Ministério acelerou “aplicativo da cloroquina” com crise em Manaus
E-mails internos do Ministério da Saúde revelam mobilização da pasta para deixar pronto, com urgência, o acesso ao aplicativo TrateCov
atualizado
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Trocas de e-mails internos do Ministério da Saúde revelam uma mobilização da pasta para deixar pronto, com urgência, o acesso ao TrateCov, aplicativo que recomendava medicamentos sem eficácia comprovada para tratamento de pacientes com Covid-19, como cloroquina, ivermectina e azitromicina.
Os e-mails foram reproduzidos pela Polícia Federal (PF) em inquérito sigiloso que investiga supostos crimes do ex-ministro Eduardo Pazuello na gestão da Saúde e foram obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo.
O general Pazuello é investigado por suposta omissão na crise do oxigênio no Amazonas, em janeiro. Ele foi demitido do ministério em março e acabou perdendo o foro privilegiado, o que fez com que as investigações fossem transferidas para o âmbito da Justiça Federal no DF.
Além das suspeitas de crime na omissão com o oxigênio, a PF investiga o desenvolvimento de uma plataforma eletrônica para ofertar indiscriminadamente cloroquina e outras drogas sem eficácia para Covid-19.
E-mails trocados entre servidores mostram a urgência com que o caso foi tratado no Ministério da Saúde. Às 17h10 de 8 de janeiro, um servidor pediu a um coordenador do Departamento de Informática do SUS (DataSUS) a criação de uma URL (um endereço na internet) para o TrateCov, a partir do redirecionamento de uma URL já existente.
No e-mail enviado, o funcionário explicou que a criação do endereço na internet seria necessária “para o ‘survey’ que será lançado na segunda em Manaus pelo ministro”. Por isso, o serviço deveria ser feito com urgência.
Às 19h17 do mesmo dia, pouco mais de duas horas depois, um novo e-mail informou que a URL estava pronta e funcionando.
Na segunda-feira mencionada na mensagem anterior, dia 11, o aplicativo foi apresentado em Manaus, conforme depoimentos à PF.
Estavam na capital do Amazonas o então ministro da Saúde e seus secretários diretos, entre eles, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, apelidada de “Capitã Cloroquina”,
TrateCov
Lançado em janeiro deste ano com a proposta de ajudar médicos a diagnosticar pacientes com sinais de Covid-19, o aplicativo sugeria medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina.
A responsabilização pelo aplicativo tem sido tema da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. A secretária Mayra Pinheiro, afirmou em depoimento, em 25 de maio, que a plataforma foi invadida antes de seu lançamento.
A plataforma estreou em 11 de janeiro, e no lançamento não houve menções de que a ferramenta era apenas um simulador. Segundo reportagem veiculada pela TV Brasil, o aplicativo era divulgado no momento em que aumentavam casos da Covid-19 em Manaus.
O aplicativo TrateCov foi retirado do ar em 21 de janeiro. Na ocasião, o Ministério da Saúde afirmou que a plataforma “não estava funcionando oficialmente” e era apenas um simulador. A pasta afirmou também que “o sistema foi invadido e ativado indevidamente – o que provocou a retirada do ar, que será momentânea”.