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Mensagens mostram que Bolsonaro sabia de leilão das joias: “Selva”

O ex-presidente da República respondeu mensagem de Mauro Cid sobre leilão do kit de joias rosé após acessar site de loja nos EUA

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid descem a rampa do Planalto
1 de 1 presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid descem a rampa do Planalto - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento de leilões realizados nos EUA para vender joias recebidas como presentes enquanto ocupava o cargo de mandatário da República, conforme investigações. Relatório da Polícia Federal que concluiu pelo indiciamento de Bolsonaro e mais 11 pelos crimes de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia criminosa, mostra mensagens trocadas entre Bolsonaro e Mauro Cid sobre os leilões.

Em um dos casos, sobre o kit ouro rosé, Bolsonaro conversa com seu ex-ajudante de ordens acerca da venda do kit em leilão de uma loja em território norte-americano. Em 4 de fevereiro de 2023, Mauro Cid envia o link do leilão do “KIT ROSÉ da loja Fortuna Auctions”, que ocorreria em 8 de fevereiro.

Após, aproximadamente, um minuto de abertura da página pelo ex-presidente, ele envia a mensagem “Selva” a Mauro Cid, sinalizando ciência. A sequência da mensagem, tempo de acesso da página e resposta de consentimento foi checada a partir do histórico e cookies de Bolsonaro em seu aparelho telefônico.

O celular do ex-presidente foi apreendido após determinação de ordem judicial, no âmbito da Operação Venire. O aparelho foi submetido a exame pericial. Durante a análise, foram encontrados cookies e históricos de navegação da página da empresa Fortuna Auction, responsável pelo leilão.

Veja: a conversa com Mauro Cid:

imagem colorida de Bolsonaro e Mauro Cid sobre leilão de joias

Os cookies são arquivos que são trocados entre uma página web e o navegador para facilitar o acesso e trocas de outras informações. Os cookies e URLs do leilão foram registrados no celular de Bolsonaro.

Como o item não foi arrematado, Mauro Cid enviou mensagens eletrônicas para a loja Fortuna Auction em fevereiro de 2023. No dia 9, ele pergunta se o item poderia constar no próximo leilão. No dia seguinte, pergunta quais seriam os próximos passos a respeito do Kit Chopard. Cid especifica o número do lote anunciado (1031) e, em 13 de fevereiro decide realizar mais uma tentativa de leilão pelo mesmo valor.

No dia 14, Cid informa a loja que o proprietário mudou de ideia, que teria considerado o valor muito baixo. Na sequência, solicita o retorno do item para o endereço onde residia o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus assessores. Em março, Cid cobra da loja a devolução dos itens, depois de diversas matérias sobre o tema serem publicadas por veículos de comunicação.

Em cash

Documento da PF também aponta que Jair Bolsonaro teria recebido parte do valor da venda ilícita de joias sauditas em dinheiro vivo. Em conversas de WhatsApp trocadas entre Mauro Cid e o ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara, Cid diz que é preciso evitar o uso do sistema bancário: “Quanto menos movimentação em conta melhor, né?”

A conversa ocorre em 18 de janeiro de 2023, quando Câmara estava com Bolsonaro em Orlando, nos Estados Unidos. O ex-ajudante de ordens diz que tem US$ 25 mil com o pai dele, o coronel Lourena Cid, e que isso poderia ser entregue em “cash”.

“Eu estava vendo o que que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?”

A PF concluiu nesse relatório, que chegou ao Supremo, pelo indiciamento de Bolsonaro e mais 11 pelos crimes de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia.

Quando é tratada a entrega de dinheiro em espécie, a PF afirma que “identificou indícios de que Bolsonaro, então presidente da República, seus assessores, Marcelo Câmara, Osmar Crivelatti; o ex-chefe da Ajudância de Ordens Mauro Cesar Cid; o ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência Marcelo Vieira e outras pessoas ainda não identificadas, atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República e/ou por comitivas do governo brasileiro”, diz relatório.

A PF concluiu “que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistemabancário formal, com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores”, conclui a PF.

Ainda em relatório, encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), a PF “indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, diz.

E conclui: “a utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o “dinheiro sujo” à economia formal, com aparência lícita”.

Sigilo derrubado

Nesta segunda-feira (8/7), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do caso das joias. Moraes considerou que, com o relatório final do caso apresentado pela Polícia Federal na semana passada, não há razão para manter o processo sob discrição.

Por meio de nota, a defesa de Jair Bolsonaro ressaltou que não houve qualquer irregularidade no caso das joias e que situações parecidas ocorreram em governos anteriores.

“Os presentes ofertados a um presidente da República obedecem a um rígido protocolo de tratamento e catalogação e sobre o qual o Chefe do Executivo não tem qualquer ingerência, direta ou indireta, sendo desenvolvido pelo “Gabinete Adjunto de Documentação Histórica” (“GADH”), responsável por analisar e definir, a partir dos parâmetros legais, se o bem será destinado ao acervo público ou ao acervo privado de interesse público da Presidência da República. Referido Gabinete, esclareça-se, é composto por servidores de carreira e que, na espécie, vinham de gestões anteriores”.

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