Ministros do Centrão assumem sob artilharia da militância petista
André Fufuca e Silvio Costa Filho assumem ministérios de Lula sem apoio da militância, mas bancados pelo presidente da República
atualizado
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A militância petista nas redes sociais não está abraçando a decisão pragmática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de abrir mais espaço em seu governo para indicados por partidos do Centrão. Os deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) tomam posse nesta quarta-feira (13/9) nos ministérios do Esporte e dos Portos e Aeroportos, respectivamente, sob forte artilharia de petistas de perfil mais ideológico e que estão se manifestando na internet.
Fufuca, por exemplo, teve suas redes invadidas por xingamentos e reclamações ao postar convite para sua posse, que acontece na tarde de hoje, em Brasília. A reação a ele é ainda mais intensa porque o parlamentar vai substituir uma ministra querida e identificada com a militância, a ex-atleta Ana Moser.
“Convite não, chantagem e negociata. Uma das criaturas mais execráveis do Congresso rouba o lugar de uma mulher íntegra”, respondeu um internauta, referindo-se à demissão de Ana Moser.
“Você votou a favor da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma. Nós, maranhenses, te conhecemos e você não engana ninguém. Lamentável”, disparou outro.
Fucuca respondeu algumas das postagens críticas no Instagram. “Você vive em que mundo? Estou no quarto mandato. Nunca me elegi fazendo arminha, gritando mito”, escreveu ele, a internauta que o chamou de “bolsominion”.
Veja reações na timeline de Fufuca ao convite da posse feito por ele:
Silvio
Apesar de não ter sido alvo preferencial da militância petista, o perfil de Silvio Costa Filho também recebeu críticas no Instagram e não apenas de petistas.
Em comentário no post de convite para a posse, um internauta disse: “A pior coisa é você ocupar um lugar aonde ninguém gosta de você. O governo engoliu seco essa indicação do Centrão. Olha a cara do Lula na foto de felicidade”. Uma internauta foi mais objetiva: “Asco”.
Outros aproveitaram para alfinetar o governo petista e a escolha de Silvio para a pasta. “Diga quem você é, junto com esse desgoverno”, postou uma mulher. “Só cabides de emprego. Fora Lula e fora Silvio que se vendeu a esse desgoverno”, disse um homem.
Um outro perfil marcou a senadora Damares Alves, que faz parte do mesmo partido de Silvio. “E aí? Vai continuar no partido ‘conservador’ que apoia governo pró-aborto e drogas?”, questionou.
Desgaste entrou na equação
A minirreforma ministerial concretizada nesta quarta foi articulada durante meses pelo governo Lula e pelo grupo político ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Como o Congresso eleito no ano passado tem perfil majoritariamente conservador e mais alinhado com o bolsonarismo do que com a esquerda, o governo Lula tem enfrentado dificuldades para fazer avançar sua pauta legislativa desde o início do ano.
Mesmo pautas econômicas, que normalmente têm o apoio do Centrão, só passam com a atuação pesada do governo na liberação de emendas parlamentares. As mudanças no primeiro-escalão do governo têm o objetivo de tornar a relação menos difícil, mas, mesmo com as nomeações, não há garantia alguma de que Lula passe a ter vida fácil na Câmara.
Se a minirreforma não fosse concretizada, porém, o grupo de Lira ameaçava fazer oposição aberta ao governo petista. Lula já sabia que o embarque no governo de indicados por partidos que estiveram com Bolsonaro traria desgaste a ele junto aos apoiadores de sua gestão, mas acabou admitindo que o movimento era inevitável.
Fontes do entorno de Lula garantem que, agora que a decisão foi tomada, os novos ministros serão bancados a qualquer custo pelo governo e a pressão da militância não vai fragilizá-los. Um auxiliar do presidente lembra que ele já bancou uma ministra que foi associada a milicianos, a deputada federal Daniela Carneiro, que só caiu quando perdeu apoio de seu partido, o União Brasil. E banca até agora um ministro enrolado com denúncias de corrupção e que teve uma irmão alvo de operação da Polícia Federal: Juscelino Filho, das Comunicações.
A expectativa na comunicação do governo é que as reclamações da militância esfriem com o passar do tempo e que os ministros do Centrão tenham tranquilidade para trabalhar, sobretudo se a nomeação deles render algum refresco para Lula na Câmara.