Mooca tem maior aumento de população de rua entre bairros de SP: 170%
Região administrativa da subprefeitura da Mooca foi a que teve o maior crescimento de pessoas em situação de rua, indica censo da prefeitura
atualizado
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São Paulo – Tradicional bairro de classe média alta da capital, a Mooca, na área central, teve um aumento expressivo de pessoas em situação de rua nos últimos dois anos, durante a pandemia.
Segundo o Censo da População em Situação de Rua, da Prefeitura de São Paulo, a subprefeitura da Mooca foi a região administrativa que mostrou a maior expansão nesse quesito. O crescimento foi de 170%: em 2019, havia 1.419 pessoas morando nas ruas por lá e, agora, são 2.254.
“Isso pode ter acontecido devido às intervenções da polícia na Cracolândia. Essa população migrou para a Mooca, onde as ações não ocorrem”, comentou André Soler, fundador da organização não-governamental (ONG) SP Invisível, que tem como objetivo dar visibilidade para essa população e transformar o olhar da sociedade a respeito dela.
O secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra Jr, afirmou que é comum que as pessoas de rua se concentrem nas áreas mais centrais da cidade. “Isso está relacionado à oferta de empregos e serviços e à facilidade de locomoção”, disse, em entrevista ao Metrópoles.
Aumento na cidade toda
Um indicador do censo que corrobora a percepção de Soler é o crescimento da quantidade de pontos de concentração de indivíduos. Em 2019, havia 6.816 pontos, já em 2021 o número subiu para 12.438, um aumentou de 82,5%.
Em todas as subprefeituras, a ampliação de indivíduos vivendo nas ruas foi superior a 100%. A região da subprefeitura da Sé, conhecida por esse cenário, recebeu mais 973 pessoas nessas condições.
Outras regiões que marcaram um crescimento relevante foram Perus, Vila Maria-Vila Guilherme e Santana-Tucuruvi, na zona norte; Penha, Itaquera, Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Sapopemba, Guaianases e Itaim Paulista, na zona leste; e Ipiranga, Vila Mariana, Jabaquara e M’Boi Mirim, nas zonas sudeste e sul.
Famílias nas ruas
Aumentou também o número de famílias nas ruas. Em 2019, 20% dos entrevistados pelo censo responderam que tinham a companhia de alguém que consideravam ser integrante de sua família. Em 2021, esse percentual subiu para 28,6%.
Cresceu ainda 330% o número de barracas, chamadas pelos os recenseadores de “moradias improvisadas”. Em 2019, eram 2.051; em 2021, foram registradas 6.778.
“A presença de barracas está ligada diretamente ao número de novas pessoas em situação de rua na pandemia, que ainda têm muito forte um sentido de casa, de segurança, de composição mínima de família”, disse o secretário.
O percentual de mulheres em situação de rua subiu de 14,8%, em 2019, para 16,6%, em 2021.
Moradia primeiro
A partir desses dados, a prefeitura desenvolveu o Programa Reencontro, que reunirá ações de diversas secretarias e tem a premissa de “moradias primeiro”.
Serão 1,6 mil vagas em moradias temporária voltadas prioritariamente a pessoas que estão com famílias e há menos de um ano em situação de rua. Já em moradias permanentes serão três mil vagas.
“É uma resposta clara ao quadro que o censo nos apresenta: 7.540 novas pessoas em situação de rua nos últimos dois anos, sendo que 76,5% chegaram às ruas há menos de um ano”, afirmou o secretário.
Nas próximas duas semanas, a prefeitura também vai oferecer mais mil vagas em hotéis. Será feito ainda um acréscimo de 2,9 mil vagas em toda a rede socioassistencial, que inclui centros de acolhida, residências de longa moradia para idosos, moradias inclusivas, repúblicas, entre outros.
Outra frente foi reestruturar o sistema de acolhimento na cidade de São Paulo. Segundo o secretário, os centros de acolhida com 500 vagas não serão mais “replicados” e as novas unidades terão capacidade para receber no máximo 200 pessoas.