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“Melzinho do amor”: conheça os riscos do estimulante sexual ilegal

Produto, que não tem aval da Anvisa e promete aumentar a libido, pode levar à morte; a comercialização é proibida no Brasil

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Reprodução/Prefeitura de Lages
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1 de 1 Unidades-de-‘melzinho-do-amor’-apreendidas-em-Lages-(SC) - Foto: Reprodução/Prefeitura de Lages

São Paulo – Se você buscar nas redes sociais as palavras “melzinho do amor“, encontrará quem vende clandestinamente esse produto, que é ilegal, não tem aval da Anvisa e promete aumentar a libido e “apimentar” a relação sexual.

Sites que comercializam o item listam seus benefícios, sem provas científicas, a exemplo de aumento do desejo sexual e vigor; reforço de ereções em pessoas idosas; crescimento da fertilidade do sêmen; redução de problemas com a próstata e lesões genitais nos homens; potencialização da vitalidade, lucidez e memória; e contribuição para o processo do metabolismo.

O que muitos não sabem é que a venda desse sachê caseiro, que se diz 100% natural, é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em agosto deste ano, a entidade emitiu um alerta para as substâncias que foram encontradas dentro do suposto “estimulante sexual”.

Compostos presentes em remédios para a disfunção erétil e para quadros de pacientes com hipertensão pulmonar, como a Sildenafila e a Tadalafila – do Viagra e do Cialis -, foram descobertos combinados ou não no produto, que varia de acordo com o fabricante.

Em nota, a gerente de Inspeção e Fiscalização Sanitária da Agência, Ana Carolina Moreira, afirmou que o consumo pode trazer prejuízos à saúde e que não existe nenhuma garantia que confirme sua eficácia, além de trazer um desconhecimento da higiene para a sua ingestão.

Em setembro, um novo alerta foi emitido, desta vez pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A instituição, por meio do Laboratório de Toxicologia Analítica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox), realizou a análise de três amostras.

As embalagens citam ingredientes como café, extrato de caviar, ginseng, maçã, gengibre, canela, mel da Malásia e Tongkat Ali (Eurycoma longifolia). No entanto, em momento algum, fala-se nos princípios ativos Sildenafila e Tadalafila.

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Embora as embalagens apontem um produto 100% natural, as amostras analisadas contêm os fármacos Sildenafila e Tadalafila, cuja utilização sem prescrição oferece riscos à saúde
Unicamp analisou o "melzinho do amor" e encontrou substâncias que oferecem risco à saúde
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Em uma das amostras, foram encontradas a Sildenafila e Tadalafila de forma combinada, o que pode aumentar os riscos à saúde

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Embora as embalagens apontem um produto 100% natural, as amostras analisadas contêm os fármacos Sildenafila e Tadalafila, cuja utilização sem prescrição oferece riscos à saúde

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Unicamp analisou o "melzinho do amor" e encontrou substâncias que oferecem risco à saúde

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Agora, o que pode acontecer com alguém que não apresenta problemas com a ereção ao utilizar produtos com estes componentes?

Em entrevista ao Metrópoles, o coordenador do Centro de Urologia do Hospital Sírio Libanês de Brasília, Rafael Rocha Vidal, explica os malefícios. “Quando um homem que não tem nenhum transtorno faz o uso de produtos com esses componentes, pode gerar um quadro de priapismo – uma ereção persistente e dolorosa”, explica.

Segundo Vidal, as consequências podem ser ainda maiores dependendo da saúde de quem ingere o melzinho: “As doses ultrapassam o limite seguro utilizado medicinalmente para esses princípios ativos. Então, o risco que se corre são de efeitos colaterais não previstos, como cefaléia, rubor facial, problemas cardiovasculares graves (para quem tem comorbidades) e evolução até para o óbito”, explica.

“Quando uma pessoa toma um medicamento com recomendação, o médico sabe quais são seus problemas de saúde. O risco de efeito adverso existe, mas é controlado. Alguém que faz uso desses medicamentos por conta própria pode estar colocando sua saúde em risco sem saber. Apesar do rótulo dizer que na composição constam apenas extratos de plantas, não há nada de natural neles”, afirma o coordenador do estudo da Unicamp, José Luiz Costa.

Apreensão recente

Em novembro deste ano, dois proprietários de sex shops, de 38 e 40 anos, foram presos em flagrante em Paulínia, no interior de São Paulo, por vender o estimulante sexual. Na ocasião, os homens foram indiciados por fabricar, vender, expor à venda e ter em depósito para vender substância nociva à saúde.

No entanto, os homens acabaram liberados após cada um deles pagar R$ 1.100 de fiança. O dono responde em liberdade. Nos sex shops, localizados no Jardim Planalto, a polícia apreendeu quase 2,8 mil sachês da substância.

Ao Metrópoles, o delegado da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) local, José Glauco Ferreira, afirmou que a equipe analisa o assunto para futuras investigações.

Produtos semelhantes ao “melzinho”

Para Vidal, dentre diversos outros, o chá do amor ou o óleo de algas também são produtos pouco confiáveis. Ambos prometem ereção por horas prolongadas e ser um estimulante totalmente natural, capaz de melhorar a performance sexual.

O chá, de acordo com sites, fala de até 12 horas de efeitos satisfatórios, alegando uma “maior disposição sexual, promovendo uma ereção mais prolongada, rígida e segura, além de retardar a ejaculação precoce”. Já o óleo, uma ereção por até 6 horas e os mesmos benefícios.

“São mais uma tentativa de fórmula milagrosas que resolvam o problema da disfunção erétil”, afirma o médico. “Todos possuem composições não determinadas, sem aprovação científica, sem registro na Anvisa. Nenhum tipo de medicamento que não seja regulamentado ou que não tenha sido prescrito por um médico deve ser tentado para sanar o problema”, completa.

De acordo com o urologista, se o problema existe, o melhor caminho é buscar ajuda médica para que se receba orientação da melhor maneira possível. 

A reportagem do Metrópoles procurou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para saber detalhes sobre a investigação sanitária, mas até a publicação desta matéria, não obteve respostas.

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