Militares do Ministério da Saúde advertem servidores sobre posts nas redes
O comunicado oficial cobrava dos funcionários “cuidado” com as postagens próprias e comentários em perfis de terceiros
atualizado
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A Comissão de Ética do Ministério da Saúde enviou um e-mail interno aos servidores da pasta com “dicas de ética” para adverti-los sobre o uso das redes sociais. No comunicado, ao qual o Metrópoles teve acesso, o órgão deixou claro que, além das postagens dos funcionários públicos, está de olho também nos comentários feitos por eles, mesmo em perfis de outras pessoas. Desde que militares assumiram o comando da pasta, a equipe técnica tem feito relatos de tentativas de imposição de uma lógica militar que atrapalha o trabalho.
“A função pública ‘se integra na vida particular de cada servidor público’ e, por isso, ‘os fatos e atos verificados na conduta do dia a da em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional'”, declarou a Comissão no comunicado.
Servidores ouvidos pela reportagem relataram preocupação com o tom da mensagem. Temem que a “patrulha” dos militares hoje ocupando o ministério (já são mais de 20) com a chegada do ministro interino, general Eduardo Pazuello, possa prejudicá-los, uma vez que as interpretações são “subjetivas”.
A preocupação ganha corpo em um contexto de crise com a divulgação dos dados oficiais do avanço do coronavírus no país. A equipe técnica se incomoda com as movimentações para maquiar as informações – por enquanto impedida por decisão judicial.
“Quem vê seu perfil ou posts nas redes sociais, seja no Whatsapp, Facebook, Twitter ou outras, está vendo também os comentários, fotos e informações de um agente público. As redes sociais são ferramentas muito úteis e práticas, mas devem ser usadas com cuidado”, reforçou a Comissão.
Questionado, o Ministério da Saúde afirmou que são conduções previstas no Código de Ética do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. “Orientações similares são orientadas por diversas empresas do país em seus códigos de ética e condução dos trabalhadores”, escreveu, em nota.
Mas fontes da Comissão de Ética da Presidência ouvidas pelo Metrópoles viram no informativo do Ministério da Saúde uma tentativa de deturpar o sentido de um boletim que deveria ser publicado na íntegra pelas pastas do Executivo.