Polícia Civil abrirá inquérito para apurar incêndio na Chapada
Fogo já destruiu 26% do parque ambiental. Investigadores querem saber se causas são criminosas
atualizado
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A Polícia Civil de Goiás vai abrir inquérito para investigar as causas do incêndio que há mais de uma semana devasta o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso (GO). O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) acredita que a queimada começou de forma criminosa e acusa fazendeiros da região. Segundo o órgão ambiental, os ruralistas não teriam concordado com a recente ampliação da área do parque, ocorrida em julho deste ano.
É um caso que merece atenção especial e a polícia vai apurar todas as denúncias com muito cuidado
Álvaro Cássio dos Santos, diretor-geral da Polícia Civil de Goiás
Desde o último dia 17, as chamas destruíram 64 mil hectares — o equivalente a mais de 50 mil campos de futebol —, ou 26% da unidade de conservação. Várias instituições estão envolvidas no combate ao fogo, que avança de forma avassaladora sobre a mata.
Ao todo, cerca de 500 pessoas trabalham na contenção das labaredas. O grupo inclui voluntários, integrantes do ICMbio, Grupo Ambientalista do Torto (GAT), Corpo de Bombeiros de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Rodoviária Federal e Prefeitura de Alto Paraíso. Apesar do trabalho diuturno, os inúmeros focos dificultam a ação.
Mobilizado nas redes sociais, o grupo Rede Contra Fogo pede recursos para manter brigadistas e voluntários, além de especificar itens que precisam ser doados. O financiamento coletivo é feito por meio do site: www.catarse.me/redecontrafogoveadeiros
O grupo também tenta meios para salvar animais silvestres: “A sociedade civil convoca a população de Brasília a ajudar os animais silvestres que estão tentando sobreviver às queimadas”, diz o comunicado.
De acordo com a rede, foram arrecadados R$ 82 mil até o momento. A meta é chegar a R$ 170 mil. O dinheiro será usado na compra de equipamentos de combate ao fogo e de proteção pessoal, além de custear gasolina e alimentos para os brigadistas.
Fernando Machado é voluntário do grupo e confirmou que a situação no local é preocupante. “Tudo o que estamos vendo é muito triste. Vários animais mortos. Não temos como dimensionar o tamanho da destruição. Estamos convictos de que, com a ajuda de todos, conseguiremos melhores condições para trabalhar.”Um brigadista voluntário contou que a fumaça densa dificulta o trabalho “Estamos exaustos com todo o trabalho, há muitas pessoas passando mal por conta da fumaça. Pedimos solidariedade e ajuda para salvar a nossa natureza”, disse Marcelo Matos.
Outro brigadista que trabalha na Chapada dos Veadeiros Piquerobi de Souza escreveu uma carta emocionada sobre o estrago na região (leia um trecho abaixo):
“Quando alguém risca um fósforo e toca fogo no mato, não é ao presidente a quem ele está prejudicando. Quando alguém acende um isqueiro para renovar sua pastagem, não é só ao vizinho de cerca que ele afeta. Do outro lado dessa linha de fogo tem muita história. A biodiversidade é afetada de maneira irremediável. Árvores em chamas, turfas completamente queimadas, buritis de 300 anos ardendo e cozinhando até morrer em pé anelados pelo fogo. Animais correndo da linha do fogo, grupos de veados, famílias de emas, cobras queimadas. A fumaça tóxica se acumula no ar que se torna denso e pesado demais. O pôr do sol reflete nas partículas de fumaça e projeta longe um laranja vivo sobre a morte que veio com o fogo”.
PMDF cede aeronaves
Na manhã desta terça-feira (24/10), a Polícia Militar do Distrito Federal enviou duas aeronaves da corporação para o município goiano situado a 250km de Brasília. Os helicópteros ajudarão no transporte das tropas e dos voluntários. Os veículos aéreos também auxiliarão no monitoramento da área queimada.
As aeronaves da corporação brasiliense são equipadas com recipientes que têm capacidade para armazenar e lançar até 540 litros de água. O grupamento deve permanecer no parque até segunda-feira (30), mas a presença deles pode ser prorrogada caso o fogo não diminua.
“Nosso objetivo é garantir a chegada dos voluntários aos locais de difícil acesso, proporcionando maior efetividade no combate ao incêndio. A ordem é permanecer no parque até que todo o fogo seja debelado”, explicou o comandante do Comando de Policiamento Aéreo (CPAer), coronel Renato Costa.
Além dos dois helicópteros da PMDF, quatro aviões-tanque (que lançam água sobre as chamas) e outros três helicópteros são usados na operação. Um Hércules C-130, da Força Aérea Brasileira (FAB), também foi deslocado para a região. “O engajamento da sociedade civil no apoio direto à proteção de toda a área da Chapada tem sido fundamental para combater os incêndios florestais”, afirma o coordenador-geral de Proteção do ICMBio, Luiz Felipe de Luca.
Ajuda aos animais
O Zoológico de Brasília enviou nesta segunda (23) à Chapada dos Veadeiros uma equipe com dois veterinários, um biólogo e um técnico. Eles vão prestar socorro aos animais feridos no incêndio e trabalhar em parceria com ONGs da região.
De acordo com o governo de Brasília, também foram enviados medicamentos, material cirúrgico e equipamentos. Segundo o diretor-presidente do Zoológico de Brasília, Gerson de Oliveira Norberto, a prioridade é buscar animais nos locais em que o fogo está controlado e tratar intoxicações e queimaduras.
S.O.S
Para ajudar no socorro à Chapada dos Veadeiros, depósitos podem ser dirigidos ao grupo Rede Contra Fogo, por meio de transferências para as seguintes contas:
Supermercado Canaã
Banco do Brasil
Agência: 4546-2
Conta corrente: 8263-5
CNPJ: 09471052 0001-10
Supermercado Paulista
Banco do Brasil
Agência: 4546-2
Conta corrente: 7427-6
CNPJ: 37241460 0001-11
Ao final da transação, o doador deve enviar o comprovante de pagamento para o e-mail: redecontrafogoveadeiros@gmail.com
A UnB Cerrado também arrecada material de doação para ajudar no combate ao incêndio, preferencialmente alimentos não perecíveis (sucos de caixinha, biscoito e barras de cereal), material de campo (botas, lanternas, roupas apropriadas, galões de água, dinheiro para gasolina etc). As doações devem ser entregues na UnB, na sala A1 07/12, no Campus Darcy Ribeiro.