da Sabesp instaladas no local ajudam, mas não resolvem o problema. “O dique está em processo de conserto parcial. Por isso a água não está escoando, e a primeira chuva que cair, alaga tudo novamente”, alerta.
A solução em curso deve ser finalizada até domingo, quando a água deve começar a escoar.
Por meio da assessoria, o Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE) de Porto Alegre informou que, além da instalação das três bombas, a prefeitura está reconstruindo o dique e, para isso, removeu algumas famílias do local. Após essa etapa, serão colocadas novas bombas ali e também será possível acessar mais duas que ainda estão inundadas.