Salles foi a Madri atrás de bilhões, mas volta de bolsos vazios
Principal meta do Brasil na COP-25 era a regulamentação do mercado de carbono, que traria repasses de países ricos. Mas não houve acordo
atualizado
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Com resultados classificados como “decepcionantes” pelo secertário- geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e por quase todos os participantes, terminou na madrugada deste domingo (15/12/2019), em Madrid, na Espanha, a conferência mundial do clima (COP-25).
Apesar de terem concordado em apresentar “compromissos mais ambiciosos” para frear a emissão de gases poluentes, os 200 países envolvidos adiaram a fixação de metas para a próxima cúpula, que será realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro do próximo ano.
O Brasil colecionou derrotas no evento. Apesar de ter chegado a Madrid bem antes dos pares ministros para pressionar os países ricos a regulamentar o mercado de carbono e viabilizar repasses anuais de até US$ 100 bilhões (R$ 411 bilhões no câmbio atual) para nações em desenvolvimento, o titular da pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles, volta longe de costurar um acordo nesse sentido.
“COP-25 não deu em nada”, admitiu Salles em uma postagem no Twitter nesta madrugada (veja abaixo). No vídeo que acompanha a postagem, o ministro diz que “infelizmente, apesar de todos os esforços do Brasil para ajudar na regulamentação do artigo 6º [do Acordo de Paris], não foi possível encontrar um texto que fosse de comum acordo. Prevaleceu infelizmente uma visão protecionista, de fechamento do mercado, e o Brasil e outros países que poderiam fornecer créditos de carbono em razão de suas florestas e boas práticas ambientais saíram perdendo.”
Na mesa de negociação, o Brasil ficou ao lado de países como Estados Unidos, Índia e China contra a fixação de metas mais ambiciosas. O outro oposto foi liderado pelos países da União Europeia.
O Brasil ainda tentou retirar dois parágrafos do documento final da COP-25, que preveem estímulo a estudos sobre a relação entre alterações nos oceanos e no solo com as mudanças climáticas, e ajudou a atrasar em dois dias a assinatura do acordo, mas foi voto vencido.
Desmentido
Durante o encontro, o ministro Salles chegou a comemorar avanços nas negociações por mudanças advogadas por ele no Fundo Amazônia, formado por repasses de países ricos, especialmente Alemanha e Noruega, para ações de preservação da floresta. A Alemanha, porém, desmentiu o ministro.
Uma “conquista” brasileira na COP-25 foi um prêmio irônico concedido por organizações não governamentais (ONGs) para os países que estão “fazendo o seu melhor para bloquear o progresso nas negociações” sobre o combate ao aquecimento global.
COP 25 não deu em nada. Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas, o tempo todo pic.twitter.com/jZ0bBej9dl
— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) December 15, 2019