Moradora de Goiás perde dois ex-maridos para a Covid
Os filhos que teve dos casamentos ficaram órfãos de pai. “Tive que virar mãe e pai”, conta Mariah Moura, que atualmente mora em Goianésia
atualizado
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Goiânia – A Covid-19 mudou para sempre a estrutura da família da técnica de enfermagem Mariah Moura, de 38 anos. Em um intervalo de menos de um ano, ela perdeu os dois ex-maridos. A mulher tem um filho de cada relacionamento.
Mariah vive em Goianésia (GO), região central do estado, com os filhos Matheus Silva, de 22 anos, e Joaquim Fialho dos Santos Netto, de 11. Ela morava em Buriti Bravo (MA) e se mudou para o interior de Goiás em 2013, junto do então marido, o médico Flávio Fialho, que tinha parentes na cidade. Ele era esposo do segundo casamento da técnica de enfermagem.
Morte no front
Foram 12 anos de relacionamento. Mesmo após a separação, Flávio e Mariah continuavam amigos próximos. Desde o início da pandemia, ele trabalhava na linha de frente contra a Covid-19, mas sempre arrumava um tempo para estar ao lado do filho, Joaquim. Quase todo fim do dia visitava o garoto, depois do expediente.
“Ele era um bom pai, cuidava muito bem do filho e inclusive de mim. Ele não deixava eu trabalhar de jeito nenhum, para ficar por conta do Joaquim. Não está sendo fácil. É um recomeço que eu nunca imaginei que fosse ter que enfrentar”, recorda Mariah.
Flávio morreu, aos 49 anos, no dia 21 de julho de 2020, depois de vários dias internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI). O médico chegou a contar para a ex-mulher que tinha testado positivo. Ele foi hospitalizado depois de começar a sentir falta de ar.
Depois que Flávio morreu, a família passou por um turbilhão. Mariah teve de trancar a faculdade por um semestre, que era paga pelo ex-marido. Pouco antes da morte do médico, pai e filho fizeram uma viagem ao Tocantins, que se tornou um marco. Ainda hoje Joaquim chora ao lembrar do pai, segundo a técnica de enfermagem.
Segunda perda
A segunda perda ocorreu quase um ano após a primeira. O filho mais velho de Mariah, Matheus, ficou órfão do pai no último dia 18/7, também em decorrência do coronavírus.
Marido do primeiro casamento de Mariah, Daniel Pereira, de 44, foi diagnosticado com a Covid-19 em Teresina (PI) e não resistiu. Apesar da distância, o garoto mantinha contato com o pai, que pagava sua faculdade. O homem era professor e dono de uma padaria.
“Eu tive que virar mãe e pai. Pegar uma responsabilidade que eu sabia que um dia poderia acontecer, mas nunca imaginei que fosse tão cedo, meus dois meninos ficarem órfãos dos pais tão próximos um do outro. Tenho meus pais até hoje e fico muito triste de ver meus filhos tão novos sem [pai]”
Mariah relata que, às vezes, fica até sem saber o que falar para os filhos. Disse ainda que se pega sem acreditar no que aconteceu. A família vive um processo de reestruturação financeira e emocional.
Pandemia resiste
A técnica de enfermagem avalia que as duas perdas fizeram com que ela refletisse sobre a importância de valorizar as pessoas amadas e ficar ao lado delas. Pondera ainda que passou a ter uma real dimensão da pandemia. No hospital em que Mariah trabalha, ela é conhecida como “a mulher das três máscaras”, porque sempre usa tripla proteção.
“Eu ando nas ruas e vejo muita gente que não usa mais máscara. As pessoas não têm noção da gravidade do vírus. Quem perdeu um familiar ou um ente querido tão próximo, como eu perdi, sabe que ele mata.”