Minimalismo na prática: confira relatos de quem vive com menos
Termo refere-se a um estilo ou filosofia que busca simplicidade e a eliminação do excesso. Sendo aplicada desde o material até o emocional
atualizado
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Menos é mais, o que pode parecer impossível para alguns, pode ser fácil e eficiente na rotina de outros. A vida minimalista é uma forma de simplificar a existência, concentrando-se apenas no que é essencial. O estilo pode ajudar o indivíduo a se livrar dos excessos materiais e encontrar felicidade e, quem sabe, liberdade.
Ao adotar o minimalismo, os indivíduos encontram maior satisfação quando se concentram em experiências significativas, em vez de focar nos bens materiais.
Essas são algumas das reflexões de quem adota o estilo.
O conceito do minimalismo se expandiu para diversas áreas da vida cotidiana, incluindo o consumo, a organização e o bem-estar emocional. De acordo com a influenciadora digital Amanda Eduarda, o minimalismo sempre fez parte de sua vida, desde jovem. Ela revela que nunca foi consumista.
“Não tive mudanças drásticas, nunca fui consumista. Mas o minimalismo me trouxe mais organização e o hábito constante de desapegar. Não fico nem um mês com algo que não vejo utilidade, por exemplo”, contou ao Metrópoles.
Para a influenciadora, o estilo de vida minimalista seria a “essência do ser”, em oposição ao “do ter”. E, também, de quem ama viver o essencial. Amanda também relata o julgamento do público ao adotar esse modo de viver.
“Tem muitas pessoas que associam o minimalismo à pobreza, miséria ou ‘ser mão de vaca’. Isso acontece pela falta de conhecimento sobre a filosofia. Costumo dizer que o ser minimalista gosta, sim, de gastar, mas o foco é gastar com experiências e naquilo que é realmente essencial”, relata.
Segundo ela, as escolhas são diárias e que “algumas vezes o consumismo fala mais alto”, mas que se adaptou bem ao estilo do minimalismo.
Ao Metrópoles, Vívian Palafóz contou que sempre gostou de manter os ambientes organizados e, por isso, começou a reduzir peças de roupas e objetos.
“Sempre gostei de organização, limpeza e nunca encarei isso como um peso, pois sempre tive a ideia de que as coisas podem se manter organizadas, quando não há excesso. E isso traz paz. Lembro-me que, na adolescência, meu guarda-roupa era muito organizado e eu dividia com minha irmã. O meu armário era um termômetro, pois todas as vezes que as coisas começavam a acumular, eu sentia que era hora de desapegar para manter as coisas em ordem, pois o acúmulo era sinal de poluição visual para mim”, explica.
Vivian conta que não conhecia o conceito de minimalismo, mas assistiu um documentário em 2020, e decidiu fazer alguns ajustes na rotina e no estilo de vida que tinha.
“Passei a entender que meu comportamento teria que mudar antes mesmo de comprar algo, pois precisava mudar no campo mental para refletir também no material”, diz.
De acordo com a mulher, ela faz compras de roupas, no máximo, uma vez por ano.
Nas redes sociais, Vivian compartilha o estilo e o conceito de manter uma vida sem excesso de bagunça.
“Sempre vi pessoas que ficavam horas organizando coisas, quando poderiam otimizar o tempo, ter mais momentos de lazer e descanso, se possuíssem o essencial. Um outro ponto que me fez seguir o estilo, foi cuidando de mim, do meu físico, pois, às vezes, a gente compra roupa para tentar suprir algo que nem nós sabemos o que é. Quando passei a mudar minha vida, meu dinheiro sobrou mais e hoje posso investir para ter qualidade de vida no futuro”, conta.
Em vez de ceder à tentação do consumo desenfreado, Vivian explica que o minimalismo está na forma controlada de fazer parte do consumismo.
“Hoje, compro tudo de forma consciente, destralho menos, pois a aquisição é mais precisa e estratégica. Mesmo quando quero muito algo, eu avalio bastante antes de comprar, não compro nada por impulso”, finaliza.
Minimalismo e o senso moral
O psicanalista Gabriel Hirata destaca que a motivação da redução do consumismo, ou a aderência do minimalismo, está relacionada ao senso moral.
“Podemos dizer que a motivação por trás da diminuição do consumo, ou do aumento do consumo por objetos que simbolizam um estilo minimalista, está relacionada ao senso moral de querer fazer parte de alguma mudança dentro de um cenário de degradação humana. Não à toa que o minimalismo surgiu nos EUA após a Segunda Grande Guerra”, explicou o profissional.
Hirata afirma que o “conflito social no plano individual é uma forma de evitar enfrentar o problema em sua dimensão estrutural” e que o minimalismo pode afastar da consciência.
“Nesse sentido, desejar “fazer a nossa parte” é uma atitude legítima, mas que pode recalcar afetos que são qualitativamente necessários para a saúde mental, como por exemplo a angústia, a raiva e o medo. Tudo isso em nome de um ideal de felicidade inalcançável que remonta aos comportamentos morais aristocráticos das etiquetas e do contato purificador com uma suposta natureza transcendental, e que em última instância é a ideologia que mantém a desigualdade social”, destacou Hirata.
Emocional
O estilo minimalista pode estar associado à arte, decoração e se estende para a filosofia de vida, encorajando uma reflexão profunda sobre o que realmente traz valor à vida. “O minimalismo envolve a simplificação e redução de posses, atividades e até mesmo relacionamentos, com o objetivo de focar no que é realmente importante e significativo. Isso pode ter efeitos profundos na saúde mental e no bem-estar emocional”, explica a psicóloga Alessandra Araújo.
A profissional, a pedido do Metrópoles, elencou uma série de dicas para quem está querendo viver com menos. Confira:
Como adotar o estilo minimalista
- Ter um tempo de reflexão e autoconhecimento;
- Começar com pequenas mudanças;
- Desapegar;
- Simplificar tarefas e compromissos;
- Valorizar a qualidade, não a quantidade;
- Criar uma rotina minimalista.
Benefícios da organização
- Sentimento de segurança e estabilidade;
- Senso de responsabilidade;
- Maior clareza e direção;
- Facilidade no trabalho em equipe.
Possuir apenas aquilo que é necessário ajuda a promover um modo de vida mais consciente e focado. “O minimalismo pode ajudar a lidar na redução do estresse e ansiedade, foco no essencial, liberação de espaço mental e emocional, maior autoconsciência, fuga de conflitos internos e supressão de desejos e emoções”, ressalta Alessandra.
“Ao adotar uma postura minimalista, a pessoa passa a concentrar sua energia em experiências, relacionamentos e realizações que trazem verdadeiro significado e satisfação, em vez de buscar a felicidade em posses materiais ou status social. Essa mudança de foco pode levar a uma redefinição do que é considerado sucesso, descolando-o da necessidade de acumular riqueza ou de atingir marcos profissionais altamente valorizados pela sociedade, como promoções ou conquistas financeiras”, conta Alessandra.
A psicóloga ainda explica que, ao adotar o minimalismo, uma pessoa começa a desconstruir essas pressões, criando espaço mental e emocional para aquilo que realmente importa.
“A busca constante por mais – seja por objetos, compromissos ou realizações – pode gerar um peso psicológico considerável. Isso pode manifestar-se em ansiedade, estresse, insatisfação crônica e até em sentimentos de inadequação. Ao adotar o minimalismo, uma pessoa começa a desconstruir essas pressões, criando espaço mental e emocional para aquilo que realmente importa.”