Militantes tentam bombar Moro no WhatsApp e Telegram, mas faltam memes
Apoiadores do ex-juiz buscam mobilizar a pré-campanha em grupos, mas se ressentem da ausência do próprio Sergio Moro nos esforços
atualizado
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Chegando agora em uma corrida eleitoral que já está a todo vapor apesar de nem termos entrado no ano do pleito, o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro (Podemos) ainda não tem uma estratégia digital definida, mas seus apoiadores têm pressa. Nas redes sociais e em aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram, estão pipocando páginas e grupos de apoio ao pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos.
A iniciativa dos fãs de Moro esbarra, porém, na falta de uma coordenação central e de uma estrutura de comunicação e propaganda que produza conteúdo para circular nesses ambientes digitais.
A reportagem do Metrópoles acompanhou as postagens e os debates nesses grupos moristas na última semana e encontrou uma dinâmica diferente da rotina de fóruns de campanhas digitais mais consolidadas, como as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Não falta atividade, mas os membros dos grupos moristas acabam conversando mais entre si, pois é bem menor a oferta de material de propaganda, como vídeos, áudios, notícias de sites aliados e memes – imagens que resumem ideias por meio de uma piada, ironia ou crítica – que podem ser compartilhados para ampliar o alcance do candidato.
Para a mestra em ciência política Maria Carolina Lopes de Oliveira, ainda falta a Sergio Moro uma militância de base que se organize na divulgação de seus pré-candidatos, como acontece com Bolsonaro e Lula. “É algo que ele ainda está construindo e que leva tempo”, avalia ela, que é doutoranda em comunicação pela universidade espanhola Pompeu Fabra.
A especialista afirma ainda que a ida da comunicação digital de Moro para um novo nível depende da liderança dele. “É fundamental que qualquer candidato municie os seus seguidores, tanto nos perfis oficiais quanto nos grupos fechados de Telegram e WhatsApp. Quando ele tiver uma equipe, conseguirá fazer melhor essa ponte”, afirma ela.
“O perfil burocrata do candidato é um grande desafio nesse esforço. Moro veio da burocracia, do direito, que tem lógicas, narrativas e retóricas muito diferentes da comunicação. Acostumar-se com a política é o principal desafio”, completa Oliveira.
A rotina nos grupos moristas
Não é que não circulem memes e outros materiais de propaganda nos grupos moristas, mas a quantidade é limitada e a qualidade varia muito. Não há fontes oficiais de divulgação desse tipo de material, ainda há poucas páginas de apoio aberto ao ex-juiz e o grosso da produção fica a cargo dos próprios militantes. Com isso, não há uma identidade visual ou de conteúdo, e alguns memes exageram no tom e acabam apelando para ofensas ou homofobia com o objetivo de atacar adversários como Bolsonaro. Veja exemplos:
A falta de uma participação mais ativa de Moro não impede que seus apoiadores coordenem ações ambiciosas. Um dos principais assuntos nos grupos nos últimos dias é uma mobilização com “adesivaços” em apoio ao ex-juiz, que está prevista para ocorrer em mais de 30 cidades de todo o Brasil no próximo sábado, dia 11 de dezembro.
Como a campanha oficial nem começou e não há verbas partidárias para materiais de propaganda, os próprios militantes estão se unindo e divulgando vaquinhas virtuais para pagar os adesivos, cujo arquivo circula em formato PDF para quem quiser imprimir por conta própria.
Apesar desses esforços, os moristas se ressentem da distância que o ex-juiz ainda mantém e sonham, nas conversas, com uma maior articulação durante a pré-campanha. “Precisamos de áudio. Precisamos de vídeo do senhor Moro para divulgar e atrair mais pessoas para o grupo. São 187 hoje, mas no Telegram cabem milhares. Ele tem que aparecer, as pessoas gostam disso”, escreveu um usuário num grupo chamado “Pro SERGIO MORO” na tarde do último domingo (5/12).
Com a limitação de material audiovisual para trocar, os militantes moristas acabam conversando bastante nesses ambientes. Falam sobre estratégias políticas e expectativas de crescimento do ex-juiz nas pesquisas. Conversam também sobre assuntos fora da política e, em alguns momentos, baixam o nível do debate.
Também no domingo, em um grupo de WhatsApp chamado “Moro Presidente 2022”, a reportagem presenciou uma conversa repleta de machismo sobre a participação de uma mulher em um evento virtual, que virou assunto entre os militantes. Um comentou: “Ela é bonita, hein. Mas burra”. Outro respondeu: “Mulher assim só serve pra pegar mesmo. Jamais namoraria uma feminista. Bom que dá para usar como ‘come e joga fora’. Mulher inteligente e mina de direita, antifeminista, essas é pra casar”. Veja:
No grupo havia mais de 200 participantes, e nenhum deles reprimiu ou criticou essa troca de mensagens.
Tentando evitar as fake news
Apesar de alguns debates tomarem rumos problemáticos, a reportagem observou que os militantes moristas evitam fazer circular nos grupos material sensacionalista e com acusações falsas contra os adversários, as infames fake news. Quando acontece, é comum que outros internautas protestem. “Não podemos usar armas erradas só porque os adversários usam”, escreveu na segunda (6/12) um usuário do grupo “Moro Nordeste” no Telegram.
Muitos dos materiais que são postados nesses espaços usam como fonte páginas nas redes sociais que não necessariamente têm o ex-juiz como tema, mas que estão embarcando na defesa da candidatura dele. É o caso da página no Facebook do Movimento Curitiba Contra a Corrupção, seguida por 160 mil internautas.
De acordo com o coordenador da página, Cristiano Roger, o movimento existe desde 2013 e nasceu promovendo protestos nas ruas. “Fizemos manifestação pelo impeachment da Dilma em 2015, muitas em apoio à Operação Lava Jato. Fizemos um adesivaço em apoio ao então juiz Sergio Moro lá em 2014 ainda. Temos uma ligação com ele por defender as mesmas pautas, como a ética, as instituições e a democracia. E somos radicalmente contra fake news”, afirma ele, em conversa com o Metrópoles.
Fechada com Moro e produzindo material que vai parar nos grupos moristas, a página já acreditou, assim como o próprio ex-juiz, no presidente Bolsonaro. “Ajudamos na campanha dele porque acreditamos que ele poderia seguir as pautas que defendeu, mas ele se apropriou do discurso e não cumpriu, por isso passamos a fazer oposição ao governo”, explica Roger.
Veja mais exemplos da rotina nos grupos moristas, incluindo a articulação política dos membros e a preocupação em ocupar logo esse espaço virtual:
Moro está ciente dos anseios da militância
O Metrópoles conversou com profissionais da equipe de comunicação do pré-candidato Sergio Moro e ouviu que eles estão recebendo pedidos de apoiadores para a produção de conteúdo que possa ser usado nos grupos e nas redes sociais. A ideia é começar a produzir mais material em áudio e vídeos curtos, visando a viralização. Como o ex-juiz se filiou ao Podemos, a ideia é usar a estrutura partidária para formar uma equipe que possa trabalhar esse tipo de propaganda.
O papel dos memes na campanha
Em campanhas cada vez mais digitais, os memes servem para aproximar o candidato do público que consome conteúdo na internet, explica a especialista Maria Carolina Lopes de Oliveira. “O meme sintetiza uma ideia e uma informação. Reproduzir discursos e ideias do candidato em forma de meme é um meio de reduzir a dificuldade de compreensão daquela informação. De transmitir mais rápido, de viralizar”, conclui ela.