“Montaram um grande circo. Ele é inocente”, diz mulher de João de Deus
Em Abadiânia, Ana Keyla afirmou não acreditar nas denúncias de abuso sexual contra o líder espiritual
atualizado
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“Montaram um grande circo. Ele é inocente”. A declaração é de Ana Keyla Teixeira Lourenço, 36 anos, mulher do médium João de Deus, ao ser questionada sobre as denúncias de abuso sexual contra o marido e a possibilidade de ele ser preso a qualquer momento.
O Metrópoles conseguiu falar com ela em Abadiânia (GO), em uma propriedade que a família mantém a poucos quilômetros da Casa Dom Inácio de Loyola.
No momento da abordagem, a mulher se mostrou tensa e disse ser apenas uma “pessoa próxima” ao líder espiritual. A filha do casal, uma criança de 3 anos, estava dentro da casa e chamou pela mãe. Ela rapidamente aproveitou a oportunidade e entrou no imóvel, na noite dessa quarta-feira (12/12).
Sobre o paradeiro do marido, a mulher afirmou antes de encerrar a conversa: “A única coisa que sei é que aqui ele não está”. João de Deus tem nove filhos e Ana Keyla é mãe apenas da caçula.
Nesta quinta (13), o movimento no centro é bem menor. A assessoria do médium informou que ele não irá mais ao local nesta semana. Na quarta, cerca de 1.400 pessoas estiveram na Casa em busca de assistência espiritual. “Sem atendimento, fica limitado. Se o João de Deus disser que vai atender, o mundo pode estar caindo que o povo vem”, disse Chico Lobo, voluntário que atua na administração da Casa Dom Inácio.
Entenda o caso
O pedido de prisão protocolado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) no fórum de Abadiânia contra João de Deus abriu um novo capítulo no escândalo sexual envolvendo o médium. Na quarta-feira (12), após aparecer publicamente pela primeira vez desde que as denúncias vieram à tona, o “cirurgião” espiritual permaneceu apenas sete minutos na Casa Dom Inácio de Loyola e saiu de carro rumo a paradeiro incerto.
O processo contra o religioso corre em segredo, e decisão desfavorável a uma eventual prisão caberá à Vara Criminal de Abadiânia, vinculada ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).
Os promotores do caso e o TJGO não informaram quando o pedido de prisão provisória será analisado. A expectativa, no entanto, mantém Abadiânia sob alerta – a cidade no Entorno do Distrito Federal está receosa com o impacto que uma possível ida de João de Deus para a cadeia traria para a economia do município, movida pelo turismo espiritual de seguidores em busca da cura prometida por João de Deus.
O médium é dono de uma fortuna milionária e possui negócios diversificados em várias modalidades de investimentos, que vão de imóveis a garimpo. O líder espiritual se divide entre Abadiânia, onde atende três vezes por semana, e sua residência, localizada na Rua Everton Batista, em um dos bairros mais antigos de Anápolis (GO). Ele ainda possui muitos imóveis em municípios goianos e em outras cidades no Brasil.
O médium negou as denúncias, falou que é inocente e admitiu estar “na mão da lei”. Ele foi embora do centro espírita, conforme informou a assessora Edna Gomes, após ter um pico de pressão.
Advogado de João de Deus, Alberto Toron confirmou que o pedido de prisão foi feito, mas disse desconhecer o teor do documento. “Sem conhecer, não tenho como me contrapor a ele”. O defensor reafirmou ter comunicado oficialmente às autoridades que seu cliente segue à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos.
Veja como foi a volta de João de Deus à Casa Dom Inácio de Loyola:
Cirurgias canceladas
De acordo com pessoas que estavam na Casa Dom Inácio de Loyola, João de Deus falou que não se sentia confortável para fazer cirurgias espirituais e outros atendimentos. Relataram ainda que, após agradecer a oportunidade de estar no centro, o líder religioso deixou o local amparado. Nesse momento, muitos seguidores começaram a chorar.
Voluntário há mais de 20 anos, Cláudio José Antônio Prujá explicou que João de Deus não conseguia incorporar na manhã dessa quarta (12). “O médium precisa estar relaxado, tranquilo. Ele não tinha condições. Mas ele veio e mostrou a cara. Disse para todo mundo que a Justiça vai decidir”, contou ao Metrópoles.
Até o momento, mais de 450 denúncias foram protocoladas em ministérios públicos de 10 estados e do Distrito Federal. Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de Goiás, Luciano Miranda Meireles avalia que as denúncias de abuso sexual envolvendo o líder espiritual João Teixeira de Faria têm potencial para alcançar uma dimensão maior do que a do caso de Roger Abdelmassih.
O ex-médico de reprodução assistida foi condenado a 181 anos de prisão por estupro de pacientes. “Pela movimentação que estamos assistindo, o número de mulheres que se apresentam como vítimas deverá ser maior. Há relatos de abusos ocorridos há 20 anos”, ressaltou o coordenador.
Veja vídeo do momento da chegada de João de Deus (clique na imagem):