Ministro a auditores sobre joias: “Isso vai entrar pra primeira-dama”
Câmeras de segurança do Aeroporto de Guarulhos mostram o momento em que Bento Albuquerque tenta liberar joias na alfândega
atualizado
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Imagens mostram o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque dizendo a auditores da Receita Federal que as joias dadas de presente pela Arábia Saudita ao Brasil eram para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O vídeo, obtido pela GloboNews e pela TV Globo, foi registrado pelas câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos, no dia 26 de outubro de 2021, data em que Albuquerque desembarcou no Brasil.
“Isso tudo vai entrar lá pra primeira-dama”, diz o ex-ministro aos auditores na filmagem. Albuquerque se refere a joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, que ficaram retidas na alfândega.
O outro pacote, com um relógio e uma caneta, entrou no país dentro da mala de Marcos Soeiro, integrante da comitiva de Bento. O próprio Soeiro tentou explicar para os auditores que o conteúdo era um presente para o ex-ministro. “Isso é um presente do príncipe regente da Arábia Saudita para o ministro. Isso tudo aqui é presente. Vocês não têm ideia do problema”, aponta Soeiro.
E continuou a explicação: “Esse convite não foi nem para o ministro. Esse convite foi para o presidente [Jair Bolsonao], e o presidente mandou o ministro lá representá-lo”. Mesmo assim, os auditores se negaram a liberar as joias.
Veja:
EXCLUSIVO: então ministro de Minas e Energia do governo de Bolsonaro, Bento Albuquerque, disse aos auditores da Receita Federal que as joias de R$ 16,5 milhões eram para a Michelle.
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— GloboNews (@GloboNews) March 9, 2023
Ligação para ministro
Soeiro, então, liga para Bento Albuquerque: “O ministro está vindo aqui, provavelmente vai ligar para o diretor da Receita Federal”, afirma. O ex-ministro nega ter visto as joias e alega que as recebeu somente quando estava saindo da Arábia Saudita. Em seguida, um auditor explica que os bens não poderiam sair dali por não terem sido declarados e que, depois, caso os presentes fossem doados para o Estado brasileiro, seriam liberados.
“Nós vamos reter os bens. Vamos gerar um documento em nome do senhor, que é o portador, certo? Aí, qual foi a orientação? Pega esse documento, entrega no gabinete do ministério de sua chefia. Esse gabinete vai entregar no gabinete da Secretaria da Receita Federal para que estes trâmites para a outorga dessa imunidade sejam iniciados”, disse um dos auditores.
Soeiro questiona se este termo de retenção de bens poderia ser feito no nome de Bento Albuquerque. “Quer colocar no nome do ministro? Acho que é até melhor.”
“Presente tão grande”
Albuquerque ainda diz que nunca tinha recebido um presente “tão grande”.
“Quando você vai para um evento desses, o cara chega e vai te dando. Quem sobra é o cara que tem que carregar. Então, esse é o problema. Teve dois eventos lá, Minas e Energia e outro foi a cúpula. Depois desse evento, no aeroporto, o cara chegou lá, ainda assinei o papel dizendo que a gente recebeu.”
Apenas depois de algum tempo de conversa, o ex-ministro afirma para os auditores que as joias eram presente para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Em diferentes ocasiões, o governo federal tentou reaver as joias – um colar, anel, relógio e um par brincos de diamantes da marca de luxo suíça Chopard – sem pagar a taxa e a multa necessárias, como de praxe para o Fisco.
O blog de Andréia Sadi teve acesso ao vídeo que mostra o diálogo entre o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, enviado por Bolsonaro, e um auditor da Receita Federal no dia 28 de dezembro de 2022, três dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.