Ministros vão visitar área indígena onde Bruno e Dom foram mortos
Segundo maior território indígena do país, no Amazonas, também sofre com atividades ilícitas como garimpo, pesca e caça ilegais
atualizado
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Representantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) informaram, nesta quinta-feira (16/2), que ministros do primeiro escalão do governo Lula (PT) aceitaram o convite para uma visita, ainda neste mês, ao território indígena no Amazonas. Lá, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados há oito meses.
De acordo com a organização, a visita ocorrerá em 27 de fevereiro, data marcada para uma megaoperação das forças de segurança com o objetivo de coibir atividades criminosas no território.
A região, que abriga a maior quantidade de indígenas isolados do mundo, é rota de tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo ilegal.
“Nosso objetivo é pedir ao Estado para retomar o seu papel de fazer a proteção dos povos indígenas que habitam o Vale do Javari, para não acontecer como aconteceu com o povo indígena Yanomami“, explicou o coordenador da Univaja, Paulo Dollis, durante coletiva de imprensa.
Beto Marubo, assessor político da Univaja, informou que o convite foi aceito durante reuniões com os ministros Flávio Dino, do Ministério de Justiça e Segurança Pública (MJSP); Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas; e Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e Cidadania.
Todos confirmaram ou disseram que iriam designar um representante.
Além deles, o chefe nacional da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Ricardo Weibe Tapeba, e a presidente da Funai, Joenia Wapichana, também desemabarcarão no local.
Tráfico e garimpo marcam região onde jornalista e indigenista sumiram
Megaoperação
A ação, prevista para o próximo dia 27, dá continuidade ao plano do governo com foco na desintrusão de invasores nas terras indígenas, iniciada com a operação chamada Libertação para retirada do garimpo da Terra Indígena Yanomami, deflagrada em na última sexta-feira (10/2). As informações são do jornal O Globo.
Na ocasião, representantes da Univaja pretendem apresentar um relatório às autoridades, com quatro objetivos e 23 atividades emergenciais para a segurança da região.
Entre eles, reforço na Fiscalização do Ibama, aprofundamento das investigações sobre os crimes que aconteceram no ano passado, que ainda estariam “inconclusas”, e fortalecimento das instituições na região, com participação da Força Nacional e do Exército.
Questionados sobre a megaoperação na data, representantes da Univaja questionaram a efetividade dela.
“Nós não acreditamos nesse tipo de operação. Precisamos levar as autoridades para lá, para que elas saibam que isso não funciona no Javari”, explicou Marubo.
Na visão dele, é necessária uma “mudança de estratégias de atuação do governo na terra indígena”, com um plano de estratégias e operações extensivo.
Proteção judicial
Em novembro do ano passado, a Justiça determinou que a União adote medidas para proteger indígenas do Vale do Javari. A decisão liminar atendeu a um pedido da Defensoria Pública da União (DPU), que apontou ameaças aos indígenas.
Pescadores teriam dito que “as mortes no Vale do Javari não vão findar até que as principais lideranças sejam assassinadas”.
Na decisão, a juíza esclareceu que não constavam nos autos “quaisquer medidas que o governo brasileiro tenha tomado para proteger as vidas e o território dos povos indígenas afetados com o recente atentado aos Kanamari”.
O pedido da DPU foi protocolado após um grupo indígenas da etnia Kanamari ser ameaçado e cercado por pescadores ilegais no rio Itacoaí, região próxima ao local onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados.
Segundo relatos, os criminosos ameaçaram de morte uma liderança com uma arma. Na ocasião, os indígenas recusaram a oferta de tartarugas e peixes em troca de não denunciarem a ação ilegal dos pescadores.