Ministério da Saúde autorizou reverendo a negociar vacina superfaturada
O religioso negociava a compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca por valor três vezes maior do que o pago no começo do ano pelo órgão
atualizado
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O diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, está supostamente envolvido em uma negociação de compras de vacinas superfaturadas da Davati. Ao menos é o que revelam e-mails apresentados pelo Jornal Nacional neste sábado (3/7).
Segundo o telejornal, Cruz autorizou que o reverendo Amilton Gomes de Paula negociasse 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro. A troca de e-mails entre o reverendo e a empresa norte-americana também envolviam o nome da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), a qual ele é fundador e presidente.
Durante as negociações, o reverendo pede uma oferta completa de venda “com o valor de US$ 17,50” e ressalta que esse foi o acordo feito em 5 de março. Esse preço é três vezes maior do que os US$ 5,25 pagos pelo Ministério da Saúde por cada dose da AstraZeneca em janeiro.
Cristiano Carvalho, representante oficial da Davati no Brasil, confirmou que recebeu os e-mails.
Linha do tempo
23 de fevereiro: o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Lauricio Cruz, enviou um e-mail para o reverendo. No texto ele agradece a disponibilidade dele e da Senah “na apresentação da proposta comercial para fornecimento de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca”.
Ao fim da mensagem ele pontua ainda que “todos os processos de aquisição de vacinas no âmbito do Ministério da Saúde estão sendo direcionados pela Secretaria Executiva”.
4 de março: o reverendo Amilton compartilhou fotos de uma reunião no Ministério da Saúde. No post em uma rede social ele afirma que a Senah estava envolvida em uma “articulação mundial em busca de vacinas”. Além de pontuar que uma grande quantidade de imunizantes seria disponibilizada no Brasil.
9 de março: o diretor de Imunização enviou um e-mail ao presidente da Davati nos Estados Unidos, Herman Cardenas. Nas mensagens ele afirma que Amilton Gomes se reuniu com as equipes da Secretaria de Vigilância em Saúde e Departamento de Logística para falar sobre a vacina. E que tudo foi encaminhador para a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde.
“Por fim, esperamos que os avançoes de forma humanitária entre o Ministério e ‘AstraZenica’ pelo Instituto Nacional de Assuntos Humanitários”, escreve em um trecho.
10 de março: dessa vez quem mandou o e-mail foi Amilton, também para Herman Cardenas. No texto em inglês ele agradece por confiarem na instituição dele (a Senah) no intermédio das negociações com o Ministério. “As negociações estão em estágio final e a expectativa é que o contrato seja assinado em 12 de março de 2021”, escreveu.
11 de março: o reverendo enviou um novo e-mail explicando o papel da Senah ao presidente da Davati. Na mesma mensagem, ele soclita um representante da empresa para uma reunião no dia seguinte no Ministério da Saúde.
Reunião
O representante da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, confirmou um encontro com o então secretário executivo do Ministério, Élcio Franco, no dia 12. Também participou da reunião o presidente do Instituto Força Brasil, coronel Hélcio Bruno de Almeida.
Embora eles tenham se encontrado, o órgão não realizou a compra. No mesmo mês, em 26 de março, Franco foi exonerado do cargo.
De acordo com os advogados da Davati, a empresa não fez procedimentos indevidos e o negócio não se concretizou por falta de interesse de compra por parte do Ministério.
Oferta de vacina
Em março, a organização presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula ofereceu vacinas da AstraZeneca e da Johnson para governos estaduais e municipais. Na época, as doses seriam vendidas a US$ 11, cada.
O valor também era três vezes maior do que o que o Governo Federal pagaria à Fiocruz pelos imunizantes AstraZeneca. Na época o valor foi de US$ 3,16.