Milícias do Rio investem em importações para expandir “Gatonet”
Em 2020, foram apreendidas mais de 1 milhão de TVs Box (aparelho que dá acesso ilegal a canais por assinatura) – a maioria em portos do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – A Receita Federal mapeou 15 empresas laranjas, contratadas por milicianos do Rio de Janeiro para importar, da China, a TV Box. O equipamento permite acesso irregular a todos os canais de TV por assinatura e, segundo os investigadores, essa é uma nova modalidade do chamado “Gatonet”. Agentes federais apreenderam, apenas no passado, mais de 1 milhão desses aparelhos, no Rio, em São Paulo e no Pará – a maioria chegou por portos fluminenses.
De acordo com estimativa da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os equipamentos ilegais estão em 4,5 milhões de casas do país. Isso gera um prejuízo anual de R$ 9,5 bilhões à indústria do audiovisual, e de R$ 1 bilhão em impostos que deixam de ser arrecadados pelos cofres públicos.
“No Rio, 15 empresas foram identificadas. Elas estão sendo submetidas a processos administrativos, mas já sabemos que utilizam laranjas e dois dos três grupos têm o envolvimento de milicianos”, afirma Ewerson Augusto Chada, responsável pela Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal.
Parcerias nas investigações
O trabalho de combate às importações irregulares de grupos de milicianos, organização criminosa no Rio que pratica extorsão contra comerciantes e oferece serviços ilegais, como TV por assinatura irregular, conta com a troca de informações entre as polícias Civil e Federal, além de órgãos como Receita Federal, Ancine e Anatel.
“Nas importações, os criminosos falsificam documentos e declaram, por exemplo, que estão importando acessórios de celulares. O serviço de inteligência da Polícia Civil repassa as informações – no caso de contrabando e descaminho –, e as investigações continuam na Polícia Federal”, explica o delegado Fabrício Oliveira, chefe da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil.
De acordo com a ABTA, as operações de 2020 geraram um prejuízo de mais de R$ 470 milhões ao crime organizado. O número, entretanto, pode ser ainda maior. Nesse valor, não estão contabilizadas, por exemplo, as perdas de receitas com assinaturas de serviços ilegais, acessados por essas caixas de TV Box. Segundo a polícia do Rio de Janeiro, a pirataria de TV por assinatura é um dos principais ramos de negócios ilícitos das milícias no estado.
No ano passado, a Polícia Civil encaminhou relatório ao Supremo Tribunal Federal no qual aponta que as milícias já dominam 278 das 1.413 comunidades mapeadas. De acordo com o levantamento, os grupos paramilitares controlam um número maior de territórios do que duas das três facções de tráfico de drogas que agem no estado. Wellington da Silva Braga, o Ecko, de 34 anos, é apontado como maior miliciano do Rio.