Em nova fase, mulheres lideram a agenda ambiental do governo federal
Com protagonismo femiminino nas questões ambientais, as ministras Marina Silva e Sonia Guajajara são inspiração para mulheres ambientalistas
atualizado
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Preconceitos machistas ainda são um desafio para a mulher ganhar espaço na luta ambiental. No entanto, com a troca de comando no governo federal, as mulheres passaram a ter mais destaque, em especial na defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente. Com a promessa de campanha de retomar a política sustentável, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convidou mulheres ativistas influentes para liderarem as principais pastas.
Em consequências dos desafios, Marina Silva (Rede) retornou ao Ministério do Meio Ambiente com a promessa de dar atenção ao controle da emergência climática, o desmatamento ilegal e o garimpo em terras protegidas.
Com o objetivo garantir os direitos aos povos originários, o presidente Lula criou o Ministério dos Povos Indígenas e convidou Sonia Guajajara (PSol) para assumir o cargo. Além disso, o governo federal nomeou para comandar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) a advogada Joenia Wapichana.
“O governo atual tem um discurso de preocupação ambiental, colocou como ministras mulheres que são reconhecidas por suas lutas pelo meio ambiente e direitos humanos“, declara a indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, mais conhecida como Neidinha Suruí. Entretanto, a ativista alerta sobre a posição do Congresso Nacional para impedir o avanço de políticas ambientais.
“No Congresso eleito, a maioria é dos que ajudaram o governo anterior [de Jair Bolsonaro (PL)] a cometer as barbaridades que estamos vendo, como aumento absurdo de queimadas, o genocídio dos Yanomamis e liberação de armas que só serviram e servem para matar o povo pobre do Brasil”, pontua Ivaneide Cardozo.
Inspiração
A presença de mulheres na liderança de pautas centrais na questão ambiental é orgulho e inspiração para a nova geração. Para a ativista do clima, jornalista e influenciadora baiana Alice Pataxó é a realização de um sonho ver nomes como o da Joenia Wapichana e Sonia Guajajara na liderança de pastas importantes para a defesa dos direitos dos povos indígenas.
“É a realização de um sonho ver que a nova gestão política tem esse comprometimento com a causa e também pensar no feminismo quando faz escolhas para as nossas representantes”, declara Alice Pataxó.
Para a ativista do clima e influenciadora, a ministra dos Povos Indígenas, tem apresentado um bom trabalho. “Ela tem atendido as populações indígenas, que têm necessidades nesse momento. E tem sido importante também para levar informação para ambos os lados. É uma construção que a gente está fazendo”, ressalta.
Nome com prestígio, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também foi muito bem recebida.
“A ministra Marina Silva é um dos melhores quadros desse governo”, opina a indigenista Ivaneide Cardozo. Ela destaca que a ministra tem coragem para enfrentar desmatadores e aqueles que cometem crimes ambientais. “O seu prestígio tem atraído para o Brasil o olhar de outros países que querem apoiar o meio ambiente”, afirma.
“Marina Silva sem dúvidas é um exemplo na nossa luta como ativista e também na relação política. Ela ganha destaque, agora, nas relações do meio ambiente, transformando o ministério para falar de mudanças climáticas em um outro âmbito”, destaca Alice Pataxó.
Desafios das mulheres no Meio Ambiente
Com inúmeros desafios dentro e fora das comunidades, as mulheres indígenas precisam superar desafios e mostrar que são capazes de assumir cargos de destaque nos governos e em debates sobre a garantia de direitos.
“Não a questão da representatividade, mas quando a gente fala disso a gente também pensa nas oportunidades. Porque muitas vezes somos nós as meninas e as mulheres indígenas que deixam as escolas, que têm filhos muito cedo e muitas vezes ficamos fora desse contexto, como se nós não existimos nesse debate, mas nós existimos e queremos levar adiante esse debate”, relata Alice Pataxó.
Além da disputa por espaço na política ambiental, as mulheres também devem superar as ameaças de morte e discursos de ódio pelo seu trabalho em defesa dos seus direitos. “Primeiro serem reconhecidas como protagonistas, e depois vencerem as ameaças de morte e ataques de ódio que vem dos que são contra os direitos humanos e o meio ambiente. Outra dificuldade é conseguir apoio para suas lutas”, destaca Neidinha Suruí.
Oportunidades
Com a presença de mulheres importantes nos ministérios dos Povos Indígenas e Meio Ambiente, além do comando da Funai, a ativista Alice Pataxó espera que mais oportunidades possam surgir para que jovens e meninas possam entrar na política ambiental e na luta pelos seus direitos.
“Eu penso que a gente está construindo uma coisa muito inteligente, muito surreal no momento, e esse é um espaço para a agente criar oportunidades para outras mulheres e outras meninas. Espero que não seja mais uma mulher lá, espero que sejam muitas”, ressalta Alice.
Apesar da presença das lideranças nos ministérios, a indigenista Ivaneide reforça que ainda falta a “implementação da agenda ambiental em parceria com a sociedade organizada” para ampliar a agenda ambiental brasileira.