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Mercado em ascensão: dá para lucrar com IA?

Questões éticas e aversão por parte de profissionais do mercado de trabalho criativo é a maior barreira para os profissionais de IA

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Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images
Foto colorida de tela de celular com o fundo cinza e a palavra escrita OpenAI - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de tela de celular com o fundo cinza e a palavra escrita OpenAI - Metrópoles - Foto: Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images

A comercialização de produções com o uso das inteligências artificiais (IAs) vem se popularizando e transformando o trabalho criativo. O Metrópoles conversou com artistas digitais, designers e especialistas para entender esse mercado em ascensão, que é alvo de contradições éticas e aversão por parte de profissionais do mercado.

Navegando na internet é fácil encontrar páginas ou anúncios de artes geradas a partir de comandos, uma tentativa de desbravar essa nova ferramenta e criar uma nova vertente de mercado. Como é o caso do artista digital Thiago Araujo, 33 anos, que encontrou uma forma de se expressar artisticamente por meio da IA.

Amante das artes, ele é formado em música e já integrou a Orquestra Sinfônica do Paraná. “Sempre fui apaixonado pela arte, acompanhando os avanços tecnológicos tive a oportunidade de me expressar criativamente de uma maneira que não achei que seria possível antes”, disse.

A partir de plataformas e ferramentas que criam imagens e artes ultra realistas, como o Midjourney, Araujo conseguiu entrar no mercado da arte. Ele abriu uma página nas redes sociais e, em pouco tempo, atingiu a marca de 600 seguidores.

Segundo ele, antes de expor as artes na página, há uma curadoria até chegar “no resultado esperado”. Ele testa até chegar no comando ideal e dá alguns retoques no Photoshop para “melhorar” o conteúdo. Araujo vende posters, adesivos e imãs sob encomenda. O valor médio de uma peça é R$ 30.

Confira algumas produções do artista:

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"Paisagens impossíveis" de espaços imaginários
"Paisagens impossíveis" de espaços imaginários
Uma releitura da catedral de Brasília (DF)
Uma releitura da ponte JK
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"Paisagens impossíveis" de espaços imaginários

Reprodução/Thiago Araujo
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"Paisagens impossíveis" de espaços imaginários

Reprodução/Thiago Araujo
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"Paisagens impossíveis" de espaços imaginários

Reprodução/Thiago Araujo
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Uma releitura da catedral de Brasília (DF)

Reprodução/Thiago Araujo
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Uma releitura da ponte JK

Reprodução/Thiago Araujo

O mercado das tecnologias generadoras ainda está no começo, mas já indica uma grande expansão. Para o artista digital, a venda de materiais feitos por IAs pode ser um “negócio altamente rentável”. Por mês, ele recebe em média quase um salário mínimo (R$ 1.302). Para ele, a quantia é um “extra” na renda, uma vez que ele tem um trabalho fixo, mas acredita que “pelo menos por enquanto” pois sonha em viver da arte.

Mesmo afirmando que não vende as artes por precisar de dinheiro, Araujo conta que a prática oferece um “certo lucro”. No entanto, não é tão grande porque depende de outras áreas, como a divulgação. “Por exemplo para uma loja on-line com pouco capital inicial para investimento, é possível alcançar uma margem de lucro boa. Claro, se existir dedicação em outros aspectos”, pontuou Araujo.

“O melhor assistente do mundo”

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Usando uma citação da Lei de Lavosier, o artista digital Thiago Araujo acredita que qualquer produção artística tem alguma referência de outro e as máquinas conseguem “exponencializar essa pesquisa”.

Em comparação aos assistentes de figuras renomadas do universo da arte, ele define a IA como “o melhor assistente do mundo”. Além disso, afirma que as máquinas já fazem “melhor que muitos artistas”. “A máquina potencializa a habilidade do ser humano. Ações tediosas serão automatizadas, que pode garantir uma maior liberdade criativa. Agora, o limite vai ser a imaginação”, afirmou.

Entre os questionamentos sobre a propriedade intelectual, Araujo se considera detentor das produções. A justificativa é ter criado o código escrito para instruir a IA e criar a “arte ideal”. No entanto, ele diz que executar apenas essa função não torna o trabalho mais simples, mas, o automatiza. 

Porém, mostrar o diferencial dessas artes que “bebem da mesma fonte de inspiração” é um trabalho que deve partir do “criador”. “Dar significado às essas artes para que exista um envolvimento pessoal com o público é o maior desafio”, contou. “O progresso é inevitável”, completou.

Otimizando tempo para ganhar mais

Com oito anos de experiência no ramo da tecnologia, o product designer Blainer Costa, 28 anos, conta que dá para lucrar em diversas áreas com a auxílio de IAs. Ele se considera um “entusiasta da tecnologia” e está acompanhando as mudanças no mercado desde junho do ano passado.

De acordo com ele, é possível ganhar dinheiro além de produzir conteúdo visual. Por exemplo, criar produtos para nortear empresas a como usar a IA no cotidiano dos funcionários e apresentar soluções pontuais. O único ponto negativo é que as assinaturas das plataformas são cotadas em dólar, segundo ele.

Costa usa IAs, como o ChatGPT, para otimizar e automatizar seus processos do dia a dia. Para ele, a recompensa a partir da inserção dessas ferramentas na rotina de produção é a “economia de tempo” que torna a tarefa de “monetização” mais eficaz.

Ele enxerga a “evolução estrondosa” das IAs como uma nova etapa na história da humanidade. “O mundo acaba se adaptando a esses novos cenários. Hoje, ainda é um pouco obscuro, mas a balança vai ser equacionada e essas reclamações vão deixar de existir”, conta.

Nas redes sociais, Costa dialoga com a comunidade, mostrar seus trabalhos e dar dicas. Como há uma gama de IAs, umas mais desenvolvidas e outras menos, o designer diz que elas tem diversas aplicabilidades. Ele atua na área criando imagens, interfaces para aplicativos e sistemas de automação do trabalho.

O designer confessa que ganhou mais tempo para se dedicar em outros aspectos da sua vida pessoal e profissional. Ele recomenda que as pessoas sejam mais abertas a mudanças e, realmente, testar as ferramentas para entender como elas funcionam.

Coach de como lucrar com IA?

A página IA Explorador, com quase 55 mil seguidores nas redes sociais, ajuda as pessoas “a gerar o seu primeiro rendimento” com as ferramentas. O dono do perfil, o português Romain, 28 anos, acredita que, ao usar bem a IA,  será possível substituir profissionais na sua área — “poupando-lhe muito tempo e tudo isso, sem ser um especialista”.

Ele ganhou uma repercussão considerável depois de compartilhar informações, conteúdos e ferramentas gratuitamente sobre as novas inteligências artificiais, como o ChatGPT e o Midjourney. Romain começou o projeto de coach após perceber que Portugal “não está suficientemente desenvolvido e informado sobre a IA e todas as suas ferramentas”.

Romain disse se a procura para iniciar um negócio que use IAs confirmou que pode começar a cobrar pela “ajuda” prestada. Mas, no momento, ele afirma que os negócios de e-commerce estão correndo bem por isso não se preocupa com lucros.

Direitos autorais e competição com artistas

Desde a popularização da inteligência artificial (IA), uma crescente onda de críticas se espalhou pela comunidade de artistas “tradicionais” contra pessoas que comercializam materiais, como poemas, livros, artes, fotografias, entre outros, produzidas por essas ferramentas.

Nos últimos dias, uma fotografia gerada por IA desbancou fotos “reais” na categoria aberta do concurso Sony World Photography Awards. No entanto, o dono da obra recusou o prêmio. Esse acontecimento ampliou as discussões em torno da relação tecnologia-arte.

Mesmo com as polêmicas, o pesquisador e professor da Fundação Getúlio Vargas Escola de Comunicação, Mídia e Informação (FGV ECMI) afirma que “não há uma abordagem unificada ou consensual sobre como lidar com propriedade intelectual em relação às criações feitas pelas IAs”.

Entre acadêmicos e pesquisadores há um debate sobre se as IAs devem ser consideradas criadoras de obras originais ou esse título cabe aos programadores que criam as IAs ou até mesmo aos proprietários das ferramentas.

Porém, para ele o ponto principal é saber como lidar com o fato de que os sistemas “engoliram” boa parte da internet sem autorização para produzir algo novo. Nos Estados Unidos (EUA), o governo do democrata Joe Biden publicou o “Blueprint for an AI Bill of Rights”, um conjunto de princípios éticos sobre inteligência artificial no país.

A legislação dos EUA estabelece quatro fatores para determinar se um tipo de uso seria considerado “justo”. São eles:

  • a finalidade e o caráter do uso;
  • a natureza da obra protegida por direitos autorais;
  • a quantidade que foi copiada;
  • o efeito potencial no mercado dessa obra.

De acordo com Foletto, esse tipo de exceção flexível estabelecida pelo fair use tem sido a interpretação usada pelos tribunais norte-americanos para permitir alguns usos exigidos por aplicativos de IA de geração de imagens. “A questão principal é se a extração de conteúdo de terceiros para ser usado como entrada para um sistema como o ChatGPT, por exemplo, pode ser considerada uso justo”, declarou.

A Europa iniciou as discussões a respeito de um projeto de lei de regulação dos sistemas de inteligência artificial começaram nos últimos dias. Intitulado de “AI Act”, o PL foi proposto pela Comissão Europeia da União Europeia.

Mesmo sem conseguir prever as mudanças, Foletto conta que “as adaptações para profissionais da área criativa não são muito diferentes de outros momentos históricos”. O pesquisador recomenda que é “necessário entender como funciona, também para poder extrair o máximo e poder subverter seus usos iniciais se necessário”.

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