Fogo na Chapada ameaça pousada luxuosa de advogado do DF

Cresce a suspeita de que o atual incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros tenha sido de origem criminosa. Imagens feitas por bombeiros e brigadistas durante ação, realizada nesta quinta-feira (26/10), em foco de queimada fora do Parque Nacional, nas proximidades da Pousada Inácia, em Alto Paraíso (GO), revelam marcas suspeitas de pneu na vegetação rasteira do local, o que poderia comprovar a tese de que a degradação ambiental tem sido orquestrada. A hospedagem é uma das mais luxuosas da região.

“É de partir o coração saber dessa capacidade de um ser humano. São anos que estamos aqui protegendo, replantando e criando uma espécie de santuário natural dentro da Chapada para que criminosos tenham uma atitude do tipo. Eles merecem ser presos”, revolta-se a advogada Gabriela Alcoforado. Ela e o marido, Luis Carlos Alcoforado, são os proprietários da Pousada Inácia.

Segundo Gabriela, houve grande correria quando foi detectado o foco de incêndio, que chegou a cerca de 5km da propriedade. “Tivemos que mobilizar muitas pessoas para tentar conter as chamas. Já pensou se esse crime fosse durante a noite? Poderíamos ter um desfecho ainda pior”, afirma. Na madrugada de quarta-feira (26), o fogo chegou na área de outra pousada, próxima ao Vale da Lua, e queimou completamente um dos 15 bangalôs.

Para a ação desta quinta-feira (26), de acordo com moradores da região, pelo menos 40 pessoas foram envolvidas na operação para apagar o novo foco de incêndio. “Eram cerca de 15 bombeiros voluntários enviados pela Rede Contra o Fogo. Nós saímos chamando todos os vizinhos e tivemos ainda o apoio de mais de 10 funcionários da pousada. Conseguimos conter as chamas”, relata a moradora e gerente da Inácia, Bianca Carvalho.

Segundo informações do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), até a noite da última terça-feira (24/10), as chamas haviam consumido 64 mil hectares de Cerrado, o equivalente a 26% da unidade de conservação federal. Os danos motivaram iniciativas como a campanha SOS Chapada, mobilização nacional para arrecadar fundos destinados ao combate do incêndio e reflorestamento do Parque Nacional.

Representantes do ICMBio acusam fazendeiros da região de serem os responsáveis pela tragédia ecológica. Os ruralistas teriam ficado contrariados com a ampliação da unidade, ocorrida em julho, por força de uma portaria assinada pelo presidente da República, Michel Temer.

Combate às chamas
As operações de combate ao fogo dentro da reserva têm comando unificado, composto pelo ICMBio, Ibama e por militares do Corpo de Bombeiros de Goiás (CBMGO) e do Distrito Federal (CBMDF). São mais de 110 brigadistas e militares. Eles contam com o apoio de cinco aviões-tanque do ICMBio, helicópteros do Ibama, da Polícia Rodoviária Federal, do CBMGO e da Polícia Militar do DF.

Na terça (24), um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB) se juntou à frota. A aeronave decola de Anápolis (GO) com 12 mil litros de água. Foram cinco saídas programadas para esta quinta com destino ao parque da Chapada.

Os estragos causados pelo incêndio que devasta a Chapada serão sentidos por pelo menos uma década. Descontrolado, o fogo não destruiu somente a vegetação típica do cerrado – que se regenera mais rapidamente –, mas também avançou sobre as matas de galeria, aquelas situadas ao redor de rios e mais dependentes de umidade.

Confira fotos da Pousada Inácia, onde um fim de semana na hospedagem pode custar até R$ 5 mil