Michelle recebeu kit de joias em mãos, diz funcionária do Planalto
A entrega do ki teria ocorrido em 29 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e conferido pessoalmente pelo então presidente Bolsonaro
atualizado
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A então primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu em mãos o segundo kit de joias sauditas que entrou ilegalmente no Brasil. A entrega teria ocorrido em 29 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e conferido pessoalmente pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).
As informações são do Estadão, que teve acesso ao depoimento de uma funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) — ela atuava no setor à época. O GADH é a área responsável pela recepção e triagem dos presentes oficiais.
À tarde, durante agenda do PL na Câmara, Michelle negou ter recebido “em mãos” as joias, mas admitiu que elas chegaram ao Alvorada. “Foi tudo feito pelo trâmite administrativo”, disse. Questionada se o material foi entregue em mãos, Michelle respondeu: “Eu não [recebi]. Estava no Alvorada. Ela é passada pela administração”.
A ex-primeira-dama também foi questionada sobre o paradeiro das joias. “Vocês são muito mal informados. Não está na Caixa Econômica Federal? É o lote da cor ouro rosé. É masculina, mas era ouro rosé. Um terço, um relógio. Abotuaduras, uma caneta. Vocês já sabem disso”, concluiu.
O kit é composto de relógio com pulseira de couro, par de abotoaduras, caneta rosa gold, anel e um masbaha rose gold, todos da marca suíça Chopard. As joias chegaram ao Brasil pela comitiva do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, em outubro de 2021, sem aprovação da Receita Federal.
O recibo das joias entregues no Palácio da Alvorada foi assinado por Rodrigo Carlos do Santos, funcionário do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência. Ele aparece listado no acervo privado de Bolsonaro.
Quando o recebimento dos pacotes ilegalmente foi revelado, Michelle repetiu diversas vezes que não tinha conhecimento dos itens e chegou a debochar das investigações. No Instagram, a ex-primeira-dama escreveu na ocasião: “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo, hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória”.
Pacote recebido
No depoimento, a servidora do GADH informou que, em novembro de 2022, um ano após a entrada das joias no Brasil, o coordenador-geral do setor, Erick Moutinho Borges, orientou que ela colocasse no acervo de Bolsonaro um conjunto de joias que chegaria ao departamento.
A caixa trazida por assessores do Ministério de Minas e Energia foi recebida pela funcionária, Erick e o museólogo Raniel Fernandes. Os servidores teriam dito à equipe que Bolsonaro tinha visto o presente.
Após avaliarem as joias, o chefe do GADH à época, Marcelo Vieira, informou que, por razões de segurança, o conjunto deveria ser entregue ao Palácio da Alvorada. Um servidor do Alvorada teria, então, ido até o local para buscar a caixa.
Momentos depois, então, o administrador do Alvorada e braço-direito de Michelle, pastor Francisco de Assis Castelo Branco, teria falado com a funcionária, “informando que a caixa com as joias já estava na posse da primeira-dama, Michelle Bolsonaro”.
Segundo o Estadão, documentos comprovam que o pacote foi entregue no Palácio da Alvorada. O recibo indicando que Bolsonaro recebeu as joias de diamantes foi assinado pelo funcionário Rodrigo Carlos do Santos às 15h50 de 29 de novembro de 2022. O papel da Documentação Histórica do Palácio do Planalto traz um item no qual questiona se o item foi visualizado por Bolsonaro. A resposta: “sim”.
“Alerta de presente”
A funcionária ainda relatou à PF que, antes de a comitiva do MME chegar ao Brasil, foi aberto um processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) informando queo grupo enviaria um cavalo de ouro a Bolsonaro. O presente estava entre os itens de luxo, mas o informe não mencionou qualquer conjunto de joias, que, somadas chegam a custar cerca de R$ 18 milhões.
À Polícia Federal a funcionária do GADH destacou que atuava naquele departamento havia um ano e que nunca havia se deparado com uma situação como aquela, em que um presente é cadastrado antes, com o propósito de “alertar a futura chegada de um presente ao presidente da República”.
O cadastro ficou parado no SEI por mais de um ano, tempo em que o item ficou retido na Receita Federal. O registro só seria acionado de novo em novembro do ano passado, após as eleições, e não para inclusão da estátua dourada que continuava presa na alfândega de Guarulhos, mas para a inclusão do segundo pacote de joias enviadas pelos árabes e que entrou ilegalmente no país.
O Metrópoles entrou em contato com a assessoria de Michelle Bolsonaro, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.