PF prende um dos maiores traficantes de animais silvestres do país
Mais de 200 animais em cativeiros precários foram apreendidos; maioria deles possui zoonoses, incluindo doenças transmissíveis a humanos
atualizado
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São Paulo – A Polícia Federal de São Paulo deflagrou, nesta sexta-feira (04/12,) a Operação Urutau 2, que visa desmontar uma quadrilha de tráfico de animais silvestres de atuação nacional. O órgão cumpre 14 mandados de prisão preventiva, 17 de busca e apreensão e cinco de apreensão de veículos em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco e Goiás.
A Polícia Federal informa que foram apreendidos mais de 200 animais silvestres, principalmente aves.
No âmbito da operação foi preso Roberto Augusto Martinez Filho, conhecido como “Zé do Bode” e um dos maiores contrabandistas de animais silvestres do Brasil. Zé do Bode havia sido detido outras vezes, inclusive em flagrante com a posse de dois macacos-prego, mas se encontrava em liberdade.
Segundo investigações da PF, os traficantes vendiam os animais com notas fiscais falsificadas por meio de redes sociais.
Na primeira operação deste tipo, a polícia encontrou 350 animais silvestres mantidos em cativeiro de maneira precária. Papagaios e araras eram transportados dentro de caixas de leite, por exemplo.
Segundo a polícia, os traficantes também podem ser indiciados por expor “a vida ou a saúde de outrem a perigo”, pois ao retirar os animais da vida selvagem de forma ilícita se assume o risco de promover a transmissão de zoonoses para humanos.
“Esses animais são alvos de maus-tratos na retirada da natureza, no transporte e no cativeiro. Além disso, muitos desses animais são vetores de doenças graves que podem levar à morte. Nós estamos vivendo um momento de pandemia de Covid-19 justamente pelo contato de seres humanos com animais silvestres”, disse Marcelo Ivo de Carvalho, delegado da Polícia Federal.
Eduardo Fortunato Bim, presidente do Ibama, declarou que “animal silvestre não é pet” e que hoje no Brasil, “a maior ameaça à diversidade da nossa natureza é o contrabando de animais silvestres”.
Zoonoses
Segundo Juliana Summa, da Divisão Técnica de Medicina Veterinária da Secretaria Municipal do Verde do Meio Ambiente de São Paulo, a maioria dos animais encontrados em cativeiro estão com alguma zoonose. A servidora também relatou morte de funcionário ao entrar em contato para tratamento desses animais.
“Cachorros são vacinados contra raiva, mas macacos, não. Araras, papagaios e periquitos que chegaram para nós estão sendo diagnosticados em nossos centros com bornavírus e circovírus aviário. Temos funcionários que contraíram psitacose tratando desses animais. Um funcionário morreu”, declarou Summa, explicando que a psitacose é subnotificada por lembrar uma pneumonia.
As declarações de Marcelo Ivo de Carvalho, Eduardo Fortunato Bim e de Juliana Summa foram dadas em entrevista coletiva à imprensa na sede da Polícia Federal de São Paulo nesta sexta-feira (4/12).
A Operação Urutau 2 é fruto de colaboração entre PF e Ministério Público Federal, Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Paulo, Polícia Militar Ambiental do São Paulo, Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul e Ibama.