MPF pede suspensão do decreto que extingue reserva no Amazonas
Segundo o MPF, se trata de uma afronta à Constituição e mantém o meio ambiente sob ameaça de extermínio do ecossistema
atualizado
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O Ministério Público Federal do Amapá (MP-AP) encaminhou à Justiça Federal um pedido de suspensão do decreto presidencial que libera a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca) para exploração mineral. Para o MPF/AP, a medida da Presidência da República, mesmo em sua versão revogada, é uma afronta à Constituição e mantém o meio ambiente sob ameaça de ecocídio — extermínio do ecossistema.
No documento, o órgão defende a inconstitucionalidade do ato e afirma que o novo decreto não apresenta real modificação do conteúdo em relação ao que foi revogado. Para a instituição, embora a Renca não esteja inserida na tipologia de unidade de conservação ambiental, é possível classificá-la como espaço territorial especialmente protegido. Assim, somente poderia ser alterada por meio de lei específica, conforme a legislação.
O MPF/AP ressalta ainda que a União não pode intervir nos estados e municípios nem fomentar atividade potencialmente poluidora sem que haja ampla discussão, especialmente com os amazonenses. Além disso, a inclusão do Comitê de Acompanhamento de Áreas Ambientais sequer menciona os indígenas e as comunidades agroextrativistas e ribeirinhos. Os Wajãpi, pioneiros na criação de protocolo próprio de consulta, também são ignorados. “A não observância desse direito fundamental dos povos tribais, ensejará na responsabilidade internacional da República Federativa do Brasil”, alerta.A instituição argumenta que “a manutenção dos efeitos do Decreto nº 9147/2017, que extingue a Renca, põe em risco a integridade das terras indígenas e das unidades de conservação existentes, fragilizando as funções ecológicas e conservacionistas dessas áreas legalmente protegidas”. Portanto, complementa que é “imprescindível que sejam imediatamente suspensos os efeitos” do novo decreto para impedir a liberação da área da Renca para atividades minerárias.
Ecocídio
Nas informações complementares à Justiça Federal, o MPF/AP evidencia, mais uma vez, o risco de ecocídio, devido ao grave prejuízo ao meio ambiente e a povos indígenas, comunidades tradicionais e seres humanos como um todo, resultado da exploração mineral na região. Desde o final do ano passado, o Tribunal Penal Internacional decidiu classificar o ecocídio como crime contra a humanidade.
O entendimento do Direito Internacional foi, portanto, ampliado para proteger adequadamente o meio ambiente. “Assim, a ampliação não planejada de exploração mineral em área de proteção ambiental qualificada na Amazônia, como a Renca, ensejará grave lesão ao meio ambiente e, consequentemente, a toda humanidade”.
Renca
A Renca, instituída pelo Decreto nº 89.404, de 24 de fevereiro de 1984, tem aproximadamente 4,6 milhões de hectares, equivalente ao tamanho do Estado do Espírito Santo. Localizada nos Estados do Amapá e Pará, é um espaço territorial especialmente protegido e sua extinção vai causar grande impacto ao meio ambiente. (Com informações do MPF)