Ministra do Turismo já foi citada em denúncia de atuação de milícia
Relato anônimo feito ao MPRJ afirma que marido de Daniela intimidou eleitores em 2018. Ministra do Turismo não se manifestou
atualizado
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A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho, já foi citada em pedido de apuração sobre ação de milicianos durante a campanha eleitoral de 2018, no município de Belford Roxo (RJ). Em denúncia, moradores relataram que foram ameaçados pelo prefeito da cidade, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, marido da ministra, durante a campanha eleitoral da hoje integrante do primeiro escalão do governo federal.
A acusação foi feita de forma anônima por meio da ouvidoria do Ministério Público do Rio de Janeiro e diz que Waguinho, acompanhado de um grupo de milicianos, teria ameaçado eleitores. Os envolvidos seriam seguranças do prefeito. Segundo o relato, Waguinho foi até a comunidade de Palmeirinha porque os moradores colaram adesivos de candidatos que disputavam com Daniela uma vaga na Câmara.
“O prefeito agiu com truculência no comando da ação inclusive matou a tiros um cachorro da raça pitbull dentro do quintal de uma moradora, pois o animal não permitiu a entrada dos meliantes. Explica que a esposa do gestor, Daniela Carneiro é candidata ao cargo de deputada federal pelo partido (MDB). Os moradores da região estão estarrecidos e com medo do prefeito, pois o mesmo os obrigou a colarem os adesivos de sua esposa nas fachadas das residências e ainda exigiu que os mesmo (sic) votem nela”, diz trecho da denúncia.
Na política desde 2017, bastou um ano para Daniela Carneiro conquistar uma cadeira no Legislativo federal, com a expressiva votação de 136 mil eleitores. Em 2022, a ministra foi reeleita para a Câmara dos Deputados. Dos seus 213 mil votos no ano passado, mais da metade (114 mil) veio de Belford Roxo.
“Lei do silêncio”
Da denúncia anônima feita ao MPRJ foi aberto inquérito na Polícia Federal. Em despacho de junho de 2019, o delegado responsável nos autos, que tramitaram na Justiça Eleitoral, afirma que não havia nenhuma investigação que pudesse identificar a ação de milicianos em Belford Roxo. No entanto, o PF cita ação em município vizinho que teria resultado na prisão de Lequinho, identificado como Alex Rodolfo da Silva.
Em ofício de 2020, outro investigador relata à Justiça a dificuldade de se apurar o caso, já que a comunidade de Palmeirinha é dominada pelo Comando Vermelho.
“Diligenciar nas proximidades de tal comunidade para obter informações relevantes sobre o crime eleitoral denunciado, é inviável e improdutível. Pois em função do domínio do tráfico no local que aterroriza moradores, estes se negam a falar sobre assuntos sensíveis com estranhos, muito menos com representantes da lei, sendo conhecedores das consequências para quem quebra a lei do silêncio que impera nessas comunidades”, afirmou a Polícia Federal.
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Wagner Carneiro foi intimado a depor na PF sobre a suposta ameaça em três ocasiões: em setembro de 2020, julho de 2021 e em maio de 2022. A única declaração do prefeito nos autos aconteceu em 7 de junho do ano passado, ele negou conhecer os milicianos citados e disse que não lembra de ter ido na comunidade ou ter agido da forma narrada na denúncia.
Meses depois, a Polícia Federal pediu pelo arquivamento da apuração e foi seguida pelo Ministério Público.
“Esgotadas as diligências a notícia inicial não foi confirmada, ausentes, portanto, autoria e materialidade indispensáveis a deflagração de eventual ação penal”, afirmou o promotor.
O caso foi arquivado definitivamente em 31 de outubro último.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Belford Roxo e com o Ministério do Turismo, mas os citados Wagner e Daniela Carneiro não se manifestaram. O espaço segue aberto.