Mesmo sem apoio de lideranças, caminhoneiros preparam ato no DF em 7/9
Militância bolsonarista não desiste de levar transportadores para ato de 7 de setembro em Brasília, e conta com o apoio de setores do agro
atualizado
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O papel do cantor Sérgio Reis como garoto propaganda ficou prejudicado com o arrependimento dele em relação às declarações sobre dar um ultimato ao Senado sobre impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas militantes bolsonaristas continuam contando com caminhoneiros para dar volume às manifestações de apoio ao governo que planejam para o próximo dia 7 de setembro, em Brasília e São Paulo.
Nas redes sociais, como Facebook e Twitter, e em grupos de aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram, as convocações aos trabalhadores do setor de transporte de cargas continuam fortes. As lideranças de entidades que representam os caminhoneiros, porém, oscilam entre desincentivar a participação da categoria ou ficar em silêncio devido a pressões internas.
Um representante contou à reportagem que está difícil se posicionar porque há divisão interna. Ele disse que o assunto tem sido muito debatido nos grupos e que os defensores devem acabar participando do movimento “como cidadãos”, não representando entidades ou falando pela categoria dos caminhoneiros.
Segue reverberando nos grupos de caminhoneiros a mensagem de Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), que detonou a convocação feita por Sérgio Reis e o uso político da categoria. “Precisamos nos unir para lutar pelas nossas demandas. Nós não nos envolvemos com pauta política nem a favor de governo nem contra governo, nem a favor de STF nem contra STF”, discursou ele, um dos organizadores da greve de caminhoneiros de 2018, que parou o país por 10 dias.
A fala abertamente golpista de Sérgio Reis – que já lhe rendeu um inquérito da Polícia Civil do DF, uma representação de subprocuradores da República, cancelamento de shows e uma crise de diabetes e depressão – bagunçou um pouco a mobilização para o 7 de setembro, mas lideranças simpáticas ao presidente Jair Bolsonaro ainda tentam colocar os caminhoneiros nas mobilizações pró-governo no feriado da Independência.
O representante da categoria José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), disse nesta semana que a manifestação pode receber apoio dos caminhoneiros se incluir os pleitos da categoria. “Só vou apoiar como brasileiro e representante da categoria se o pessoal que está organizando colocar nessa pauta uma mudança na política dos preços dos combustíveis”, afirmou ele ao MSN Notícias.
Polícia Militar monitora, governo não espera adesão
Há postagens mais extremadas em grupos de militantes bolsonaristas, mas a maioria das convocações não fala em “quebrar tudo e tirar os caras na marra”. Mesmo assim, a Polícia Militar do DF já acompanha os planos dos caminhoneiros para evitar ser pega de surpresa.
Interlocutor do governo com o setor dos transportes, o Ministério da Infraestrutura avalia que a convocação das redes governistas não vai surtir efeito. “O ministério mantém diálogo contínuo com a categoria do transportador autônomo e não identifica nenhuma mobilização setorial para as próximas semanas”, informou a pasta ao Metrópoles.
Ferrogrão e o papel do agro na mobilização
A pressão em cima de Sérgio Reis respingou no agronegócio. A notícia de que a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) apoiaria a manifestação de 7 de setembro fez o presidente da organização, Antonio Galvan, receber duras críticas – inclusive de colegas ruralistas.
Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do Brasil, reclamou. “O Galvan fala como se o setor inteiro do agronegócio e da soja assinasse embaixo de suas posições. E isso não é verdade”, disse à jornalista.
Maggi chegou a ligar para Galvan. “Eu disse a ele que bloquear estradas com caminhoneiros será uma tragédia para o próprio agronegócio. Uma semana de confusão botará o Brasil de joelhos. Todo o fluxo de insumos e mercadorias será interrompido. Como pode uma associação defender esse tipo de ruptura? É uma tragédia.”
Em resposta às críticas, Galvan disse: “Deixa quieto esse assunto. Em merda, quanto mais mexe, mais fede”. O presidente da Aprosoja ainda defendeu que pensa no país, enquanto outros “pensam no próprio bolso”.
O interesse de setores do agro em tomar parte nas manifestações que miram o STF – e estimular caminhoneiros – tem a ver com os planos de uma ferrovia ligando Sinop (MT), no coração da produção de soja e milho, ao Rio Tapajós, no Pará, e dali para o mundo, encurtando em aproximadamente mil quilômetros a distância entre os grãos e o porto mais próximo.
Em março deste ano, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu por liminar uma lei do governo Michel Temer (MDB) que alterava os limites da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, para viabilizar a passagem da Ferrogrão.
Desde então, ruralistas pressionam o Supremo para rever a decisão e possibilitar que o governo federal dê seguimento aos planos. Atualmente, mais de 70% da safra mato-grossense de soja e milho segue para os portos das regiões Sul e Sudeste. Com a nova ferrovia, a previsão do Ministério da Infraestrutura é de que o preço do frete caia entre 30% e 40%. A obra, porém, é criticada por ambientalistas, que cobram mais diálogo com o governo.