Mobilidade urbana: razões para o Brasil dispensar gasolina e diesel
Híbridos e elétricos não chegam a 3% do mercado. Razões: faltam pontos de abastecimento, políticas de incentivo fiscal e por aí vai
atualizado
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Os funcionários da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) tiveram um privilégio nesta quinta-feira (9/6): puderam conhecer e tocar – e fazer selfie, claro – o Toyota Mirai, carro alimentado com células de hidrogênio que, no fim de 2021, entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, com a maior distância percorrida por um carro sem reabastecer.
O tanque, enchido em 5 minutos no sul da Califórnia (EUA, permitiu que o sedã percorresse 1.360 quilômetros gastando 5,65kg do produto e sem jogar gases tóxicos na atmosfera (o tão sonhado 0 CO2).
A iniciativa do escritório regional de assuntos governamentais da Toyota em Brasília e da ABDI teve um caráter mais formal do que a tietagem a um carro famoso. O que motivou foi ampliar, e começando pelos próprios colaboradores da agência, a consciência de que o Brasil precisa mudar sua forma de ver a mobilidade urbana.
Bruno Ambrósio, gerente do escritório da Toyota, reconhece que o país tem os dois mundos à mão: a possibilidade de usar motores a combustão a álcool (tecnologia limpa e bem brasileira) e outros híbridos, elétricos e até movidos a hidrogênio, como o Mirai.
Ambrósio também entende os motivos da demora na popularização. “Para se fazer uma viagem de São Paulo a Brasília é necessário parar três, quatro ou cinco vezes, por intervalos de no mínimo 30 minutos. Imagina quando começar as filas nos ainda raros pontos de abastecimento elétricos”, questiona ele.
Os executivos da Toyota também mostraram outros modelos: o Corolla Cross híbrido que gera, a partir de frenagens e arranques, a própria energia (mas ainda tem motor a combustão e, consequentemente, poluidor); o RAV4 híbrido plug-in (exige recarga via tomada); o UX300e (da marca Lexus, totalmente elétrico) e o Mirai (movido a hidrogênio).
Destes, só o primeiro é vendido no Brasil. E ainda tem a questão dos preços: o Corolla Cross custa R$ 204 mil, na versão topo-de-linha. O RAV 4 híbrido ‘normal’ (regenerativo) tem preço sugerido para Brasília de R$ 309 mil. A versão mostrada hoje, híbrido plug-in, custa na Europa cerca de € 50 mil (R$ 260 mil sem impostos e taxas). Por fim, o UX 300e, totalmente elétrico (também caro, embora o custo de rodagem muito inferior aos demais).
Quanto ao Mirai no Brasil, só em ocasiões como essa. A tecnologia, relativamente nova, é cara: da célula de combustível usada e até no reabastecimento (cerca de 10 euros por 100 km). E sem falar no fornecimento de hidrogênio para atendê-los. O Brasil está lá no fim da fila, claro: você já viu algum ponto de abastecimento alguma vez?
Segundo Igor Calvet, presidente da ABDI, 33 postos foram instalados no Distrito Federal – da Esplanada à Fercal, da Ceasa ao Hospital das Forças Armadas (HFA). No início de 2019, a instituição bancou R$ 2,3 milhões para permitir que carros elétricos (os mirradinhos, mas charmosos, Renault Twizy de 2,33m de comprimento por 1,28m de altura) fossem adotados pelo Governo do Distrito Federal (GDF).
Mercado de eletrificados
Por aqui, os modelos híbridos ou elétricos já se tornaram até comuns em capitais como São Paulo, Rio e Brasília. Aqueles com tecnologia híbrida são donos de 2,3% do mercado (8,6 mil nos três primeiros meses do ano). Os elétricos, por sua vez, não chegam 0,3%.
Os automóveis, utilitários, SUVs e comerciais leves eletrificados incluem os elétricos híbridos (HEV), híbridos plug-in (PHEV) e totalmente elétricos (BEV).
Motivos? O crescimento das vendas desses eletrificados se deve a alguns fatos: eles são de um segmento premium, digamos assim, e se concentram nos grandes centros urbanos – onde estão boa parte do serviço de recarga (estima-se que os pontos públicos ou estimulados pelo poder público cheguem a 1,5 mil em todo o país).